Parte XXII

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Uma música

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Uma música. Naquela tarde estranha, eu havia acordado com uma música que tocava sem para em minha cabeça. Era uma daquelas músicas pop comuns de um cantor provavelmente muito bonito que ninguém sabia que cantava bem até ele abrir a boca. Foi interessante acordar com um lembrete tão vivo em minha memória de algo tão comum, mas que eu nunca mais experimentaria.

Estava quente e confortável onde eu havia acordado. Foi apenas o cheiro fresco de algo como a mistura do ar puro da floresta e a brisa do mar que me fez perceber que ainda estava deitada sob seu peito. Abri os olhos e tive todo o cuidado para não acordá-lo ao levantar a cabeça em sua direção, apenas para perceber que ele não havia pegado no sono como eu. Me encarava, com uma espécie de sorriso frio e acolhedor no rosto. Ele era magnífico tão de perto.

A luz alaranjada do pôr do sol invadia minha janela e fazia seu rosto reluzir, de forma a torná-lo quase um deus. Ele era tão perfeito, não era possível esse menino ser desse mundo.

- Está se sentindo melhor? - Ele perguntou, com a voz um pouco rouca de sono.

Ele era tão hipnotizante que não consegui responder. Observá-lo seria meu novo hobbie favorito, apenas absorver aos poucos e tentar entender a beleza daquela criatura pela qual eu estava me apaixonando. Ele riu.

- O que está pensando e por que está me olhando estagnada como uma estátua?

- Você é tão... tão lindo. - Deixei escapar, como um segredo.

Pude sentir o calor emanar de seu rosto corado. Ele sorriu de lado, envergonhado.

- Não acho que eu seja tão bonito quanto você me faz sentir, mas obrigado.

Levei meus dedos até seu rosto, e deixei com que as pontas escorregassem por sua pele pálida.

- É sério, - eu disse, - só de estar com você aqui eu já me sinto melhor. Você me faz querer estar melhor.

Dessa vez ele não contestou, apenas sorriu tão abertamente que suas covinhas apareceram e  selou seus lábios nos meus, deixando que nosso beijo falasse por nós dois.

...

Passou-se algum tempo desde que minha busca por respostas naquela ilha não resultou em absolutamente nada. Tentei vasculhar a casa quando Theo saía, tentei procurar por mais coisas na floresta... tudo que eu encontrei foram vários rastros que levavam a lugar nenhum.

Aquilo me frustrou por alguns dias, mas comecei a me permitir viver cada momento ao lado das pessoas que a cada dia mais, cada uma do meu jeito, aprendi a amar: Theodore e Eve.

Não sei dizer se foram semanas ou meses, era inútil contar o tempo dessa forma por lá, mas tudo pareceu se passar tão rápido que se alguém me falasse que foram apenas uns dias, eu não questionaria.

Com a pesquisa se provando inútil, comecei a desenhar no meu tempo livre. Theo começou a fazer mais folhas para mim, e comecei a ensinar à Eve algumas técnicas que havia aprendido há alguns anos no YouTube. Ela aprendia rápido, tinha muito talento para a coisa.

Estávamos sentadas na sala de estar, eu jogada no sofá usando um dos livros de Theo como apoio e Eve sentada no chão, apoiando sua folha na mesinha de centro.

- Nossa Eve, isso está muito bom... parece até algo natural para você! - Eu disse, enquanto observava seu mais recente autorretrato.

- Obrigada, Ás. O seu também está muito bonito! - Comentou, observando meu retrato de um Theo distraído com um de seus livros de botânica. Sorri.

- Obrigada, flor... Falando em flores, temos o suficiente para fazermos mais tinta rosa? Já estava no final da última vez que usamos.

- Hmm... Acho que não. Mas não tem problema, podemos colher mais e preparar amanhã.

- Bem, não vamos poder colher agora... essa chuva não para. Vou te dizer que já estou começando a ficar com medo desse vento arrancar o telhado. - Disse, olhando pela a janela para chuva torrencial que caía do lado de fora.

- Relaxa, aqui é sempre assim nessa época do ano. Teve uma vez que choveu tanto, que o mar ficou furioso e a praia sumiu por um tempão. - Eve gesticulava esticando os seus braços e simulando as ondas engolindo a praia. Eu ri.

- Muito bem, Eve. Já me assustou o bastante por hoje, agora vai tomar um banho que eu e Theo vamos preparar o jantar.

- Aaaah mas eu queria desenhar mais um!

- Estamos aqui há tanto tempo que daqui a pouco vou estar igual a praia que você falou, mas dessa vez vai ser o sofá que vai me engolir.

- Tudo bem, eu vou. - Ela disse, rindo.

Ela levantou do sofá e foi correndo para o quarto, deixando a bagunça toda de tinta, carvão e papel para que eu arrumasse sozinha. Não pude evitar de sorrir, porém, ao ver o quanto gostava daquela criança e o quão diferente e mais feliz ela aparentava estar desde o dia em que cheguei aqui.

Estava tão distraída recolhendo os materiais que nem percebi Theo chegar por trás de mim e tapar meus olhos, como se existissem pessoas o suficiente na casa para eu precisar adivinhar quem era.

- Sei que é você, Theo. Nem adianta fingir.

- Assim não tem graça, você sempre adivinha certo.

- Talvez porque você é o único alto o suficiente para fazer essa brincadeira comigo por aqui.

- Espere até Eve crescer, você vai ficar tão confusa tentando adivinhar quem é que vai desmaiar bem nos meus braços, - Theo encenava sua fala dramaticamente, me fazendo rir enquanto me deitava em seus braços. - E eu vou ter que te dar mil beijos para fazer você acordar.

Ele começou a distribuir beijos por todo o meu rosto, enquanto eu morria de rir e me segurava nele para não cair.

- Vamos, - ele disse, enquanto eu morria de rir com sua brincadeira, - não quero deixar Eve esperando por muito tempo ou é arriscado ela jogar as panelas na minha cabeça de tanta fome. Você termina de arrumar isso depois.

Ele me endireitou e me puxou para ajudá-lo a preparar o jantar, como fazíamos todo fim de tarde.

A vida havia me dado uma segunda chance. Uma chance que tinha nome, sorriso e os olhos mais lindos que já havia visto em toda a minha vida. Uma chance que cheirava maravilhosamente bem, que me tratava tão bem que na maioria das vezes eu achava que nem merecia, que me confortava em seus braços toda noite quando íamos dormir. E eu amava essa segunda chance. Queria aproveitá-la ao máximo, cada segundo, cada movimento, cada toque. Eu nunca havia sido tão grata por algo em toda a minha vida.

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