ANTES DE DORMIR

Rainha Viúva [14]

Durante esses anos as coisas se tornaram mais difíceis do que eu imaginava. Levou um tempo mas a Beatriz tem lidado bem com a perda, o Otto se esforçou em não demonstrar tristeza exagerada para que ela não se preocupasse com o fato de não poder ter mais filhos. Apesar disso eles são um casal feliz e que se amam. Acho interessante o amor que eles têm pela pequena Milena, tudo que eles dariam e fariam pela falecida princesa Heloísa, eles tem feito pela sobrinha.
        Quanto ao Ortiz fico preocupada com as atitudes que tem tomado, ele não me escuta como mãe. Sempre peço ajuda do Otto para tentar me aproximar dele, é provável que ele desconfie que eu tenho culpa no sumiço da Echilley. Eu jamais faria mal algum a ela, sei o quanto ele a amava e que fui a culpada por ele está casado com uma mulher que tem demonstrado cada vez mais ser egoísta.

Não faz muito tempo em que escutei uma conversa da Victoria com o Pai falando sobre desviar algumas vendas com o objetivo de trazer mais lucro ao nosso Reino. Será que ela não percebe que fazendo isso ela estará afundado o Reino Oeste? Ou será que é o que ela quer?

Estava indo conversar com o Ortiz quando escutei a conversa dele com o Otto.
— Não tenho notícias da Echilley.
— Otto será que eles estão bem? Fico tão preocupado, só de pensar que eu não posso fazer nada por eles.
— Mas você está ciente, não é? Existe uma possibilidade que ele pode não ser seu.
— Mas pode ser também. É muita coincidência, justamente no ano em que ela foi ver alguns parentes no Reino Leste.
— Reino Leste?
— O Reino que a Beatriz pertencia.
— Sendo assim posso tentar descobrir se ela realmente esteve lá, você sabe que ninguém sai e entra sem passar pelos guardiões.
— Tudo bem, faça isso mas em segredo. Não quero que a Victória desconfie.
— Apesar disso não entendo porque está distante da Victoria, sabe que mesmo que o filho seja seu vocês não podem ficar juntos.
— Não é por causa da Echilley, a Victoria não é mais aquela amiga com quem tomávamos chá. Eu vi uns hematomas na Milena.
— Isso é normal, crianças caem o tempo todo.
— Esses hematomas não são de quedas, e eles aparecem sempre que a Milena está com a Victoria.
— Do jeito que a conhecemos não podemos duvidar, mas isso não são provas suficientes​.
— Tem outra coisa, um pouco extremo.
— O que?
— O servo que viu a Echilley pela última vez me falou que a Victoria não caiu da escada.
— A empurram?
— Não, ela se jogou.
— Inacreditável.
— Mais inacreditável ainda foi ele ser assassinado na mesma noite que me contou.
— Se é assim a Victoria pode ser um perigo para o reino, ainda mais sendo Rainha.
— Não farei nada por enquanto,  quero que fique de olho nela. Ela está guardando algum segredo e irei descobrir.

Essa conversa não sai dos meus pensamentos. Onde eu estava com a cabeça quando juntei ela com meu filho? Tenho que investigar sobre essa garota.

Estava saindo do corredor que da acesso a sala de reuniões quando o Otto e o Ortiz abriram a porta me surpreendendo.
— Vossa Majestade! – diz Ortiz
— Filhos, não irei brigar se me chamar de Mãe.
— Estava escutando nossa conversa?
— Claro que não, Ortiz.
— Estava sim, mãe. – diz Otto
— Não era minha intenção, mas se o que acabei de ouvir for verdade precisamos fazer algo.
— Vossa Majestade não irá fazer nada. É uma ordem real que não se envolva neste assunto do Rei.
— Eu também sou uma Rainha
— Sim é, uma Rainha-Viúva.
— Porquê está sendo tão duro comigo? Eu só quero ajudar. A Victória pode ser um perigo para o Reino e para nós. Essa criança pode ser meu neto, um herdeiro do Reino.
— Mãe o Ortiz tem razão, é melhor não fazer nada por enquanto. Já estamos resolvendo isso. – diz Otto
— É tudo o que mais importa? O Reino?
— Ortiz! – grito
— Irei me retirar Majestade.
— Deixa ele mãe. – diz Otto.
— Eu não entendo, eu já disse que não fiz nada com a Echilley, porque ele não acredita em mim?
— Ultimamente as pessoas próxima a ele estão quebrando a confiança dele. Ortiz precisa de tempo.
— Tudo bem.
— Mãe, por favor não conta a Beatriz o que você escutou. Acho que isso mexeria com o passado e ela iria passar por tudo de novo.
— É claro, não farei.

Como combinado encontrei com a Beatriz e a pequena Milena para o piquenique. Apesar do que acabava de acontecer conseguia me manter firme, essas meninas conseguem fazer isso por mim, elas me deixam calma.
— Mamãe Beatriz. – diz a Milena
— Minha princesa, já disse que pode não ser uma boa ideia me chamar assim em público. A Rainha pode não gostar.
— Então a Rainha não gosta de nada. – ela responde
— Porque diz isso? – pergunto
— É simples, a minha "Rainha" não gosta que eu a chame de mãe.
— A Victoria tem um jeito diferente, é só isso. – Beatriz tenta amenizar
— "Daria tudo, até minha vida para escutar ela me chamar de mãe. Nem que seja por uma vez. Sei que essa sensação me faria sentir paz." – Milena cantarola
— Como? você... – percebo que a Beatriz muda de cor.
— Eu li seu diário tia, me desculpe isso não vai mais acontecer. Mas eu quero que você sinta paz. Eu sei como se sente, se minha mãe ou melhor a Rainha me chamasse de filha eu também me sentiria feliz.
— Não tem problema meu bem. – a Beatriz responde

Quando eu ia consolar as meninas um servo chamou a Beatriz. Parece que o Rei do Oeste, o pai dela veio vê-la.