B - Brincadeira sem graça

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O ônibus parecia demorar mais do que o usual — mas talvez fosse só pela necessidade que Harry sentia de chegar rapidamente na escola.

Não por sede de aprender ou por querer ver seus amigos, mas para ir ao banheiro e usar outra coisa que não seja a manga de uma de suas blusas para tentar estancar o sangue.

Ele escuta risos baixos vindos de algum dos bancos atrás dele.

Quando Harry estava desesperado ao ponto de pular da janela e assustar a garota que estava ao seu lado, o ônibus chegou ao destino.

Ele não sabe de onde tirou forças para tal, porém pegou sua mochila e voltou a pressionar o pulso — segurando a barra da manga de uma de suas blusas com os dedos — sobre o nariz e saiu o mais depressa que pôde em direção ao banheiro.

Tinha adquirido a habilidade de passar pelas pessoas sem se esbarrar nelas depois de um tempo e teve sucesso na tentativa de encontrar um banheiro livre.

O espelho.

Como ele iria conseguir arrumar aquela bagunça em seu rosto se aquela merda não parava de olhá-lo?

Harry respira fundo antes de subir o olhar para o próprio reflexo.

Não tinham feito um grande estrago em seu rosto, foi mais pelo susto.

Delicadamente, para não causar nenhuma dor desnecessária, ele passa água pelo rosto, dando uma atenção especial à área que estava ferida.

Olhando para suas mãos, ele nota que manchou com um pouco de sangue duas blusas suas, o moletom velho e a de manga comprida mais larga.

Não era como se alguém realmente se importasse, mas deixar as manchas de sangue visíveis poderia trazer perguntas, perguntas que ele sempre tenta ao máximo evitar.

Com um aperto em seu peito, Harry tira o moletom, depois a outra blusa manchada e os guarda na mochila.

Ele se sentia exposto.

Todos iriam ver.

Uma lágrima escorreu por seu rosto.

Harry segura o que poderia virar um choro e tenta pensar que as aulas iriam passar rápido e logo ele estaria em seu quarto, deitado na cama e bem longe da escola.

¬

Durante as primeiras aulas, alguns papéis voavam de alguns cantos da sala e se prenderam em seus cachos.

Harry não entendia qual era a graça dessa brincadeira.

Fazem isso desde o quinto ano e nunca parece ficar velho para eles.

Outra bolinha o atingiu quando estava saindo da sala para o intervalo.

O recreio é um momento onde você se senta com seus amigos e relaxa um pouco antes de ter que voltar para a classe.

As pessoas costumam comer durante os intervalos também.

Harry não tinha amigos e não tinha fome.

Então ele passa discretamente por entre a manada de estudantes esfomeados, desvia de Louis que estava indo para a cantina e vai rapidamente para o banheiro perto da quadra, mas Liam estava saindo do mesmo com cara de poucos amigos.

Então seus passos se redirecionam para a biblioteca, lá ele não iria se sentir tentado a comprar comida ou comer em geral.

Harry decide ficar na biblioteca até o fim das aulas, ainda iria demorar muito para tirar todos os papeizinhos do cabelo e não estava afim de mais rodadas desse jogo idiota.

A bibliotecária não se importou dele ficar ali em um cantinho até o sinal tocar. Ele era tão silencioso que essa velha funcionária nem notou quando ele entrou pela grande porta de madeira e se sentou perto da janela.

Harry achava que a velha bibliotecária não gostava dele sem nenhum motivo aparente, sem saber que ela apenas tinha um grande problema de audição e muitos papéis para ler sobre sua mesinha.

Harry's DisorderOnde histórias criam vida. Descubra agora