Prólogo

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Ela fechou os olhos. A sensação de estar perto dele, com ele, crescia cada vez mais dentro dela. Já havia passado meses desde a súplica de, não Kylo Ren, mas Ben Solo à Rey. Mesmo com a morte de Snoke a força permanecia compartilhando suas emoções, uma vez ou outra a reprodução do homem na qual ela abandonou aparecia, porém nem uma palavra ou toque era trocada entre os dois. Embora Kylo quisesse dessesperadamente sentir o calor dela novamente, ele tinha total noção de que não era apropriado para o momento - talvez nunca mais fosse.

Rey apertou as pálpebras com força, negando a sensação de tê-lo perto depois de tanto tempo.

Ela desejava que alguém fosse capaz de ensina-la a bloquear Kylo Ren de sua mente e alma, mas temia que a única pessoa que pudesse ajuda-la tivesse morrido na ilha de Ahch-To. E segundo suas pesquisas, uma conexão de força era dificilmente quebrada, nem mesmo a morte conseguia separar seus espíritos condenados. Não. Ela não poderia ter sido conectada com alguém de mais agrado? Da resistência de preferência.

Kylo deu um passo em direção a ela, e Rey se encolheu com a aproximação dele. Embora ainda existisse uns bons 10 metros entre eles, ela o sentia ocupar o mesmo espaço. Anulando as leis da física.

 Tentando não fazer movimentos bruscos, com medo da fraca conexão se quebrar ou ela fugir, Kylo extinguiu todo o espaço que existia entre os dois. Queria vê-la de perto. Ver o que perdeu por tamanha ganância.

Ali.

Rey estremeceu com sua presença, temendo abrir os olhos e falhar consigo mesma, não resistindo em toca-lo. Por mais que fosse tudo que queria, não podia. Não mesmo. Ele, que jurou destrui-la e depois humilhou-se de joelhos no que restou da abandonada base rebelde, com os olhos mais solitários que ela já viu, não merecia nem mesmo o mais simples dos seus sentimentos.

─ Rey. ─ Sua voz rouca percorreu por toda área de descanso. Por um segundo, ele teve medo de que alguém além dela pudesse escutar, ─ por mais que improvável ─ mas o medo passou tão rápido quanto chegou, e ele foi deixando novamente com a preocupação de ser rejeitado por Rey. Fazia tempo que eles não se falavam, e Kylo sentia ela enojar sua voz. ─ O que houve?

Com o coração acelerado Rey tentou se acalmar. Sim, estavam nos aposentos de Rey, o último do corredor, e bem, com certeza ninguém sentiria sua falta por um bom tempo. Pois quase todos estavam na cidade Cawa e não voltariam tão cedo assim, mas não havia motivos para entrar em pânico. Então por que Rey sentia um medo abrasador se alastrar por todo seu corpo? Por que não conseguia mais ser corajosa como foi na base starkiller e quase partiu Kylo Ren ao meio? Por que ainda sentia que podia salva-lo?

Ela puxou todo o ar que cabia em seus pulmões, e usou toda coragem que restava em seu corpo para encarar aquele par de olhos obscuros e dizer:

─ Nada. Vá embora!

No princípio ele teve que prender a risada que estava prestes a passar por sua garganta; ela ainda não tinha percebido que ele podia compartilhar de seus pensamentos e presentir a mentira.

─ Eu sei que está com raiva de mim. ─ Kylo deixou que as palavras escapassem de sua boca trêmula. Não sentia mais graça, apenas uma dor inexplicável rodando o lado esquerdo do peito.

─ Raiva? De você? Não, eu sinto é pena! Pena por se esforçar tanto para ser mau. Pena por jurar me destruir, mas não aguentar ficar longe. Pena por esconder quem realmente é e por cobiçar algo que custará sua vida. ─ Um tom acusador de voz saiu conscientemente de Rey. Ela queria que ele soubesse o qual estúpido estava sendo e que sofresse com isso tanto quanto ela sofre. Embora ele não tenha ligado para nada além dela saber sobre suas inúteis palavras de raiva para Skywalker.

─ Você soube o que eu disse para Luke?

─ Eu senti a raiva em você. O ódio. Mas não pude distinguir se era de mim ou Mestre Luke.

Ele abaixou mais o rosto para fita-la melhor. Nossa. Havia esquecido o qual baixa Rey era.

─ Foi estupidez, eu não poderia odia-la. ─ Ele respondeu ameno ─ Ainda mantenho a proposta sobre construirmos uma nova ordem juntos. Eu sinto que você ficará ao meu lado quando essa hora chegar.

Era hora de fazer alguma coisa, poderia ficar ali congelada sobre tamanha petulância ou fazer alguma coisa, ou...

─ Por que continua chamando-me para o lado sombrio? ─ Rey soltou uma lufada de ar e cortou o contato visual com ele encarando a cama a sua esquerda. - Você é patético, um assassino, descontrolado, louco, um monstro...

Ele não soube controla-se, entendia que era uma ação arriscada e que corria o risco de afasta-la para sempre, mas não pode controlar o impulso de segurar a mão febril de Rey e leva-la ao seu rosto. Rey sentiu sua palma formigar com o toque inesperado do homem. O choque térmico de sua pele quente com a fria dele. A mistura de emoções. O contato humano... Como ele conseguia? Como ele podia ser tão errado e certo ao mesmo tempo? Tão obscuro e luminoso?

─ Eu pareço um monstro para você? ─ Kylo questionou, mais glacial que o clima lá fora, enquanto deitava a face na palma da garota. Esfregando seu rosto no calor da mão de Rey.

Ela levou um tempo para recuperar o fôlego e responder, mas antes mesmo que fosse capaz de abrir a boca pra falar a força levou Kylo Ren embora, como uma corrente de vento que carrega as folhas caídas do outono, deixando Rey sozinha no quarto com a solidão e o peso da resposta prestes a destruir toda barreira que ela levou meses criando.

─ Não.

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