Echilley [12]

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De longe avistei o Ortiz correndo com a bebê nos braços. Fiquei preocupada por não ver Suzana, espero que ela esteja bem.
— Junior, aqui. –  acenei mas ele não viu. – Ortiz, aqui! Sou eu, sua mãe.
— Mãe?
— Entre depressa na lancha.
— Mãe o que tá acontecendo? Porquê aquela mulher me deu esse bebê?
— É uma história longa filho. Primeiro vamos sair daqui, depois te conto tudo que está acontecendo.
— Pra onde estamos indo?
— K.Oa
— Mas é longe de casa.
— Escuta filho, ali no canto tem uma cama, coloca a menina nela e procura por algum dinheiro na lancha.
— Tá certo.

O Ortiz tem apenas quatro anos, mas era uma criança muito esperta e inteligente. Ele sempre me faz pergunta em relação a quem é o pai dele, é doloroso não poder contar nem a ele, nem ao pai sobre sua existência. Não sei como a Rainha iria lidar ao saber do meu filho, talvez ela abandonasse o Príncipe Ortiz por se casar com alguém que não é da Realeza. E acho que não quero que meu filho seja como as pessoas do palácio costumam ser, tiranos.
— Mãe! Tem muito dinheiro aqui. – disse o Ortiz
— Certo filho, agora pode ir dormir. Assim que chegarmos te acordo.
— Não vou deixar você sozinha.
— Mas quem disse que estou sozinha? Tem você e o bebê comigo.
— Qual o nome do bebê?
— É He… – antes que eu terminasse percebi que será melhor eu colocar outro nome na criança. – Anna Heloísa.
— Mãe gosta tanto assim da realeza?
— Como assim filho?
— O meu nome é o mesmo nome que o do Príncipe Herdeiro, e nome o da bebê é o mesmo nome da futura Princesa Herdeira.
— Seu nome é Ortiz porque combina com sua personalidade. É amoroso, inteligente e se preocupa com as pessoas mais do que si mesmo.
— Todos os Ortiz são assim? Quer dizer que o Príncipe Herdeiro é assim?
— Eu... eu não sei filho.
— E a Anna Heloísa? Porque deram esse nome a ela?
— Já disse que quando chegar​ irei contar, agora por favor vá dormir um pouco.
— Tá certo mãe.

A caminho de K.Oa me pergunto se farei certo em falar a verdade para o Ortiz. Mas sei que se não falar agora, com o passar do tempo contar a verdade aos dois será uma missão difícil, não posso controlar a reação deles.

Havia amanhecido quando chegamos ao cais de K.Oa. Lá conseguir vender a lancha por um bom preço, e informações sobre bons lugares para morar.
— Para onde estamos indo mãe? – disse Ortiz ao entramos no táxi
— Vamos morar um tempo aqui, tem um bairro perto da escola, lojas e mais.
— Essa cidade é muito barulhenta, mais que a Anna.
— Não é barulhenta só é diferente, movimentada. Você vai gostar daqui é só questão de tempo.

Chegando no bairro conseguir um aluguel em cima da hora, parece que as pessoas não gostam muito de morar no bairro Camorim porque é muito barulhento. A casa tinha tudo, não íamos precisar se preocupar com móveis.
— Mãe porque me fez trazer esses livros?
— Isso vai servir para educação.
— Mas conta toda história que já sei sobre o reino, não preciso aprender isso de novo.
— Mas a Anna vai precisar.
— Conta logo mãe, sou pequeno mas vou entender tudo.
— Sei que vai é um garoto muito inteligente.

Me esforcei em simplificar a história para o pequeno Ortiz. Ele entendeu tudo, era como se estivesse contando apenas um conto para ele. Ele é realmente muito inteligente.
— A Princesa Victória quer ter mais poder perante os outros reinos.
— Isso.
— Matar uma criança para conseguir isso não é certo. Se ela está sendo tão má assim acredito que o príncipe Ortiz também é mau, até mais que ela já que quem será o Rei é ele.
— Não diga isso nunca mais. — percebo que alterei a voz.
— Desculpa.
— Não meu bem, eu que peço desculpas, não deveria ter gritado. Só porque a Esposa do Príncipe é assim não significa que ele seja também, até que se prove isso.
— Você está certa, ele deve estar sendo enganado, pessoas falam que ele não a ama.
— O que importa é que temos que cuidar da princesa. Esse é um segredo que nem ela, nem ninguém pode saber.
— Irei proteger tanto ela quanto a você.
— Esse é meu garoto

Anos depois
Estamos conseguindo viver bem, as notícias que tenho sobre o palácio é as que vejo nos jornais. Parece que a Suzana não conseguiu sobreviver, visto que ela nunca mais apareceu.
        Atualmente tenho trabalhado na mesma escola que as crianças, como jardineira. Cada dia que passa o pequeno Ortiz, que está com 9 anos, se parece mais com o Príncipe. Ouso em dizer que está ainda mais bonito. Já a pequena princesa a Anna Heloísa, com 5 anos é encantadora, ela lembra muito os traços da Rainha Lídia.
— Tia, já vou dormir. – ela diz.
— As atividades já estão feitas? – pergunto
— Já estão sim.
— Então tudo bem.
— Não vai contar a historinha hoje?
— Ah de novo não, todo dia essa história. – diz o Ortiz reclamando.
— Gosto de imaginar que sou uma princesa.
— Não liga para ele, está com ciúmes. – respondo
— Está com ciúmes porque? O príncipe tem o mesmo nome que o seu, você pode fingir que é ele. – responde a pequena Heloísa
— Obrigado pela oferta, mas vou rejeitar. Prefiro ser eu mesmo, o pobre Ortiz feliz que se casa com quem ama.
— De novo não, parem com essa discussão crianças. – os interrompo
— Só me conta o resto da história.
— Onde parei mesmo?
— Da parte em que a empregada foge para salvar a herdeira. Lembra dessa parte mãe? Eu era pequeno quando a ouvir, mas lembro como se tivesse vivido. – diz Ortiz.
— Ah sim, essa parte. – o belisco fazendo com que fique quieto.

ANTES DE DORMIROnde histórias criam vida. Descubra agora