Capítulo Quatorze

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∞ ∞ ∞

- Aquele garoto não é o que saiu do táxi com você?

- Hã...? Ah, sim, sim - digo, engolindo seco.

- O que você acha de irmos dançar? Aceita dançar comigo, madame? - ela diz, estendendo sua mão.

Começo a rir daquela encenação.

- Aceito, nobre cavalheiro - digo, pegando a mão delicada dela.

Começamos a dançar no meio da pista de dança - eu desajeitadamente e ela graciosamente - até Murilo chegar perto, dizendo:

- Ei! Você está bem, estava te procurando... Ah, oi Wendy

- Oi - ela diz, tímida. - Murilo está te acompanhando?

- Não exatamente.

- Você tá linda hoje - ele diz, sorrindo para ela.

- Estou vendo que estou sobrando. Até mais - digo, rindo e me afastando.

Em meio essa semana, eu não soube me dizer se estava gostando mais do que devia do Murilo - mais do que amigo. Murilo era simpático e gentil, além de ser extremamente gato... e parecia que ele estava a fim de mim. Hoje pude perceber que eu definitivamente não gosto dele, não como outra coisa além de amigo e que ele iria pegar qualquer garota gata que aparecesse.

Pela primeira vez, percebi que eu não devo fazer algo que não gosto para os outros gostarem de mim: eles têm que gostar pelo que eu sou. Eu sou uma garota BV... ou era, até uma hora atrás, que não gosta de música alta demais e nem gente bêbada, e eu não tenho que ficar aturando essas coisas. Eu só tenho que encontrar o pessoal da minha antiga escola pra dizer que os perdôo. Esse é o meu mais novo desejo. Não posso continuar assim. De que adiantaria voltar só para me vingar? Nada! Poxa, eu só mostraria a minha imaturidade e o quanto tudo ainda me afeta. É por isso, que eu os perdôo e quero me reinventar.
Mas vou fazer isso no meu tempo. No tempo que Ele reservou pra mim. Além disso, acho que fiz uma amiga.

Ao encontrar a saída, corro para um lugar afastado. Vou esperar até meia noite, que foi a hora que combinei com Mike.

Sem eu perceber, lágrimas começam a rolar pelo meu rosto.

- Você está bem? - era Will.

- O quê? Hã... estou sim - digo, enxugando elas e me obrigando a parar de chorar.

- Aconteceu alguma coisa ali dentro?

- N-não. Veio pra balada?

- Não. Eu odeio essas coisas.

- Você não estava indo a uma festa naquele dia?

- Estava, mas era pra assustar alguém. É divertido.

- Só pode estar zoando.

Depois dessa frase, ele senta perto de mim e ficamos em silêncio por alguns minutos.

- Sabe - digo, quebrando o silêncio -, eu prometi a mim mesma que nunca mais choraria.

- Por quê?

- Sei lá. Porque chorar é um sinal de que somos fracos.

- Quem te disse isso? Essa pessoa está absolutamente errada! Chorar de jeito maneira é algum sinal de fraqueza. Chorar é saudável. É como se você dissesse que sorrir é fraqueza... O choro é algo essencial. Não dá pra ser feliz o tempo inteiro e não seria saudável se desse. Às vezes, a gente apenas tem que saber sentir.

O efeito filosófico da frase que ele disse seria maior se o meu estômago não tivesse roncado de fome cinco segundos depois.

- Acho que você está com fome.

- Eu também acho.

- Tem uma lanchonete aqui perto, quer ir?

- Que horas são?

- Onze e meia - ele diz, verificando o relógio.

- Não podemos demorar.

- Por quê?

- Preciso estar aqui meia noite pra ir embora.

- Te dou carona, se quiser.

- Não precisa, obrigada.

- Mas não é seguro ficar aqui fora, de noite.

- Não precisa se preocupar. Vamos?

Ele se levanta e me oferece ajuda para levantar. Sabe, no fim das contas ele não é tão babaca assim.

• • •

- Agora percebo que a diretora da escola de princesas estava certo.

- Como assim?

- Ninguém pode fazer a gente se sentir inferior, se a gente não deixar.

- Que escola de princesas é essa? - ele diz, comendo um pedaço de seu sanduíche.

- Da Barbie.

- Você vê Barbie? - ele diz, fazendo cara feia.

- Sim vejo e acho que é muito preconceito alguém fazer essa cara feia pro gosto da outra pessoa.

- Ah, ok senhorita que vê Barbie.

- Não tem nada de errado em ver Barbie - digo, tomando um pouco do MilkShake.

O resto do tempo na lanchonete foi em silêncio, até a moça trazer a conta.

- Vamos rachar - ele disse.

- Quê? O seu saiu mais caro que o meu!

- Mas você ainda estaria com fome se não fosse por mim.

- Tá bom, tá bom. Sabia que você não ia ser gentil de graça.

- O mundo é dos espertos.

Caminhamos até a balada em silêncio. Acho que o silêncio também une pessoas, assim como uma conversa, e que os amigos de verdade ficam em silêncio com a gente quando a gente precisa.

- Então, tchau. Boa espera - ele diz, acenando.

Aceno de volta e logo depois ele some da minha vista, rua abaixo.

Falta apenas cinco minutos para Mike chegar, então eu acabo esperando em pé. Até que se passa dez minutos e nada.

- Ele já deve estar vindo - digo, para confortar eu mesma.

Sento lá, em uma parte mais escondida por estar com medo de alguém me achar e fazer alguma coisa.

Sem querer, acabo pegando no sono e dormindo lá mesmo.

Sem querer, acabo pegando no sono e dormindo lá mesmo

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Minha Fada Madrinha [PAUSADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora