25 - "Swallowing panic in the face of its force..." *

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O segundo telefonema que dei para os meus pais naquela noite foi um pouco mais memorável do que o primeiro.

- Hum, mãe? - eu disse e acho que a minha voz soou engraçada, porque ela entendeu.

- Uh-oh.

- Hum, é. Os paparazzi. Eles seguiram James e eu do restaurante. E agora estamos meio que encurralados na loja de discos.

- Encurralados?

- Pelos paparazzi. E alguns fãs. Mas está tudo bem, porque a polícia está a caminho ...

- A polícia?

- A polícia! - meu pai piou de repente ao fundo.

- Audrey, já estamos indo - minha mãe falou e desligou antes que eu pudesse lhe dizer para deixar o papai em casa. E não que eu quisesse que meus pais aparecessem no meu primeiro encontro com James, mas foi meio um alívio pensar que pessoas que eram muito boas em estar no comando iam aparecer logo.

Depois que minha mãe e meu pai chegaram lá e perceberam que James e eu estávamos bem e não estávamos traumatizados nem nada, meu pai perdeu a cabeça.

- Está querendo me dizer - ele estava gritando para um policial qualquer do lado de fora do escritório – que a minha filha de 16 anos não pode nem sair num simples encontro sem ser atormentada dessa maneira? Eu olhei para o James. Ele olhou para mim. Minha mãe olhou para mim. James olhou para minha mãe. Minha mãe olhou para o James. Eu olhei para a minha mãe.

- Eu pago impostos! - meu pai continuou. Eu havia ouvido essas palavras tantas vezes antes, mas normalmente elas estavam sendo resmungadas para a TV ou um jornal, não gritadas para a polícia. - E espero que a minha filha tenha os mesmos direitos que qualquer outro adolescente nesta cidade e...

- Senhor, eu entendo a sua frustração, mas, neste momento, a sua filha não é uma adolescente normal e...

- Não sou normal? - perguntei.

- Não é normal? - meu pai berrou. - Ela é tão normal quanto o resto!

- Bem, quando você coloca desse modo... - falei, pensando em todas as pessoas na nossa escola com quem eu nunca ia querer parecer.

- Agora não, Aud - minha mãe estava esfregando a cabeça daquele jeito de dor de cabeça.

- Me desculpe, mas, mãe, pode por favor fazer o papai parar? Antes que alguém bata na cabeça dele com um porrete?

Acabou sendo o pior conselho que eu podia dar a ela, porque ela saiu para acalmar meu pai, mas aí foi sugada para dentro da discussão e logo virou a polícia versus meus pais. Eu podia ouvir o policial tentando apaziguá-los, mas sabia que era inútil.

- Ele está fazendo tudo errado - eu disse a James. - Acredite, quando eles estão jogando em equipe, não se pode detê-los.

- Eles parecem bem irritados - James falou. Ele havia empalidecido consideravelmente quando meu pai começou a gritar e mais ainda quando minha mãe se juntou a ele.

- Eles se conheceram num comício em Berkeley – suspirei. – Justiça social é meio que a parada deles.

- Ah.

- Ainda quer ficar comigo?

- Ainda acha que o seu pai não vai me matar?

- Acho.

- Então, quero - James ficou em silêncio por um minuto. - Tem certeza de que ele não vai me matar?

- Justiça social, lembra?

Mas aí a gritaria começou novamente e tanto James quanto eu suspiramos e caímos de volta nas cadeiras.

- Eu estou morto - ele gemeu.

Acabou que os policiais tiveram que sair e dizer para todo mundo para chegar "PARA TRÁS! PARA TRÁS, POR FAVOR!" antes que pudéssemos sair da loja. Quando saímos, os flashes explodiram mais uma vez e minha mãe ficou tentando segurar seu suéter por cima da minha cabeça, mas só conseguiu me sufocar com fibras sintéticas e me fazer pisar na parte de trás dos tênis Vans do James que prontamente saíram do pé. Eu queria muito segurar a mão dele, só para poder saber que ele estava ali e para ele saber que eu estava ali, mas não podíamos fazer isso ali jeito nenhum, não com todas as câmeras. E, além do mais, havia alguns caçadores de autógrafos, empurrando capas de revisas da semana passada na minha direção, tentando me fazer assinar a matéria sobre mim e Simon. Passei por todos eles e por suas canetas Sharpie e segui todo mundo até o estacionamento.

- Cabeça baixa, pés para a frente - um dos policiais disse enquanto atravessávamos o pátio.

Foi o melhor conselho que ouvi naquela noite.

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