Parte VIII

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Acordar foi um martírio

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Acordar foi um martírio. Havia dormido como uma pedra na mesma posição durante toda a noite, e o creme nas minhas costas já havia secado completamente, fazendo com que o mínimo movimento doesse demais.

Levantei com grande custo, sentindo a pele queimada quebrar e soltar a cada passo. Andei até onde minha camisola estava e a segurei em frente ao tórax, caminhando até a porta e abrindo-a com muita dificuldade.

- Theodore! - Chamei, mas senti minha voz rouca presa à minha garganta, de forma que meus chamados não passavam de sussurros secos.

Caminhei sozinha pela primeira vez até o início do corredor, onde uma simples escada de madeira fazia uma curva e levava ao andar de baixo da casa. Não tive tempo ou atenção para reparar nas diversas outras portas pelas quais passei, ou ao menos olhar para os lados para ver se Theo havia pendurado algum quadro. Não poderia parar para admirar a casa enquanto a dor me consumia por completo.

- Theodore! Eve! - Tentei novamente, mas nem mesmo um estalo foi ouvido no interior da casa.

Arrisquei descer as escadas para ver se os encontrava lá embaixo. Degrau por degrau, um gemido de dor me escapava por entre os lábios e lágrimas desciam quentes por meu rosto. Naquele momento, desejei ter morrido no acidente pela primeira vez.

Quando estava chegando ao último degrau, não tenho certeza se pela fadiga muscular ou pelas lágrimas que me embaçavam a vista, tropecei. Acabei por cair no chão de madeira corrida, e ainda arrastei comigo o que achava eu ser um vaso que, por reflexo, foi onde tentei me segurar. Um grito surdo escapou meus lábios, enquanto os cacos de porcelana grossa se espatifavam ao meu lado.

Em alguns segundos, fui levantada do chão por mãos firmes, que me jogaram por cima de ombros fortes. A dor começava a embaralhar minha mente, mas uma voz distante me sugeriu que fosse Theodore quem me levava para algum lugar, enquanto dava ordens desesperadas a Eve.

O que consegui entender depois disso é, na verdade, bem vago. Tive a sensação de ser carregada escada acima e depois de ser deitada numa superfície macia, antes de sentir uma pontada fina no pescoço e apagar por completo.

•••

Acordei com uma luz insistente que era balançada na frente do meu rosto. Grunhi algo que nem mesmo eu consegui entender enquanto abria devagar os olhos. A primeira coisa que vi foi um par de órbitas azuis que me encaravam de forma esperançosa, desconfortavelmente perto do meu rosto. Conforme minha visão foi se ajustando à luz do cômodo, percebi ser Theo que me encarava com uma espécie de sorriso no canto da boca e cabelos extremamente bagunçados.

- Eu achei que tinha te causado alguma espécie de dano permanente e que você não iria mais acordar. - Ele disse, enquanto guardava no bolso a pequena lanterna que usara para me acordar.

Era a primeira vez que o via... animado? Ele sorria e em seu rosto estava uma barba rala, por fazer. Ao tentar levantar, notei que todo o meu tronco e braços estavam enfaixados com uma gaze bem apertada. Estava enfaixada como uma espécie de múmia, e aquela dor demasiada que me fez chorar havia sido reduzida a uma pequena dor nas costas, algo completamente suportável.

- O que fez comigo? - Perguntei.

- Desbridamento. - Ele respondeu, simplesmente.

- Raspagem?

- Exato. Tem uma semana que troco seus curativos e te desperto apenas o suficiente para engolir a comida e se hidratar, mas você nunca acordou de fato.

Reparei na maneira rápida na qual ele despejava as palavras e nas olheiras enormes que lhe permeavam os olhos.

- Você tem dormido?

Ele desviou os olhos, mexendo no cabelo e levando alguns segundos para responder.

- Dormir é secundário quando se tem uma emergência. - Disse, somente.

Concordei com a cabeça antes de olhar em volta. Estava deitada numa espécie de maca, num quarto que tinha uma parede inteiramente de vidro, por onde conseguia observar a mata ao redor. As outras paredes eram ocupadas por estantes abarrotadas de potes e vasos de plantas e outras coisas estranhas em conserva. Os vidros tinham etiquetas brancas com nomes de espécies, assim como as plantas. Era tudo muito limpo e organizado, meticulosamente separado.

- O que é tudo isso?

Ele caminhou até as estantes e as encarava com um certo orgulho.

- Plantas medicinais. Trituradas, amassadas, cortadas e plantadas em vasos. Isso é extremamente necessário quando se vive no meio do nada.

- Por que você vive no meio do nada? - Disparei.

Ele virou levemente a cabeça para mim, antes de caminhar até a porta.

- Você deve estar com fome, vou preparar algo.

Quando me vi sozinha naquele quarto estranho tive a certeza de que Theodore escondia algo.

Quando me vi sozinha naquele quarto estranho tive a certeza de que Theodore escondia algo

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