Nora
Observo a lápide de pedra à minha frente com o nome da minha mãe cravado, retiro uma garrafa de água da minha mochila e rego a pequena rosa vermelha que tinha posto à sua frente ontem à noite, sento-me e observo a pedra, como se esta fosse a minha mãe.
-olá, como é que estás?- pergunto. - sabes, tenho novidades para ti! lembraste de eu te ter dito que tinha uma crush enorme no calum? bem, ele pediu-me para eu o desenhar todos os dias às três da manhã, sim eu sei que devia ter um horário melhor, o ashton esta sempre a repreender-me por causa disso, mas para te ser sincera não ia dormir de qualquer maneira. As insónias continuam, mesmo seguindo os teus conselhos não consigo dormir, quem me dera que estivesses aqui para me dar novos conselhos.- deito-me ao lado da campa da minha mãe e fico calada a observar o céu.
-O Ashton tem saudades tuas, mas não quer admitir, tu sabes como ele é orgulhoso -solto um pequeno riso- ele sabe que eu venho cá todas as noites, presumo que seja por isso que ele não me proíbe de sair de casa, talvez vir aqui falar contigo seja a minha maneira de lídar com a tua morte, ou talvez esteja a ficar maluca. Seja qual for a resposta, eu sei que gosto de vir aqui falar contigo, lembra-me das nossas conversas até às duas da manhã, engraçado como falávamos de tudo e de nada ao mesmo tempo.- sorrio, fecho os olhos e sinto um enorme cansaço a preencher o meu corpo, sinto-me a adormecer lentamente.
A noite está silenciosa, só se ouve o vento a passear por entre as árvores, oiço alguns pássaros aqui e ali e quando abro os olhos vejo uma luz ligada, dos postes de luz, retiro o telemóvel do bolso e vejo que são 2:57, wow não estava à espera de adormecer, levantei-me e despedi-me da minha mãe, ou do que restava dela, coloquei a minha mochila às costas e comecei a caminhar até à porta principal do cemitério.
Caminho em passos largos até ao parque de estacionamento do centro comercial, surpeendo-me ao ver o vulto de calum encostado a um poste, ele costuma chegar sempre horas atrasado, e estava pronta para passar uma hora a decorar cada canto do estacionamento.
-olá!- o moreno saúda num sussuro, a sua postura compõem-se e ele aproxima o seu corpo do meu envolvendo o meu num abraço minutos depois.
-olá, desculpa o atraso mas adormeci.- o rapaz olha-me confuso.
-pensava que não conseguias dormir.
-sim, normalmente não consigo, mas adormeci ao pé da minha mãe,por isso consegui dormir.- respondi, o seu rosto fica ainda mais confuso e este puxa-me para ocupar o lugar no chão ao seu lado.
-como assim? Nora, acho que esta notícia não é nova para ti mas a tua mãe morreu num incêndio à uns meses atrás.- o rapaz agarra a minha mão, as temperaturas dos nossos corpos chocam, o meu corpo está quente, enquanto que o dele está completamente gelado, sinto a sua mão a aquecer e a minha a arrefecer devido à diferença.
-eu sei, é que...- encaro o chão e brinco com os anéis de calum sem nunca o observar.
-se quiseres podes contar, se não te sentires confortável não precisas de contar.- o moreno sussura ao meu ouvido, a sua respiração bate no meu pescoço o que me dá uma enorme vontade de me sentar no meio das suas pernas e envolver o seu corpo num abraço enorme numa tentativa de o aquecer.
-é que eu vou todas as noites ao cemitério falar com a minha mãe, não consigo passar uma noite sem o fazer, é estúpido mas passei a vida toda com ela, não consigo simplesmente desligar-me da relação que tínhamos.- sussuro, pela primeira vez sinto uma lágrima a cair dos meus olhos. Durante o processo de lidar com a morte da minha mãe proibi-me de chorar, o Ashton estava de rastos e senti que tinha que o ajudar, e não o ia conseguir fazer se estivesse destroçada por dentro, é engraçado como ele ficou bem, mas eu contínuo completamente destroçada, como se parte de mim nunca fosse capaz de recuperar.
-Nora...- sinto o moreno a colar os nossos corpos num abraço, mais lágrimas caem dos meus olhos e com elas vários soluços também, os enormes braços do rapaz rodeiam o meu tronco e sinto uma segurança que só sentia ao lado da minha mãe, encosto o meu rosto ao seu pescoço e tento acalmar-me.
-Desculpa.-mumuro ainda contra o seu pescoço, o rapaz deposita um beijo na minha cabeça e encosta mais os nossos corpos.
-Não peças desculpa por sentires coisas Nora, és humana, sentir é o que fazemos, mesmo que não o queiramos fazer.

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3AM || cth
Fiksyen Remaja" [...] Eu não vejo as coisas assim, muito pelo contrário, acho que cada pessoa é especial à sua maneira, que cada um de nós toca em alguém, seja de forma positiva ou não. -Okay, e o nosso propósito? O meu propósito? Qual é?- pergunto, sento-me para...