"Eu amo-te. Bolas, como eu te amo..."

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Capítulo XIX

“Eu amo-te. Bolas, como eu te amo…”

 

Ponto de vista da Jéssica:

Sem saber bem o que fazer ou dizer na altura, deixei-me estar encostada à porta do quarto tentando processar tudo o que estava a acontecer. Queria ir ter com ele mas sentia que não devia nem tinha de ir. Aquele indivíduo é me simplesmente indiferente naquele momento. Não lhe devo nada. Mas ao mesmo tempo sentia-me culpada e julgava-me por ter deixado alguém naquela angústia e naquela dor insuportável. Ninguém tem culpa de ser apanhado nos meus problemas. Ninguém tem culpa que eu carregue os meus problemas nos outros para os tornar mais leves. Ninguém tem culpa das minhas incertezas. Nem eu própria tenho quanto mais os outros. Mas como é que eu iria-lhe explicar tudo isto? Se é que vou explicar-lhe isto. O que é que eu faço? Que confusão.

Fui a correr ter com ele e recolhi todos os pedaços de jornais que encontrava à sua volta enquanto ele chorava e soluçava, provavelmente com o peito a arder de desgosto, desilusão e uma mágoa enorme. Tinha as pernas cruzadas e tapava a cara com as mãos, deixando, na mesma, cair as lágrimas. Continuei a agarrar nos jornais como se o choro me fosse indiferente mas só me causou mais dor. Comecei também a chorar mas tentava-me conter, o que tenho de admitir ser das coisas mais difíceis de sempre. Ter tanta dor acumulada no peito, querendo simplesmente deitar tudo cá para fora mas sentir vergonha ou medo de o fazer. Continuei o que fazia desde o início, tentando ignorar tudo à minha volta até o próprio Tiago e aquela trapalhada toda. À medida que recolhia os jornais lia muito brevemente todos aqueles títulos desnecessários e infantis que inventavam para dar início àquela notícia disparatada. Fomos tão cuidadosos. Como é que isto nos foi acontecer? Porquê? Porquê agora? Como?!

Reparei que o Tiago ainda tinha mais um jornal na mão e, depois de deitar todos os outros no lixo, baixei-me até o seu nível para lhe tirar aquilo das mãos, o que me pareceu um grande desafio na altura. Quando reparou que estava ali tirou levemente as mãos da cara, já sem soluçar, e olhou para mim. Os olhos dele estavam completamente vermelhos e bastante luminosos e molhados. Deu-me uma vontade enorme de explodir em lágrimas naquele momento e foi o que fiz. Não o suportei ver naquele estado. Não conseguia. Levantei-me sem dizer nada mas ele puxou-me para a posição que estava antes.

“Porquê?”- perguntou muito mais calmo- “O que é que ele te dá que mais ninguém te consegue dar? É dinheiro? Sucesso?”

Levantei-me furiosa. Não estava com paciência para ouvir aqueles comentários ridículos. De sucesso? Dinheiro? Vivo bem sem isso. Não escolho por quem me apaixono. O Justin traz-me felicidade e bem-estar. Posso dizer, com orgulho, que estou em casa quando estou com ele, estando onde estiver. Não é um caso de saber dar ou ter capacidade de dar mas de quem recebes. Eu amo o Justin e ele ama-me a mim. É disso que preciso. Nada mais. Não posso forçar uma relação.

“Espera…”- pediu limpando os olhos, levantando-se desta vez.

“Achas que é fácil? Não é. Ter de escolher entre a minha felicidade e a dos outros. Pensas que é simples? Amar alguém? Nunca sabes quem o teu coração escolhe. Nunca sabes quem vais magoar. Tu ou os outros. Achas mesmo que é pelo dinheiro? Pela fama? Ser perseguido o dia todo por pessoas que não conheces de lado nenhum, que registam todos os momentos, todos os segundos da tua vida e fica tudo guardado numa câmara. Todos os teus sorrisos, momentos de glória, tristezas, falhas, desilusões. Julgas que sabes mas esta vida não é fácil e admiro muito o Justin por conseguir vivê-la. Nenhum dinheiro no mundo consegue fazê-lo esquecer-se de todos estes momentos horríveis que já passou. Com estas pessoas que em segundos entraram na sua vida, a mudaram e têm-se tornado uma rotina. Achas que é fácil? Mas não é…”- peguei em algumas roupas e coloquei num saco, pronta para sair daquele quarto. Não aguentava passar ali a noite.

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