Parte VI

98 20 23
                                    

Tinha dois andares e uma varanda grande bem no primeiro andar

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Tinha dois andares e uma varanda grande bem no primeiro andar. Pintada de branco e azul bebê, uma casa grande e simples, como as dos subúrbios americanos, tomava lugar em meio a uma clareira na mata fechada. Na sua frente, havia um par de balanços de ferro como os de parquinhos para crianças, e um pequeno lago, que parecia ter sido feito artificialmente.

Só poderia ser uma alucinação! Era a única explicação concreta para o que estava à minha frente. Nunca nada parecido havia cruzado minha mente, nem a mais remota possibilidade de eu ter ido parar numa ilha habitada.

Tentei mancar mais para perto, mas a adrenalina da perseguição ao pequeno primata logo se esvaiu do meu sangue, dando lugar à uma dor dilacerante em todo o meu corpo. Minha respiração falhava, e notei a quantidade de sangue que estava perdendo. Não deveria ter me esforçado tanto.

Tentei mancar para mais perto da casa, tentei chamar por ajuda. Mas nenhum de meus esforços fizeram diferença quando ouvi o baque surdo de meu próprio corpo caindo na grama cortada, e quando os balanços de ferro se tornaram borrões enquanto minha visão escurecia.

•••

Dor. A primeira coisa que notei ao acordar foi o alívio imenso da dor que estava sentindo nas últimas horas.

Notei também a estranha sensação de estar... confortável. Um lugar macio e quieto me cercava, e meu coração acelerou antes mesmo de eu abrir os olhos com o pensamento que se seguiu: eu morri.

Abri meus olhos bem devagar, tendo dificuldades para me acostumar com a claridade. Um teto branco refletia a luz que entrava por entre as cortinas finas de uma janela aberta, só então me fazendo perceber que eu provavelmente estava dentro da casa que havia encontrado. Ainda bem, não havia morrido ainda.

Uma brisa fresca e oceânica refrescava o cômodo, que continha pouca mobília.

A colcha verde florida me fez ter a sensação de estar visitando uma avó distante, mas sabia que esse não era o caso quando vi numa mesinha de cabeceira um porta retratos de madeira

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

A colcha verde florida me fez ter a sensação de estar visitando uma avó distante, mas sabia que esse não era o caso quando vi numa mesinha de cabeceira um porta retratos de madeira.

Na foto, um menino sério encarava a câmera, ao lado dos rochedos da ilha. Sua pele era incrivelmente branca para quem mora perto de uma praia, e seus cabelos tinham um tom de âmbar que lembrava as folhas de outono. Os olhos eram estranhos, de um azul extremamente claro, como eu nunca havia visto antes. Era tão claro que se fosse olhado bem rápido, pareciam brancos. Seus cabelos estavam bagunçados com o vento, e uma onda estourava nos rochedos atrás dele, congelada para sempre naquele momento singular dentro daquele pequeno porta retratos.

Ele tinha algo misterioso em seu rosto, porém, como se algo estivesse errado. Não parecia satisfeito na foto, e algo em seus olhos mostrava uma decepção ainda maior.

Minhas divagações se interromperam com o ranger da porta. Ao virar rapidamente meu olhar naquele sentido, vi o menino da foto me olhar com curiosidade na expressão através da porta entreaberta. Coloquei a fotografia no lugar sem tirar os olhos dele. Quando entrou no quarto, notei que era muito mais alto que imaginava, além de parecer estar extremamente desconfortável em falar comigo.

- Não quero que pense que sou um lunático ou muito menos um psicopata. Eu apenas te encontrei jogada no meu gramado completamente ensanguentada e achei que não seria muito humano de minha parte te deixar virar comida de animais selvagens. Meu nome é Theodore. Vi você cair do céu.

Sua expressão era séria e ele falava com o máximo de frieza na voz. Não sabia muito bem o que pensar a respeito, já que estava extremamente assustada. Ele poderia estar tentando ser cortês ou simplesmente era daquele jeito mesmo.

- Você me viu cair do céu? Você viu o acidente? - Ele assente. - Então foi perto da ilha?

- Não, foi bem longe. Não achei que nada poderia ter sobrevivido, então pode imaginar minha surpresa ao te ver pela janela.

Estreito os olhos e o encaro por alguns segundos. Que sujeito estranho.

- Olha, eu não sei o que está acontecendo. A probabilidade de eu ter sobrevivido à queda daquele avião é quase negativa, de eu vir parar em uma ilha é menor ainda, mas vir parar em uma ilha com uma casa onde mora um cara estranho? Isso tem mais chances de ser pura alucinação provocada pela dor e pela sede do que de estar acontecendo de fato.

- De qualquer forma, costurei seus ferimentos. Sua pele deve se curar em algumas semanas. Até lá, você tem permissão para dormir nesse quarto, e para utilizar o que estiver ao seu alcance, desde comida até os livros que tem no suporte de madeira da sala.

- Normalmente eu argumentaria com você e iria embora, mas - digo, me sentando - não tenho outra opção. Obrigada.

- Ótimo. Se precisar de mim, não me procure a não ser que o problema seja médico. Passar bem.

E sem mais uma palavra, bateu a porta de madeira como se nada jamais tivesse acontecido.

E sem mais uma palavra, bateu a porta de madeira como se nada jamais tivesse acontecido

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Do Outro LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora