Parte XVIII

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Vê-lo tinha se tornado meu passatempo favorito naquela ilha

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Vê-lo tinha se tornado meu passatempo favorito naquela ilha. Aqueles sentimentos emaranhados faziam cada vez mais sentido, cada vez que fazíamos refeições ao ar livre, trilhas pelos morros da ilha, escalávamos árvores e íamos nos banhar na praia. Tudo com a companhia fiel e alegre de uma Eve saltitante que cada vez mais parecia uma criança normal, e muito tagarela.

Duas semanas haviam se passado. Não houve um dia em que não senti falta da minha família, mas pouco a pouco o sentimento começava a se tornar mais sólido e comum. Isso me fazia sentir um pouco culpada, principalmente quando imaginava minha família sentindo minha falta e eu... vivendo minha vida? Assim? Sem eles?

Eu esperava que eles fossem me buscar, e todos os dias buscava sinais de qualquer helicóptero, barco, ou qualquer outra coisa que pudesse indicar que eles não haviam desistido de mim. Esperei todo dia, por quatorze dias até agora. Nada apareceu.

Como todas as manhãs, acordei sem muita perspectiva do que fazer. Havia começado a ler um dos livros sobre botânica selvagem de Theo, para passar o tempo, e já tinha feito roupas novas o suficiente para um ano de uso. Minha alegria máxima no dia era simplesmente... vê-lo.

Ele.

É claro que era altamente provável que eu sentisse algo por ele, estando só nós dois por aqui. Soa até clichê, e sinceramente, eu sempre odiei clichês, mas... era ele ali. Ele, com aquela voz suave e inocente, buscando entender e aprender os meus costumes, enquanto fazia de tudo para que eu me sentisse confortável. Aquele sorriso, aqueles olhos, aquele cabelo... tudo nele me fazia sentir bem, em casa.

Levantei da cama na expectativa de encontrá-lo para levarmos Eve para colher frutas, como todo dia de manhã. Havia umas esquisitas na ilha, e era preciso tomar cuidado para não contrair nenhuma infecção da saliva dos morcegos e macacos que também as comiam. Só Theo conseguia escolher as certas, se dependêssemos de mim provavelmente ficaríamos doentes em poucos dias.

Me vesti e desci as escadas sem pressa. Lá embaixo, Eve estava jogada no sofá com uma folha na mão, rabiscando com um bastão de carvão alguma coisa que eu não conseguia entender.

- Bom dia! - Eu disse, com a voz ainda rouca de sono.

- Bom dia, Às! Dormiu bem?

- Claro! Igual uma pedra. - Rimos. - Onde está Theo?

- Não sei, - ela respondeu - quando acordei ele não estava mais na casa. Achei que íamos pegar umas frutas agora de manhã, mas ele não voltou até agora.

Franzi o cenho enquanto absorvia a resposta de Eve. Isso não havia acontecido nenhum dia das últimas semanas, como ele poderia sair assim, sem mais nem menos?

- Bem, já que ele saiu, eu vou dar uma volta. Se incomoda de ficar sozinha por um tempo? - Perguntei.

- Claro que não! Pode ir! Eu estou ocupada de qualquer forma. - Respondeu Eve, concentrada em seus rabiscos.

Dei uma risadinha e calcei minhas sandálias.

- Tudo bem, volto logo. - Disse, ao sair em direção à mata.

Tudo estava muito calmo hoje. Era comum que àquela hora os barulhos inquietos da mata estivessem altos e claros, mas por algum motivo estavam rasteiros e silenciosos naquela manhã. Era quase como se a floresta estivesse dormente.

Segui caminhando sem rumo, apenas respirando um pouco de ar fresco e olhando em volta. Esse lugar era lindo, e trazia à tona meu lado observador e artístico. Tudo ali me parecia digno de uma pintura, daquelas que são mostradas naquelas exposições lindas do CCBB.

Já estava dando meia volta para voltar para casa, quando algo me chamou a atenção. Um enorme rasgo no casco de uma árvore, em direção à um lado da mata para o qual eu nunca tinha ido. Não parecia ser muito antigo, nem natural.

Todos os pelos do meu corpo se arrepiaram naquele momento, e um frio inexplicável subiu por minha espinha. O nervosismo tremia minha respiração e minhas costelas, e toda a minha adrenalina me dizia para sair dali e voltar para a casa. Aquilo não estava certo, e eu provavelmente não deveria mexer naquilo.

Alguma coisa, porém, me atraiu para ver mais de perto. Dentro do rasgo, havia um rabisco. Um bem parecido com os que Eve fazia em sua folha de papel. Ele era pequeno e redondo, e quase imperceptível. Ao tocá-lo, algo em mim estremeceu. Eu estava com medo. Eu estava com medo e não sabia do que. Um frio inexplicável embrulhou meu estômago e uma angústia gritava para que eu não fosse mais fundo, para que eu fosse embora o mais rápido que pudesse.

- O que você está fazendo aqui? - A voz veio de trás de mim, e senti algo tocar meu ombro.

Naquele momento, o susto foi tão grande que soltei um grito agudo e estridente, feito de todo o medo que já estava naquele momento. Me sentia vulnerável e insegura, e disparei a correr em direção à casa.

Estava tão ofegante e desorientada que desabei sobre as escadas da varanda, com a visão completamente turva pelo esforço repentino.

- Hey! - Ouvi, das margens da clareira. - Por que saiu correndo? Está tudo bem? Às?

Conforme a figura se aproximava, consegui reconhecê-lo... Theo. Graças a Deus.

- E-Eu eu não sei... eu senti algo estranho, eu não... não consigo...

- Hey, calma. - Ele disse, sentando-se ao meu lado na escada e me abraçando. - Está tudo bem, você está segura aqui.

Mas não importa o quanto ele repetia aquilo, nem o calor de seu abraço conseguia limpar aquela sensação de que algo estava muito errado naquele lugar da floresta. Algo que nem mesmo Theo ou Eve conseguiriam compreender.

E eu descobriria o que era.

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