Eu sou apenas um humano

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Não consigo dormir em hospitais. Descobri isso naquele dia, Ayana estava respirando com ajuda de aparelhos até que os médicos conseguissem tirar toda a tetrodotoxina do organismo dela. Jin estava dormindo, sedado. Ele teve algumas queimaduras nas pernas. Não poder ficar com eles nos quartos estava me deixando angustiada. Andei pela área livre do hospital várias vezes para controlar a ansiedade.

Os homens nas vans haviam levado Kei e eu estava ali, sozinha. Não tinha para onde voltar, dei sorte que o Jin estava com as nossas coisas no carro e eu consegui trocar de roupa. Nunca me imaginei de moletom, tênis e coque malfeito andando por um hospital na China torcendo para que pessoas que eu mal conheço não morressem.

Andei pela lanchonete do hospital e me sentei em um banco, o dia estava amanhecendo, e quanto mais o tempo passava, mas ansiedade eu sentia. Estava me preparando para dar mais uma volta pelo hospital quando um senhor se sentou ao meu lado. Ele falava inglês com um sotaque chinês, demorei para me recordar quem era o homem:

- Alice?

- Oi, desculpa, mas não me lembro do senhor.

- Hiroshi Yamagoshe.

Olhei assustada para o homem, porém ele me olhava com um olhar gentil e calmo, atrás de nós dois haviam dois homens vestidos de preto, tentei ficar calma, ele não parecia querer me fazer mal, mas os dois caras mal encarados atrás de nós faziam o contraste deste sentimento. O senhor Hiroshi pareceu ler meus pensamentos quando disse:

- Me desculpe, um homem como eu precisa andar protegido.

- Tudo bem. – respondi menos tensa – Ayana vai ficar bem?

- Já está fora de perigo. Em algumas horas os médicos vão tirar os sedativos e ela vai poder respirar sozinha.

- Eu tentei tanto fazê-la desistir dessa ideia. – disse aflita encarando o senhor Yamagoshe – Mas que garota teimosa essa sua filha!

- Só existem duas coisas mais certas no universo, uma é o sol nascer e se pôr e a outra é que não existe a menor possibilidade de alguém impedir Ayana de fazer o que ela quer.

Sorri desviando o olhar e completei:

- Neste ponto somos muito parecidas.

- Ayana sempre teve um gênio difícil. Só a irmã a entendia e me surpreendi quando ela me disse para invadir o galpão e garantir a sua segurança. Minha filha nunca teve muitos amigos.

- Ela me disse. E de certa forma eu sei lidar bem com gente assim. Acho que foi por causa disso que nos tivemos essa sintonia.

- Você era a noiva do Kei, não é?

- Sim.

- Não sei se te falaram sobre as regras de território, mas tentar matar um membro da minha família no meu território é uma falta grave. Kei vai ser punido severamente por essa atitude.

- Kei já fez mal para tanta gente. Até para mim. Não sei o que dizer nem o que sentir. Só quero que Ayana e Jin fiquem bem para que eu possa me despedir deles e voltar para casa.

- Isso é bom. Vou garantir que Xangai seja um lugar seguro para você até o dia que embarcar para o seu país.

- Obrigada.

- Não foi só por causa disso que eu vim falar com você.

O homem me olhou aflito, parecia bem melancólico e não entendi o porque daquilo até que então ele disse algo que mudaria toda aquela situação:

- Peço perdão. Perdão por tudo que a minha filha fez para você.

- Eu aceitei ajudar a Ayana no galpão. Então eu tenho que me desculpar por ter parado de pedir para ela desistir dessa ideia tola.

Akai Ito, o fio vermelho do destino.Where stories live. Discover now