O lago

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Quando acordo já é de manhã. Troquei de turno com Ryler durante a noite. Agora ele está sentado na porta da cornucópia, levanto-me e sento de frente para ele, no outro lado da porta.
- Está tudo bem? - pergunto.
- Aqui sim, mas ouvi mas 2 canhões depois que você dormiu - ele diz serio balançando uma maçã entre as mãos
- Você sabe quem é? - pergunto, mesmo não querendo mas sei que minha intenção era saber se Lanc está vivo.
- Não - ele responde duramente - só sei que não era os carreiristas.
- Acho que devíamos adentrar a floresta - digo
- E deixar o acampamento vazio? - ele pergunta.
- Ficar na cornucópia será perigoso - digo - todos saberão onde estamos, e nos mataram.
- E pra onde você sugere que vamos? - ele pergunta.
- Pra dentro da floresta - digo.
- Isso sim é loucura - ele diz
- Conheço essa arena com a palma da minha mão - digo
- É impossível conhecer uma arena - ele diz serio
- É a arena dos meus pais - digo - eu tenho certeza.
- Como? - ele pergunta.
- Observe - digo - o designer da cornucópia é igual. A floresta é igual. O lago é igual. E sei que tem os mesmos desafios.
- Tem certeza? - ele pergunta, e eu aceno em positivo com a cabeça - Tudo bem, então pra onde vamos?
- Pro oeste - digo - pegaremos os últimos raios de sol e ainda teremos a vantagem do lago.
- Lago? - ele diz como se não soubesse.
- O primeiro beijo da minha mãe foi naquele lago - digo
- O lago onde seus pais se pegaram? - ele diz rindo
- Eles não se pegaram - digo zangada, odeio que falem mal dos meus pais.
- Quando vamos? - ele pergunta
- Quanto antes melhor - digo
Seguimos pela floresta levando o que restou de comida e mochilas com cordas, armas, garrafas com água e colchonetes. Vamos rumo ao Oeste, seguindo o sol. Logo chegamos ao lago que eu havia visto zilhões de vezes em vídeos.
- É como estar num sonho - digo
- Acho que nossos sonhos são diferentes - diz Ryler pondo as coisas no chão - verdade, já havia me esquecido que você é rica e não precisa de coisas para sobreviver, por isso seu sonho é tão fútil.
- Esse foi o lugar onde minha mãe e meu pai se beijaram pela primeira vez - digo - isso é memorável.
- Você sabe onde foi seu primeiro beijo? - ele me pergunta com desdém.
- Sei, mas prometi que não falaria sobre isso - digo me lembrando do meu primeiro beijo, que foi com Finnick quando eu tinha 9 anos e ele 11. Foi um dos momentos mais engraçado da minha vida, Finnick me deu um selinho e depois disse que se eu contasse pra alguém ele me mataria.
- Foi com Jace? - ele pergunta
- Não - digo arrumando as armas sobre a minha roupa.
- E como foi? - ele pergunta.
- Foi o que? - pergunto me virando pra ele
- Seu primeiro beijo com Jace? - Ele pergunta meio desconfortável.
- Foi incrível - digo.
- Você se lembra? - ele pergunta
- Nunca vou me esquecer - digo - Ele havia acabado de sair da arena, estamos na festa de coroação, ele disse que estava feliz por que moraria perto de mim, ai chegamos perto um do outro e ele me beijou, me beijou de verdade. E a partir desse momento eu soube que o amava.
- Legal - ele diz, percebo ironia na sua voz mas ignoro.
Arrumo nosso acampamento contra animais e contra pessoas. Como um pouco de sopa e sento-me em um dos colchonetes. Ryler senta ao meu lado e pega a minha mão, fico receosa quanto a tira-la dele, já que não preciso de mais um inimigo na arena. Ele me puxa e me beija, em um impulso me afasto. O encaro por um tempo e ele desvia o olhar. Entro dentro da caverna e me deito com uma faca ao lado, logo pego no sono.
Acordo e já está escurecendo. Saio da caverna e vejo Ryler sentado em uma pedra fazendo uma ponta em um pedaço de madeira com uma faca. Sorrio para ele, mas ele me ignora.
- Me desculpe Ryler, mas não posso consentir - digo - Eu amo Jace, e vou me casar com ele.
- Não me importa o que você vai fazer quando sair - ele diz ainda fazendo a ponta - eu estarei morto mesmo.
- Eu amo Jace não posso traí-lo - digo
- Mira, esqueça do que aconteceu, foi uma besteira minha. Não vai se repetir - ele diz ainda serio.
O hino toca e as imagens começam a aparecer no céu. O menino do 3 morreu, a menina do 7 e o menino do 10 também. Agora sobram 10 pessoas, 11 contando com Ryler, um pequeno numero se observar que ontem eram 24.
Entro do outro lado do lago e me banho, tiro toda a sujeira que posso com as mãos. Ryler não invade minha privacidade, mais sei que tem câmeras me olhando. Mas não me importo, tiro o macacão sujo e o lavo. Fico só de calcinha e sutiã, e esfrego o macacão até que o caldo escuro pare de escorrer dele. Como está escuro não consigo ver a uma distancia muito grande mais imagino que ninguém esteja perto. Me visto com o macacão ainda molhado e solto a trança do meu cabelo, deixo-o solto.
Chego perto da onde está Ryler. Ele tenta acender uma fogueira.
- Se eu fosse você não faria isso tento um grupo de carreirista em maior número - digo
- Mas vai ficar frio - ele diz
Me ajoelho ao lado dele e pego a Madeira de sua mão esfrego uma na outra e logo uma brasa nasce.
- Pegue alguns gravetos secos, por favor - peço
Ele chega rapidamente com algumas galhetas finas e logo o fogo se encorpar.
- Pegue algumas folhas secas - digo
Ele traz as folhas e lentamente eu a jogo no fogo aumentando sua eficiência.
- Será muito difícil eles verem a fogueira a noite - digo - mas não impossível.
- Teremos então de reforçar a guarda - diz Ryler.
- E temos de ter um plano de fuga - digo - sabemos que carreiristas andam por ai a noite a procura de "presas", temos de estar preparados para nos proteger durante a noite e atacar durante o dia.
- Tudo bem - ele diz - acho um bom plano. Mas quando nós vamos dormir?
- Podemos revezar. Se quiser pode dormir primeiro agora, fico de guarda. - digo
- Não, estou bem - ele diz - se quiser descansar pode ir.
- Também não estou com sono - digo.
- Tenho barras de cereal na mochila, você quer? - ele me pergunta
- Não estou com fome, obrigado - digo, porém estou faminta.
Sento-me encostada na pedra da caverna e tiro o sangue seco das flechas e das facas. Um paraquedas caí e eu o pego, e vejo que é maior que o ultimo que recebi. Abro-o e dentro há uma coberta, retiro de dentro do recipiente e a estico, eu conheço essa coberta, era a meu cobertozinho de quando era pequena, em uma das pontas há um bilhete, eu o puxo.
"Eu não tinha ninguém que amava no mundo, então nada que Snow fizesse me afetava. Agora ele quer e pode me machucar, mas acredite se ele fizer mal a um único fio de cabelo seu eu o mato.
Ps: Quando sair iremos botar fogo em alguns jardins.
Te amo muito
Jojo"
Abro um sorriso e aperto o cobertor, o calor dele aquece meu corpo instantaneamente, sinto o cheiro de Jojo e de Peeta. Sinto tanto a falta deles, sinto falta do meu irmão.
- Eu te amo mais, Jojo - digo ao céu novamente na esperança da câmera me filmar - e você também Peeta.
Vejo que Ryler me encara como se eu fosse maluca.
- Acredita que eles te vêem? - ele me pergunta
- Eu nunca deixei de acreditar - digo
- Que eles te vêem ? - ele me pergunta.
- Que acreditam em mim - digo ainda encarando o céu
- Você acredita que eles acreditam em você - ele diz - Você é complicada
- Talvez - digo em meio a um sorriso
Ouço um barulho da floresta, pelos galhos quebrando e respiração ofegante algo está fugindo. Tenho meus palpites que é um tributo.
- Pegue seu tridente - digo para Ryler enquanto ponho uma flecha no arco.
Rapidamente eu e Ryler estamos em posição de ataque. Um vulto corre pela floresta, com certeza é humano. Ele esta correndo, então miro minha flecha em seu pé e atiro, a pessoa cai
- Vamos - digo indo ao corpo derrubado.
- Mira ele estava correndo de alguma coisa - ele diz segurando meu ombro
- Então prepare-se para contra atacar - digo seguindo rumo ao vulto.
Chego e vejo que é um garoto,mas não o reconheço no escuro.
- Você consegue puxa-lo sozinho? - pergunto a Ryler - eu monto guarda.
- Tudo bem - ele diz
Preparo a flecha e Ryler agarra os ombros do menino, que não falou uma sequer palavra, Ryler o arrasta até o acampamento. Quando chegamos me certifico que estamos a sós.
Sobre a luz da fogueira vejo o rosto do tributo. É o garoto do 2. Ele é loiro com olhos tão azuis quanto o meu.
- Você tava fugindo do que? - pergunta Ryler
O menino ofega mas não responde. Olho para Ryler e ele me encara. A flecha no pé dele deve estar doendo. Eu a puxo. Ele solta um grito abafado.
- Do que você estava fugindo? - pergunto, e ele ainda se cala - Fale - grito.
- Dos restantes dos carreiristas -ele diz ainda ofegante - eles estão se matando entre si
- E um do 2 fugindo, isso é raro - digo
- Seu namorado é do 2, pra sua informação - ele diz exibindo um sorriso malicioso, que eu não entendo
- Eu sei, mas ele com certeza é melhor do que você - digo - ele não fugiu, ele ganhou
- Quem diria. Eu vou ser morto por Mira Mellark, que honra - ele diz exibindo o mesmo sorriso
- Poupe-me - digo, e me viro hoje não estou afim de matar ninguém, Ryler pode fazer isso
- Mira - sinto a mão de Ryler no meu ombro - vamos mata-lo
- Talvez mais tarde - digo - ele está com o pé machucado, não vai muito longe. E se for, vai morrer de infecção
- Nossa seu otimismo me comove - ele diz e ri, eu rio junto
- Puxe-o para perto do lago, mas longe das armas - digo - Vou dormir, boa noite Ryler
- Pode deixar, boa noite Mira - ele diz e se vira
Vou rumo a caverna junto uns 3 colchonetes pra tentar fazer uma cama decente, faço a mochila de travesseiro e deixo meu arco preparado ao meu lado, pego a coberta que Jojo me mandou e me cubro logo estou dormindo.

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