Capítulo 23

26 3 2
                                    

Então você quer saber como eles morreram? – não me movi e nem disse nada.

Ele sorriu triste e seu olhar ficou fora de foco.

– Foi um acidente – começou – Eu não queria tê-los matado.

Meu coração parou por um instante e meus olhos se encheram de lágrimas.

– O que?

Ele continuou olhando para o nada:

– Tínhamos viajado, eu era uma criança e estava empolgado – sua voz começou a tremer e por mais assustada que eu estava, segurei sua mão mas ele a puxou. – Meu pai dirigia e minha mãe tentava me prender no cinto e para isso ela se soltou do próprio cinto, e conseguiu me prender.

Ele fungou e meu coração se partiu com aquela cena.

– Meu pai se virou para brigar comigo e não viu quando o carro saiu da pista e se chocou com outro carro que vinha em alta velocidade. – tapei a boca com a mão – Minha mãe foi arremessada e morreu na hora – fez uma pausa e apoiou a cabeça no volante, chorando – Meu pai teve morte cerebral e eu... Eu tive apenas ferimentos leves.

Ele chorava e eu também.

Eu não devia ter dado ouvidos a Keith, daria tudo para não vê-lo daquela maneira.

– Eu não queira ter matado eles, não queria. – ele se derramou em lágrimas, soluçando e fungando alto.

– Não foi sua culpa. – tentei me aproximar mas ele me empurrou.

– Não chegue perto. – avisou – Não quero machucar você também.

– Você não vai me machucar. – me aproximei novamente e dessa vez ele não me afastou – A culpa não foi sua, foi um acidente e você era apenas uma criança.

O abracei e ele se rendeu por completo.

– Me desculpe, não queria que você ficasse assim.

Ele deitou a cabeça no meu colo e continuou a chorar.

– Não foi sua culpa.

Ele ficou por um tempo daquela maneira e só se levantou quando estava mais calmo, e não chorava mais.

– Sei que foi um acidente, mas ele foi causado por minha culpa. – o olhei com pesar e ele sorriu fraco. – Me sinto mais leve por contar isso a você, sem segredos.

Me senti culpada no mesmo instante.

Ele tinha acabado de me contar o que sem dúvida era o seu maior segredo, e eu escondia que estava morrendo.

Fiquei tensa e ele percebeu.

– O que houve? - seu olhar se encheu de medo – Você não...

Me apressei em negar quando percebi o que ele estava insinuando.

– Eu não estou te culpando, sei que nada daquilo foi culpa sua – ele suspirou aliviado – Mas eu tenho que te contar uma coisa.

Ele se ajeitou e segurou minha mão em espectativa.

– O que você tem que me contar?

Respirei fundo. Não era assim que eu imaginei contar a verdade, mas seria melhor do que se ele descobrisse sozinho.

_ Alex, eu...

As palavras ficaram presas na minha garganta e tive que respirar fundo para segurar a vontade de chorar.

Ele apertou minha mão de leve, mas não consegui olhar para ele.

– Me perdoe... – senti seu corpo ficar tenso no banco. – Eu não queria te enganar.

De Volta Para Casa     #RevelaçãoMaster2018Onde histórias criam vida. Descubra agora