I heard you found somebody else

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"Lembra das palavras que você me disse
'Me ame até o dia que eu morrer'?
Entreguei-me por completo
Porque você me fez acreditar que você era minha"

─ 5 Seconds of summer

As duas semanas que passou trancado na área de recuperação da rebelião renderam em pensamentos futurísticos, que levaram Kylo ao questionamento.  Porque um, ele não queria lutar pelas pessoas que visivelmente o odiavam. Dois, Rey e Leia eram a única razão dele não ter fugido e dizimando a maioria dos rebeldes. Três, ele precisava ganhar a batalha final para finalmente ter Rey como queria e isso solicitava mais do que ele se sentia capaz de cumprir. Mas, tudo estava próximo demais e decidido demais para que ele desse o braço a torcer. E, no entanto, os distúrbios na força tornaram-se fortes naquela semana. Algo instável e confuso. Enlouquecedor na maior parte do tempo. Embora a abstinência fosse terrível, ele era grato pelas visões de raios verdes e vermelhos sendo disparados pelo céu de Cawa. X-wing’s e Caças TIE sobrevoando em combate, e, soldados lutando contra stormtroopers na terra. Pois, assim ele tinha uma noção mínima do que estava próximo.

 Então ele a abraçou, fechou os olhos, e, deixou que a sensação de familiaridade o apossasse. Pois ali estava ela, e ele a amava. A força do toque de seus corpos pressionados em tormenta fazia com que Kylo sentisse uma ponta de dor no abdômen em que foi ferido. Mas, ele deixou que doesse. Deixou que ardesse. Deixou que ela aquecesse toda sua alma ao ponto de incendiá-la, e sim, ele podia ver toda a fumaça limpar suas inibições ao ponto fazê-lo esquecer de tudo que mais importava. Agora, ela era tudo que importava.

Rey resmungou entre o ardor conflituoso de um abraço inesperado, ainda absorta em seus devaneios mais profundos. A jovem moça ainda dormia de olhos abertos, e o Ben Solo afetuoso de nada ajudava. Mas seu abraço tampouco impediu-a. A garota ajeitou-se ao seu lado na cama, não tardando em cair no sono novamente, deixando-se fazer do enorme corpo do homem seu próprio travesseiro de penas. Reclamava em palavras emboladas, com os olhos apertadinhos contra a luz nascente da janela que vinha diretamente em seu rosto. Solo, que se envergonhava pela atitude, agora puxava seu lençol para cobri-la. Não era o melhor dos tecidos, ou a pele mais quente de animal, porém era o que tinha e isto era de longe melhor que o frio cortante da sala.

─ Ela está dormindo? ─ A voz veio de um canto qualquer, Ben não deu-se o trabalho de procurar e tirar os olhos dela tão indefesa sobre seu corpo, mas sabia que não era sua mãe ou um droid de protocolo tagarela como o tal C3-PO que seu avô ousou criar. Não sabia, no entanto, quem poderia ser. 

 Então. Sem respostas. A figura destruída de Poe Dameron avançou até o lado da cama onde Rey estava, assim sentando num banco próximo a ela e agarrando bem firme a mão que caia da cama. Solo, no mesmo instante lançou-o um olhar assassino, como se o rapaz tivesse feito algo terrível e agora corresse sérios riscos de vida, mas Poe sequer preocupou-se. Ben estava conectado a tantas máquinas que antes mesmo de levantar a mão em busca da força Dameron sacaria seu blaster ligeiramente e o mataria em apenas um golpe.

─ Eu não entendo. ─ Poe disse. O olhar cansado parecia estar através de Rey ou qualquer outra coisa ali presente, como se sonhasse desperto. Mas Kylo não se surpreendeu, de fato Poe Dameron estava acabado; Seus olhos entregavam uma tristeza absurda. Profundos, com olheiras e linhas de expressões. A barba de nada melhorava, toda cheia e seus cachos em estado crítico.

 Era como se sua juventude tivesse se esvaziado junto da companhia de Rey, e sua alegria irradiante desaparecido assim como seu senso. Pois lá estava ele, segurando a mão da mulher que não o pertencia e afrontando Kylo Ren. 

Um dia acreditou mesmo que dariam certo, pois os meses que passaram juntos foram de longe os melhores. Ainda podia ouvir a risada transcendente de Rey aquecer seu coração no frio cortante de Cawa, e visualizar a única vez que teve coragem de segurar a mão da garota ao acompanha-la até seus aposentos, e em como ela sorriu em resposta. Sim, aquele perfeito sorriso de covinhas marotas e sobrancelhas arqueadas que Dameron tanto adorava. Mal podia imaginar que na semana seguinte tudo mudaria, que ela ─ sem ele ainda saber ─ teria encontros através da força com seu maior inimigo, e pior, que estaria apaixonada por ele. Que ainda mais a frente seria destruído com a visão dela adormecida nos braços dele. 

Poe fechou as mãos em formato de concha envolta da dela, e aqueceu-a com sua respiração, sentindo o olhar de Kylo Ren ferver sobre ele a espera de uma resposta. Ou de sua deixa.

─ Eu juro que se ao menos uma única vez você machuca-la, eu o matarei com minhas próprias mãos e o garanto que é algo que eu desejo fazer agora.

─ Eu não vou. ─ Kylo respondeu, seus dedos passeavam pelo próprio braço. O incomodava Dameron estar ali, mas ele não retribuiu a ameaça, jurou a mãe que não faria. A visita de Poe era algo mais que aguardado por eles.

─ Sim, você vai. Porque é de sua natureza ferir qualquer um que esteja em sua volta. 

Kylo preferiu não responder. Também não sentiu raiva, ódio ou tristeza. Ele concordava. Não tem feito outra coisa desde que nasceu senão machucar quem o amava. 

─ E eu vou mata-lo quando fizer, exatamente como deveria estar fazendo agora. Você, junto da primeira ordem, matou milhares de pessoas que eu amava. Meu esquadrão, meus amigos, minha família... Todos. Você abusou de mim ao invadir minha mente e eu nunca vou perdoa-lo por isso. ─ O homem dizia em tom não muito além de um sussurro, mas toda sua raiva e magoa transbordava das palavras enquanto seus olhos enchiam-se de lágrimas. Poe levantou, deixou um beijo na testa de Rey que despertava e caminhou até a porta estendendo sua pulseira de identificação para o leitor, e então lançando-o o que seria o fim do diálogo, por assim dizer:

─ Eu lhe juro. Passe o resto de seus dias tentando da-la o que merece, mesmo sendo insuficiente, mesmo que você seja incapaz de fazer algo de bom e que ela... Que ela seja tudo aquilo que você jamais será. ─ Ele tocou o blaster na cintura, disposto a armar-se contra o homem, mas nada fez. 

E assim, com um sorriso triste para Rey que o observava pasma, Poe Dameron retirou-se da sala, perdido em pensamentos.

Perdido sem ela.

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