C - Cada caloria importa

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Quando o sinal toca, Harry se levanta e anda rápido rápido até a porta. Queria pegar os corredores limpos para não correr nenhum risco.

A bibliotecária se assusta quando escuta a porta bater com força, não tinha percebido que havia um aluno ali.

Os corredores pareciam ter aumentado de tamanho por conta de sua pressa.

Ele não pegaria o ônibus para a volta, andar iria lhe fazer bem.

Queria fazer o máximo de exercícios que sua rotina permitiria.

Seu estômago estava doendo e ele já suava frio, mas quem se importa?

Talvez ele perdesse umas vinte e cinco calorias no caminho para casa.

Cada caloria importava.

Harry estava se sentindo péssimo por ter que expor seu corpo com apenas duas blusas pela rua por conta do ocorrido no ônibus mais cedo.

23 °C.

A temperatura do dia poderia ter diminuído, mas não era isso que parecia para Harry quando o Sol queimava seu couro cabeludo.

Só mais 2 quadras.

Quem visse aquela cena pensaria que ele estava com pressa para algum compromisso importante. Tinha algo sobre isso também.

Ele apertou o passo, com o objetivo de chegar em casa antes do seu irmão e conseguir arrumar a mesa para o almoço.

A responsabilidade de colocar a mesa para o almoço era dele. George comprava a comida no caminho da faculdade até sua casa e Anne — sua mãe — fazia o esforço de conseguir almoçar com os filhos.

Anne prezava fazer refeições com a família, queria manter a impressão de uma mãe presente.

Harry estava fugindo dessas refeições a alguns dias, mas naquele momento ele não achava que teria escapatória. Ele iria ter de se alimentar com o que quer que seu irmão tivesse comprado, o que geralmente era algo bastante gorduroso.

Quando chegou em sua casa, foi correndo para o quarto. Ele precisava trocar aquelas blusas molhadas de suor por outras limpas.

Parecia que ia dar tempo. Precisava dar tempo.

Mas George chegou exatamente quando ele estava descendo as escadas para arrumar a mesa e Anne chegou junto com ele.

Parece que seu irmão havia pegado carona com sua mãe hoje.

Desceu o mais depressa possível na expectativa de conseguir colocar, no mínimo, a toalha na mesa antes deles chegarem na cozinha.

Por sorte conseguiu colocar, se não toda, boa parte mesa, afinal era uma família de apenas três pessoas, portanto três pratos, três pares de talheres e três copos de vidro.

Nem deu tempo para verificar se tudo estava exatamente onde deveria estar, já que os outros dois entraram na cozinha falando sobre o que havia acontecido no dia deles.

Eles apenas falam um "oi" para Harry e voltaram a conversar entre eles enquanto comiam.

Ele achou que sua mãe iria perguntar alguma coisa sobre seu dia quando direcionou o olhar para ele, porém ela apenas perguntou:

— Harry querido, seu boletim já saiu? — Disse em um tom desconfiado. Harry sabia que ela esperava resultados ruins vindos dele.

— Não, mãe. Os testes ainda não acabaram e os professores ainda tem alguns trabalhos valendo nota para passar para a turma. Acho que daqui a umas três semanas já terei ele comigo, ou eles enviarão pelo correio como da última vez. — Ele fala num tom calmo, ao contrário do escandaloso que os outros dois estavam usando antes de Anne se dirigir a ele.

Depois disso mais nada era para Harry.

O almoço seguiu como sempre.

Ele comeu um pouco do macarrão e muitas batatas fritas, bebeu um pouco do suco de laranja de caixinha.

Mesmo não tendo comigo muito, seu corpo já apresentava uma melhora na tontura e ele parecia raciocinar melhor.

Com o fim da refeição, a louça era dele, seu irmão tinha que descansar para depois ir aos treinos diários do time da faculdade — a qual ele ganhou bolsa completa por boas notas e seu ótimo desempenho esportivo (não que sua mãe não pudesse pagar uma faculdade para ele).

Anne sai apressada para o trabalho. Uma empresa de grande status da qual ela foi uma das fundadoras, juntamente com algumas amigas.

Harry se repreende e sofre mentalmente pelo tanto de comida que ingeriu  enquanto tira a mesa, guarda as sobras e tira toda a sujeira dos pratos.

Ele se sentia pesado da forma mais literal possível. Sentia seu estômago cheio.

Mas ele não podia colocar tudo para fora como sempre, ele sabia que se fizesse isso naquela hora iria para o hospital e não quer causar esse transtorno para a família.

Mais tarde, quando George fosse para o treino, ele iria fazer seu próprio treino, para tentar amenizar o almoço de alguma forma.

Três horas seguidas de exercícios e depois uma caminhada de quarenta minutos pelo bairro.

Harry's DisorderOnde histórias criam vida. Descubra agora