Nora
Apago a linha que tinha feito e solto um suspiro frustrado, peço a calum que ligue a lanterna do seu telemóvel e chamo-me todos os nomes possíveis por ter escolhido este maldito parque de estacionamento sem luz. Tento passar a beleza do moreno à minha frente para papel mas parece que cada linha que desenho não corresponde à realidade, por muito que tente não consigo transmitir a calma que os olhos de calum me trazem.
-porra.- mumuro.
-desculpa, é porque eu não páro quieto não é?- calum desperta-me do meu transe, fito-o e percebo que ele está corado, as suas pernas estão cruzadas no chão e os seus braços no meio das mesmas, os seus olhos fixam o chão sem nunca se moverem.
-não, eu é que não te estou a conseguir desenhar, acho que és bonito de mais para transmitir essa beleza no papel.- as palavras escapam-me por entre os lábios e sinto o meu rosto a corar quando me apercebo do que tinha confessado.
-achas que sou bonito?- a sua voz soa curiosa e ao mesmo tempo insegura, observo-o confusa.
-sim, mas este tipo de elogios não devem ser novos para ti.- forço um sorriso e o moreno apenas encolhe os ombros, todas as raparigas com quem me cruzo falam do moreno e do quão bonito ele é.
-na verdade não são, mas estou habituado a recebe-los sempre das mesmas pessoas, não esperava um vindo de ti.- os seus olhos continuam fixados no chão, coloco o meu caderno ao meu lado juntamente com o lápis e o meu estojo e levanto-me, dou passos pequenos até calum e ocupo o lugar vazio ao seu lado.
-tu achas que sou má pessoa ou algo do género?- pergunto, os seus olhos encontram os meus, um pequeno sorriso enfeita os seus lábios.
-não, só que tu não és pessoa de elogiar alguém, seja quem for.- surpreendo-me com esta afirmação, dou um pequeno suspiro e fito o teto do parque de estacionamento.
-na verdade eu elogio bastante as pessoas, mas faço-o na minha cabeça, parece que quando o digo em voz alta soa mais real, e acabo por me sentir estúpida por ter falado.- confesso, tento decorar o teto do parque de estacionamento, que estava bastante sujo e marcado de óleo, apercebi-me agora que são visíveis alguns canos e pergunto-me se isso é seguro.
-oh, não sabia que pensavas assim tanto, ou melhor, que repensavas assim tanto as tuas ações.- rio-me com a afirmação de calum e volto a observar os seus olhos castanhos, apesar de estar escuro consigo ver o brilho tão característico do rapaz, um pequeno sorriso adorna os meus lábios e encosto a cabeça ao seu ombro.
-a verdade é que penso, às vezes até demasiado, não me faz bem, a minha mãe sempre disse para desligar o cérebro e ouvir o coração. - sorrio ao lembrar-me das nossas conversas e agarro na mão de calum sem nunca desviar o olhar do teto- mas nunca o consegui fazer, quer dizer, não é que não consiga, apenas tenho medo de o fazer.- confesso, não sei de onde veio toda esta coragem para abrir o meu coração para o moreno, talvez seja a estúpida paixão que tenha por ele a consumir o meu corpo, ou talvez eu é que tenha guardado isto tudo durante muito tempo e precisava de desabafar.
-eu acho que a tua mãe tem razão, devias desligar o cérebro e ouvir o coração.- o moreno entrelaça os nossos dedos e beija-me a testa- as coisas ficam tão mais fáceis quando és capaz de assumir o que sentes, assim se tiveres qualquer esperança vais ter uma resposta.- não evito em pensar que se calhar ele possa gostar de mim, contudo não lhe quero perguntar, talvez eu tenha medo de descobrir se a paixão é recíproca porque parte de mim gosta do facto de existir uma ínfima possibilidade de ser correspondido.
-acho que não precisas de me desenhar mais, pelo menos não por hoje.- só agora reparei que o moreno tinha o meu caderno na mão, o desenho está meio acabado, mal ele sabe que este é um dos muitos desenhos inacabados dele, que tinha começado à alguns meses, de todos os que tinha nas páginas do meu caderno, este era, possivelmente, o que estava melhor, mas mesmo com o rapaz à minha frente, sinto que o desenho não lhe faz justiça
-sim, acho que é melhor continuar amanhã, sinto-me exausta.- confesso, nenhum de nós se move e pergunto-me que horas são.
-calum, que horas são?- o moreno agarra no telemóvel e desbloqueia-o, consigo observar o seu ecrã de bloqueio, vejo que é uma foto dele com ashton, que fofinhos, observo o relógio e os dígitos "4:20" aparecem no ecrã, o moreno volta a bloquear o telemóvel e pousa-o ao seu lado.
-eu acho que devia ir para casa.- o moreno acaba com o silêncio que se tinha instalado, levanto-me do chão sujo e sacudo os calções.
-sim, também tenho de ir, amanhã é o ultimo dia de aulas e se não me deitar e acordar cedo o Ashton vai matar-me.- o moreno estica a sua mão e ajudo-o a levantar, ele repete o meu movimento de sacudir e eu agarro na minha mochila.
-vais a pé para casa?- pergunta-me, anuo.
-eu levo-te no meu carro, não quero que andes sozinha na rua a esta hora.- aconcheco a mochila nas costas e sigo o moreno para fora do edificio.
Caminho lado a lado com calum, os seus passos parecem menos apressados do que o normal, a sua mão não larga a minha e isso não me importa, como o Ashton e o Calum são amigos à anos o moreno tornou-se um irmão para mim, e desde pequena que tenho o habito de lhe dar a mão, mas apenas à alguns anos é que comecei a ter esta paixoneta, que não é tão pequena assim, o que tornou este toque físico mais assustador para mim.
Se pudesse escolher nunca teria começado a gostar do calum, sei que ele nunca iria olhar para mim de outra forma sem ser como uma irmã e para ser honesta, não me importo.
Entro no lugar do passageiro, calum já se encontra com as mãos no volante e o cinto posto, retiro a mochila e coloco-a aos meus pés encosto a cabeça ao banco e sinto o carro a arrancar.-calum, não achas que é tarde de mais para conduzires até casa?- pergunto mal o carro pára em frente a minha casa, apesar de calum passar a vida em nossa casa, a sua era do outro lado da cidade e ainda eram um quantos quilómetros, não me ia sentir bem ao saber que ele poderia ter um acidente por falta de descanso.
-eh, eu acho que me aguento.- responde, observo o moreno com cuidado, a sua expressão é de um puro cansaço, e as olheiras que acompanham os seus olhos não enganam ninguém, obrigo o moreno a desligar o carro e arrasto-o para dentro de minha casa.
-vais ficar a dormir no sófa, depois podes conduzir até casa, mas quero que descanses primeiro, tenho medo que te aconteça alguma coisa durante o caminho.
-não posso dormir no sófa! o Ashton vai ver-me e depois vai perguntar porque é que eu dormi aqui!- o moreno sussurra em pânico, reviro os olhos frustrada.
-okay, então podes dormir no meu quarto comigo, o que achas?

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3AM || cth
Fiksi Remaja" [...] Eu não vejo as coisas assim, muito pelo contrário, acho que cada pessoa é especial à sua maneira, que cada um de nós toca em alguém, seja de forma positiva ou não. -Okay, e o nosso propósito? O meu propósito? Qual é?- pergunto, sento-me para...