30 - "The center of the earth is the end the world..." *

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Fiquei tão boba com o carro que tive uma perda momentânea de memória e esqueci que estávamos indo para um show onde eu sabia que seria notada. Mas aí a Victoria seguiu as placas saindo da autoestrada 101 em direção ao estádio e ao estacionamento e, quando saímos do carro, meus joelhos estavam literalmente tremendo.

- Victoria? - eu disse, mas ela estava ocupada demais tentando descobrir onde ficava a bilheteria para pegarmos os convites, então eu simplesmente a segui, porque não queria ficar sozinha.

Eu não estava sozinha, porém - estava cercada por um monte de pessoas que ficavam todas olhando furtivamente para mim. Victoria pegou nossos crachás para o camarim e eu pendurei o meu no pescoço e o fiquei puxando nervosamente.

- Venha - ela disse, puxando o meu braço. – Vamos ver se eles têm comida.

- Se eu comer, vou vomitar - falei para ela.

- Pare de ser tão dramática - ela respondeu. – Você já esteve em camarins antes. É uma profissional.

A coxia parecia muito quente, lotada e pequena, apesar de ser enorme. Devia haver um bilhão de pessoas lá e eu não parava de ver pessoas que reconhecia, pessoas cujas fotos estavam coladas na parede do meu quarto. Victoria estava tentando bancar a indiferente, eu podia ver, mas de vez em quando ela se virava para mim e dava um sorriso largo.

- Isso não é incrível? - sussurrou em um determinado momento.

- Acha que Evan já está aqui?

- Sei lá. Isso é tão melhor do que o camarim dos Lolitas.

Meu estômago se revirou. Admito, naquele show eu meio que firmei minha notoriedade, mas pelo menos havíamos dançado e Jonah estava lá e tudo era novo e emocionante. Aqui, todo mundo estava cansado. Ninguém parecia estar se divertindo e eu fiquei imaginando quantas pessoas estavam ali para ver o show e quantas pessoas estavam ali só para serem vistas.

E fiquei imaginando em que categoria eu estava.

- Vou pegar uma Coca Diet - Victoria falou e, antes que eu pudesse pedir baixinho para ela não ir, ela desapareceu pelo corredor. Respirei fundo e apoiei as costas contra a parede fria de blocos de concreto, tentando ficar invisível.

- Ei, você é aquela garota!

Olhei para cima, rezando que quem quer que fosse estivesse falando sobre outra garota e vi o guitarrista do Doomsday Scenario olhando direto para mim e sorrindo. Eu estava tão prestes a vomitar que nem era engraçado.

- Você é a Audrey!

- Não, eu... - comecei a dizer, mas aí ele estava do meu lado e juro por Deus, acho que eu era uns 30 centímetros mais alta do que ele. E eu não sou tão alta. – Oi - guinchei. - Gosto da sua banda.

- Grande música - ele estava dizendo. – Sensacional - ele estava olhando de baixo para mim e eu me senti como um enorme gigante desengonçado. - Foi você que a escreveu?

- Hum, não, não, eu só...

- Deu para o vocalista. É, bem-vinda à indústria – ele sorriu. - Então. Tem namorado? Estamos compondo nosso segundo disco em Burbank e no momento só há um bando de caras no estúdio. Precisamos de inspiração.

Percebi que ele e eu tínhamos definições diferentes para "inspiração".

Com licença - falei, e aí me afastei dele e saí tropeçando pelo corredor. Ouvi outra pessoa gritar meu nome e ignorei antes de perceber que era Victoria.

- Ei - ela disse entusiasmadamente. - Você estava falando com o cara do Doomsday Scenario?!

- Mais ou menos - respondi. - Ele é nojento.

- Sério? - ela olhou para ele por cima do meu ombro. - Ele é um velho tarado?

- É - eu podia sentir meu estômago se revirando de novo.- Victoria, quer dizer, eu sei que isso devia ser divertido, mas...

- Você não está se divertindo - ela suspirou. Balancei a cabeça.

- Todo mundo está olhando para mim e eu não quero ver o Evan ou os Do-Gooders e só quero ir embora.

Ela olhou para mim por um longo minuto.

- Quer mesmo ir embora?

- Mais do que tudo no mundo.

Victoria suspirou e ficou brincando com o crachá em volta do pescoço. Eu me senti a pior amiga do mundo, mas não podia mais me sentir assim. Se continuasse, ficaria tão traumatizada que nunca mais conseguiria ir a nenhum show. - Vou recompensá-la depois, eu juro - eu disse a ela. – Mas não é... não é divertido como foi da última vez. Ela deu uma olhada em volta e viu que, realmente, toda a população do corredor estava nos observando conversar pelo canto dos olhos.

- Está bem - ela suspirou. - Vamos nessa.

Não falamos nada durante todo o caminho para casa.

O som estava tão alto que provavelmente não teríamos ouvido uma à outra, de qualquer maneira.

A musica que mudou minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora