É estranho ficar aqui. A sala de espera do hospital é o lugar mais melancólico que já estive, e as pessoas aqui também são melancólicas e me deixam mais melancólico do que já estou.
Michael está andando de um lado para o outro e sua irmã tenta acalmá-lo. Manu está aqui também. Ela fica encolhida num canto isolado.
Acho que como eu, ela ainda não está pronta para se despedir. Vou até ela e me sento ao seu lado.
Não falamos nada, e nem precisa. Já passamos por isso, a muito tempo, quando meus pais morreram. Naquela época eu estava igual a hoje, mas eu era mais novo e não entendia muito bem o que aconteceia.
Estou com a mesma roupa desde ontem e o cheiro de sangue já começa a impregnar. Não me importo.
Estou aqui desde ontem e não preguei o olho. Os pais da Hannah passaram a noite com ela e ninguém veio nos dizer como ela está.
– Será que ela vai ficar? – a voz de Manu está baixa, como um sussurro. – Queria pelo menos me despedir.
– Espero que sim – digo somente.
– Já ia me esquecendo – ela tirou uma sacola de dentro da bolsa e me entregou – Peguei uma muda de roupa pra você antes de vir.
Sorrio fraco em agradecimento.
❣️
Já passa das duas da tarde e ainda estamos aqui.
Não comi nada e minha cabeça está começando a doer.
Ouço passos e levanto a cabeça. John e Lena estão acabados. Ambos parecem exaustos e desolados.
Meu coração se aperta.
– Como ela está? – me levanto rápido e a Manu faz o mesmo.
– Ela acordou, mas ainda está fraca – a voz da mãe da Hannah embarga – Os médicos... A doença... Chegou a um estado que... O coração dela... – ela explode em soluços – Minha filha não vai voltar pra casa.
A notícia me atinge como um soco no estômago.
Todos em volta entendem o recado mais rápido do que eu e quando finalmente consigo recuperar fôlego suficiente para falar, para dizer que entendia, não consigo. As palavras ficam presas.
Não quero dizer que entendo, porque eu não entendo. Não quero entender.
Ela não vai voltar pra casa. Ela não vai voltar.
Minhas pernas cedem e caio na cadeira.
Fico surdo.
Ela não vai voltar.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto, violentas e silenciosas.
A Manu se encolheu outra vez, mas desta vez nos braços do Kaio. Não sei quando ele chegou. Ariane se apoia no irmão que também está chorando, em pânico.
Ele me olha. Não o olhar de sempre; ele me olha com compaixão e dor. Compaixão por mim, pelos pais da Hannah, pela irmã e pela Manu, por ele mesmo. Agora compartilhamos da mesma dor.
Me levanto e saio andando. Acho que alguém me chama, mas não paro. Não posso ficar aqui.
Não faço ideia de onde estou indo, mas continuo andando.
Ela não vai mais voltar.
As palavras se repetem na minha cabeça. Minha visão fica turva e começo a esbarrar nas pessoas. Não posso suportar perder mais alguém que amo.
Quando vejo já estou dentro do meu carro, gritando e gritando.
Sei que ela ainda não se foi, mas dói mesmo assim. Não sei se vou conseguir suportar quando ela realmente me deixar.
Bato no volante como se ele fosse o culpado de tudo, como se assim pudesse mudar as coisas. Mas não é assim que funciona.
Me assusto quando alguém bate no vidro da porta. Encaro ele sem dizer nada por um tempo, mas a expressão dele é amigável e não estou com clima pra brigas.
Abro a porta e ele entra.
– O que aconteceu, Alex? Por que está no hospital? – continuo soluçando – Confia em mim.
Nunca mais.
– Trabalha aqui agora? – limpo o nariz e seguro o volante com força – Desde quando ajuda as pessoas, Roland?
Ele me olha por um instante, mas então assente.
– Eu disse que tinha mudado – ele coloca uma mão no meu ombro e eu não recuo – Sou auxiliar de enfermagem.
Assinto.
As lágrimas secaram, mas ainda tenho um nó na minha garganta.
– O que aconteceu? – balanço a cabeça e olho para a aliança no meu dedo. – É com a Hannah? Posso ajudar de alguma maneira?
Mordo o lábio.
– Ninguém pode me ajudar – ao invés de se afastar ele me puxa para um abraço. Não recuo.
– Sinto muito – ele se afasta e sai do carro.
Fico ali sem dizer nada por um longo tempo, tempo suficiente para alguém vir me procurar.
A Manu me encontra encarando o painel do carro. Ela bate no vidro e faz sinal para que eu saia.
Abro a porta e saio. Minha mente está nublada e não consigo pensar em nada, apenas ajo por impulso.
– Eles deixaram a gente entrar, ela pediu – minha amiga mantem a voz baixa – Os pais dela disseram que talvez ela não passe de hoje.
Assinto. Com certeza ela estranha minha frieza agora, mas não tenho forças para demonstrar nada.
Eu a sigo até o quarto calado.
Tudo aconteceu tão rápido. Num momento estávamos juntos, nos divertindo e no outro eu já a estava perdendo.
A vida é apenas um sopro. A qualquer momento podemos morrer, de uma hora pra outra podemos perder a pessoa que mais amamos.
Quando a Manu abre a porta, meus sentidos retornam, assim como as emoções.
Ela está deitada olhando para a prima. Seus olhos estão baixos, a pele está mais pálida e os batimentos cardíacos estão fracos.
Meu coração se aperta outra vez.
Ando devagar até a cama. Quando me vê, ela sorri. Não um sorriso forçado; mas sim um sorriso verdadeiro, fraco mas verdadeiro.
Ah Hannah....
Dou a volta na cama e me abaixo perto de seu rosto, memorizando cada detalhe, cada traço.
– Oi – sua voz está fraca – Te assustei?
Faço que sim e ela franze as sobrancelhas.
– Desculpa – faço que não.
– Eu quem peço desculpas. – Ela sorri fraco.
Seguro sua mão e ela também segura a minha.
– Fica comigo? – engulo em seco, mas digo sim. Ela olha para os outros atrás de mim mim, seus olhos se enchem de lágrimas. É a hora da despedida.
Penúltimo capítulo, espero que tenham gostado ❤️
Adivinha quem chorou escrevendo o capítulo? Eu. Sem querer ser má, mas espero que mais alguém tenha chorado comigo 😢😢
Até o próximo!!
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De Volta Para Casa #RevelaçãoMaster2018
Roman pour AdolescentsUm menino; Uma menina; Dois amigos. Um rapaz; Uma garota; Um sentimento; Dois corações. Aos sete anos, Hannah foi afastada de seu melhor amigo Alex e agora que dez anos se passaram ela volta para casa. Mas volta com uma companheira inseparável. Com...