Parte IX

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- Gosta de mingau? - Ele perguntou, ao colocar a vasilha cheia da gosma cinzenta na mesa à minha frente

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- Gosta de mingau? - Ele perguntou, ao colocar a vasilha cheia da gosma cinzenta na mesa à minha frente.

- Faria diferença se eu dissesse que não? - Perguntei, ao pegar a colher.

- Nenhuma. - Ele disse, e eu ri.

Ele se sentou de frente para mim, do outro lado da mesa. Estávamos na cozinha, que ficava no andar de baixo. Era simples, em estilo americano, com uma janela bem grande que iluminava cada canto do cômodo, que tinha detalhes e móveis em madeira. Isso me fez perceber que Theo parecia não se preocupar muito com um incêndio.

O pensamento arrancou de mim mais uma risada baixa, antes de eu voltar a encher minha boca com o mingau que descobri não ser tão ruim.

- O que é tão engraçado assim? - Ele perguntou.

- Nunca pensou que armários de madeira em uma cozinha não são a melhor ideia do mundo?

- Era o que eu tinha, não tive opção.

Franzi o cenho e parei por um segundo, pensando na frase que ele havia acabado de falar. Olhei ao redor, e em poucos segundos me vi encarando Theo, boquiaberta.

- Você construiu a casa sozinho?

- Eve me ajudou com a maior parte das coisas. - Ele disse, dando de ombros.

O olhei incrédula, enquanto ele continuava a comer como se o que tinha acabado de me contar não fosse nada demais.

- Eve é apenas uma criança. Você a fez construir uma casa com você?

- Primeiro que eu não a fiz fazer nada, não sou desse tipo. Segundo que ela é especial, aquela garota. Não é qualquer criança. Com o tempo, você vai ver.

Eu apenas o olhava enquanto ele devorava a tigela de mingau como se fosse um manjar. Como ele trabalhou debaixo de sol construindo uma casa inteira e continua pálido e magro? Por que ele fez uma criança trabalhar com ele, e por que não a havia chamado para comer?

Ele levantou a cabeça e eu desviei o olhar, mas não antes de ele perceber que eu o encarava.

- Seu nome. - Ele disse.

- Perdão?

- Você nunca me disse qual é o seu nome.

- Você nunca perguntou. - Alfineto, dando de ombros como ele costumava fazer. Mais uma vez, vi aquele sorriso aparecer no canto de sua boca.

- Qual seu nome?

- Teri. Meu nome é Teri.

- Não é não. Qual o seu nome?

Franzi as sobrancelhas e o encarei. Como ele poderia dizer aquilo com tanta certeza?

- Como sabe que não é meu nome?

- Não combina com você, isso nem deve ser um nome.

- Claro que é! - Eu disparei, quase ofendida. Theo, ao contrário, sorria abertamente, como se zoar com a minha cara tivesse se tornado muito divertido para ele.

- Não, não é. Diz logo a verdade, qual o seu nome?

- Não.

- Então não se chama Teri. - Ele disse, com um sorriso vitorioso no rosto. - Qual é o seu nome?

Bufei e o encarei. Como ele poderia saber tanto? Esse cara é muito estranho, e muito convencido também.

Irritada, pego a colher e termino de comer meu mingau, antes de levantar da mesa e caminhar em direção à porta.

Passo pela sala bem decorada e abro a porta da frente, me deparando com um ar fresco delicioso. O cheiro da mata era o melhor que já havia sentido, e a paz que aquilo transmitia era inigualável.

Não demorou muito, porém, para Theo surgir ao meu lado e perturbar essa paz. Revirei os olhos e respirei fundo.

- Astéria. - Eu disse.

- O que?

- Meu nome é Astéria, mas eu o odeio. Então, me chame de Teri.

Ele riu pela primeira vez, ao meu lado. Era um som maravilhoso, que preenchia cada espaço vazio daquela varanda. Não era um riso de zombaria, não. Quando seus olhos encontraram os meus, estavam cheios de ternura e... carinho?

- Tudo bem. - Ele disse, se virando para entrar. - Mas se quer saber, Astéria é muito mais bonito que Teri.

E sem dizer mais nada, entrou na casa e fechou a porta atrás de si.

E sem dizer mais nada, entrou na casa e fechou a porta atrás de si

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