O carro balançava conforme passávamos pelas ruas em direção ao aeroporto. O sol ainda despertava, preguiçoso, enquanto meu pai dirigia para que eu embarcasse no voo das nove da manhã. Nossa casa era relativamente distante, o suficiente para que meu irmão dormisse em cima do cinto que ele tanto relutou em colocar, e eu estava sonolenta e distraída quando meu pai parou o carro no estacionamento.
- Espero que você se comporte e não nos dê nenhuma dor de cabeça nessa sua tal viagem, ein, mocinha?
- Claro, pai. Pode deixar.
- E eu quero fotos, não se esqueça de me enviar várias! - diz minha mãe, animada.
- E eu quero aquele biscoito de menta legal! - diz Pacco, bocejando logo em seguida.
- Pode deixar - digo, rindo - vou fazer tudo isso.
Quando tive que me separar deles foi um drama. Mamãe começou a chorar dizendo que cresci ao mesmo tempo que meu pai mandava Pacco se comportar enquanto ele insistia que queria o pão de queijo da vitrine da lojinha.
- Está tudo bem, mãe. Eu vou voltar logo, prometo. - dizia, enquanto a abraçava forte.
- Não se esqueça de comer bem e se agasalhar direito. - ela respondeu, fungando - eu te amo, minha menina.
- Também te amo, mãe.
Caminhei até meu pai em passos largos, o abraçando forte. Ele sempre me protegeu de tudo, mas agora, estarei por minha conta.
- Eu te amo, minha filha. Estou muito feliz que você vai ter um tempo para relaxar antes de entrar para a faculdade. Estou muito orgulhoso. Vou sentir sua falta.
- Eu também te amo, pai. Muito obrigada por tudo, vou estar de volta antes que você se quer perceba, prometo.
- Vou estar esperando. - Ele disse, com um sorriso.
Me abaixei e, como de costume, baguncei os cabelos do meu irmão. Ele agarrou meu pescoço num abraço e me deu um beijo.
- Boa viagem, irmã. Vê se compra aqueles biscoitos para mim.
- Obrigada, pequeno. Se cozinhar de novo, guarda um pedaço para mim.
- Pode deixar que eu vou te fazer uma lasanha inteira quando voltar!
- Isso aí, irmão. Te amo, tá?
- Também te amo, irmã.
*Última chamada para o voo 347 da Delta Airlines com destino à Nevada. Embarque pelo portão H8*
- Acho que essa é sua deixa, filha.-disse meu pai, abafado num abraço de urso.
- Se cuida, filha! - disse minha mãe, também me abraçando.
- Pode deixar mãe, eu vou. Amo muito vocês! Até daqui a algumas semanas!!
Acenei pelo caminho todo até entrar no avião. Estava morrendo de medo daquela coisa gigante de metal, mas era uma fase a ser vencida para conquistar a viagem dos sonhos.
Após diversas etapas de segurança pelas quais eu tive passar, atravessei um corredor branco com carpete azul que levava à entrada do avião.
Levei algum tempo até encontrar o meu lugar, que era próximo à cauda. Um lugar na janela, perto da saída de emergência, me aguardava. Afivelei o cinto e acomodei minha mala de mão aos meus pés, já que não queria ficar levantando o tempo todo se quisesse pegar algo dentro dela.
Assisti com atenção às recomendações das aeromoças no vídeo que passava na pequena tela acoplada ao banco da frente, e mandei uma mensagem para meus pais. Não havia motivos para me preocupar.
Me recostei e senti a aeronave deixar o chão.
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Do Outro Lado
General FictionO destino é algo engraçado. Ele te leva aonde quer, independente da quantidade de planos que você traçou ou deixou de traçar. Quando eu era apenas uma criança curiosa apontando para as estrelas e puxando a barra do vestido da minha mãe, perguntando...