Capítulo XII · Segredos

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    O vestiário estava cheio de pessoas, homens e mulheres, a correr de um lado para o outro. Vestiam as suas roupas à pressa, certamente por terem medo de chegar atrasados aos postos de trabalho. E no meio dessa correria estávamos nós, eu e Amelia, ainda à espera que o resto do grupo aparecesse.

    Ao fundo do corredor lá estavam então Sandra, Spencer e Maggie. Um pouco nervosos por chegarem atrasados, mas chegaram felizmente.

    – Finalmente! – Desabafou Amelia, um pouco distante.

    – A fila nunca mais andava mana, foi difícil chegar aqui! – Protestou Spencer, com a sua maneira calma de falar.

    – Como é que chegamos lá em cima? – Perguntou Brad, ostentando uma expressão um pouco duvidosa.

    – Não chegamos. – Respondeu Maggie. – Todos os cartões dão apenas até ao nível cinco da central, nós temos que entrar no nível doze.

    – Se conseguíssemos roubar a alguém cartões de nível doze era perfeito. – Observei eu, um pouco nervoso.

    – Mais depressa casas com Brad do que arranjas um paspalho com sete cartões iguais de nível doze. – Contestou Sandra.

    Mal Sandra disse aquilo, o meu olhar cruzou com o de Brad. Não foi um olhar intenso, mas quase telepaticamente ele conseguiu dizer "Preciso de falar contigo urgentemente". Fiquei curioso.

    – Se desligassemos as câmeras de vigilância era muito mais simples. – Explicou Maggie. – Assim nem sequer precisávamos de cartões.

    – E como é que fazíamos isso sem dar nas vistas, loirinha? – Disse a ruiva.

    – Precisamos de descobrir uma sala de controlo algures. Já que somos operadores, devemos passar por aí. – Respondeu.

    Dei conta de Sandra querer dizer alguma coisa, mas foi interrompida por um homem. Estava a chamar por todos os "camaradas" que faziam parte das equipas de limpeza, segurança e consultoria. O mote de pessoas dividiu-se em três e nós, um pouco confusos, lá nos metemos no segundo.

    Quando saímos dos nossos vestiários, com todas aquelas pessoas, reparei noutro grupo, saídos de outra sala, que seguiam a mesma direção que nós. "Eram os de Leão", veio-me à memória.

    – Um destes ignorantes vai-nos denunciar de certeza, mas se perdir-mos ajuda a um Leonino? Talvez tenhamos mais sorte. – Afirmou Sandra.

    Algo naquela frase fez-me repensar o caso de Maggie na nossa equipa. Gémeos era de facto o signo mais instável de todo o zodíaco, nada nos garantia que a nossa nova recruta iria ficar sempre do nosso lado. Mas por outro lado algo nela me dizia que era de confiança, foi por isso que a acrescentei ao grupo, e não me arrependo.

    – Tentar não custa, mas se falhares, falhamos todos minha. – Observou Brad. – Podemos, no entanto, perguntar-lhes sobre onde ficará a sala de controlo.

    – Silêncio! Silêncio, aí atrás!

    O homem que nos guiava parecia ser um temível, com as costas extremamente direitas e com um bigode liso e grosso. As suas expressões faciais nunca envolviam um sorriso, mas sim uma cara austera. Não conseguia dizer se ele realmente era assim ou se estava a interpretar um personagem.

    Qualquer das formas, fomos conduzidos ao lobby da central, que dava acesso a um elevador. Consegui ficar sozinho com Brad, apenas por um instante. Pensei que fosse dizer algo sobre aquilo que Amelia me contou há pouco, mas não.

    –Sabes Phael, existem algumas coisas sobre o teu passado que se calhar eu preciso de te contar. – Começou.

    – Sobre o meu passado? O que aconteceu Brad, estás a preocupar-me.

    – Quando tu eras mais novo...

    – Silêncio! Porquê tanto barulho camaradas?

    Para acabar com a nossa conversa, começaram por nos destribuir e atribuir um piso. Tentámos ficar juntos, e conseguimos. Eu e Sandra, Spencer e Maggie, Amelia e Brad, eram estes os pares, todos nós com o único objectivo de chegar á sala de controlo.

    Pouco passou até eu e a ruiva ficarmos sozinhos no piso quatro. Não tendo como comunicar com o resto do grupo era difícil saber se algum deles tinha conseguido chegar ao objectivo, mas de alguma maneira iríamos saber.

    Ninguém fez conversa, o que deu espaço para me lembrar do momento que tive com Amelia. Pareceu-me surreal o facto de Brad gostar de mim, nunca tinha pensado nele dessa forma. Sempre o vi como o meu melhor amigo, não nego no entanto a satisfação que me dá ao saber disso. Mas porque é que ela saberia dessas coisas primeiro que eu? E porque é que esse assunto foi falado para todos sem eu estar lá?

    – Para quê essa cara miúdo? – Perguntou Sandra, surpreendendo-me com o seu ar genuinamente preocupado.

    – Estou a pensar nalgumas coisas que não me saem da cabeça. – Respondi.

    – Se puder ajudar. – Pensou um pouco. – Qualquer das formas vamos ficar presos neste corredor durante algum tempo por isso qualquer tema de conversa é bem-vindo.

    Ponderei por poucos segundos questiona-la sobre Brad. Talvez pudesse saber de algo, mas rapidamente desisti, a vergonha de falar nesse assunto consumiu-me.

    Meia hora passou até as coisas começarem a correr mal. Seguranças a correr em direção ao gigante elevador, um barulho estrondoso que ecoou por toda a Central. Sandra perguntou o que se estava a passar, mas a única resposta que conseguimos captar foi "traidor morto". Ambos olhámos um para o outro, como se telepaticamente estivéssemos a perguntar se teria sido um dos nossos. Por enquanto nenhum de nós conseguia responder a essa pergunta.

    Até que ouvimos alguém, um pouco longe, chamar pelos nossos nomes.

A Guerra do ZodíacoOnde histórias criam vida. Descubra agora