Capítulo IX · Segurança

57 36 5
                                    

    Cá estamos nós, dentro do sítio mais perigoso da Facção, o Mercado Negro. Aqui parecia que os edifícios eram ainda mais escuros, mas era provavelmente só impressão minha. Era estranho pensar num sítio sem vigilância do Regime, diria que era impossível até ver este sítio.

    – Tenho a sensação que posso ser esfaqueado a qualquer momento. – Afirmou Spencer, pela primeira vez um pouco nervoso.

    – E podes. – Começou Sandra. – Continua a falar alto. Basta isso.

    – Shhh, chega. – Afirmou Maggie, um pouco irritada.
    Continuámos a seguir a loura porque era a única que sabia o caminho, em silêncio. Lá percorremos ruas estreitas e mal-cheirosas até chegarmos ao nosso objectivo.

     Mantinha a mesma cor que os outros prédios mas este não tinha janelas, dando-lhe um aspecto gótico meio estranho. Tinha apenas uma portinhola acastanhada e foi lá que Maggie bateu. Ouviu-se logo um ronco vindo de dentro, uma voz masculina, muito grossa.

    – Quem é?

    – É a irmã do Jackson. Mike, eu preciso de um favor teu.

    Um trinco abriu, e a porta fez o mesmo. Lá de dentro saiu um homem, talvez pela idade de Sandra. Alto e moreno, com uma pose furtiva e ameaçadora. Na minha cabeça veio-me a ideia de que todos aqueles traços brutos e maus faziam parte de um disfarce, mas não podia afirmar nada com certeza.

    – Maggie, há quanto tempo! – Parou de falar quando deu conta que ela não estava sozinha.

    – São meus amigos, não te preocupes. Confia em mim.

    O homem, que pelos vistos se chamava Mike, suspirou. Lançou o braço para dentro do prédio, deixando-nos entrar. Por dentro, tudo era diferente, quase como se estivéssemos noutra Facção qualquer. As paredes eram brancas, a mobília de cores neutras, tinha vários cortinados e tapetes e até música ambiente se ouvia. Tudo aquilo era ridículo, era impossível o Regime não ter dado conta disto.

    Maggie chamou por mim, mas só passado um pouco é que tomei consciência suficente para lhe responder. Quando olhei para ela, vi uma expressão de preocupação, o que me fez lembrar de Brad. É a exata expressão que ele me faz quando eu me perco nos meus pensamentos.

    – Ouviste alguma coisa do que eu te disse?

    – Não, acho que não. Desculpa. – Respondi.

    – Vamos então clonar cartões Phael, só precisas de o dar a Maggie. – Explicou Amelia.

    Pus a mão ao bolso e estendi logo o cartão, a rapariga desapareceu logo a seguir, com Mike. O resto do grupo ficou na detalhadamente decorada sala de espera.

    – Eu até que gostei da miúda. – Começou Sandra.

    – Tem uma vibe fixe, parece-me de confiança. – Continuou Spencer.

    – Pergunto-me como é que o irmão tinha acesso a este mundo. E porquê. – Contrapûs eu.

    – Pergunta-lhe a ela, já que são amigos, de certeza que ela te conta. – Afirmou Amelia, com um ligeiro tom amargo, o que me deixou surpreso. Estaria com ciúmes?

    – Com ciúmes baixinha? – Sandra leu-me os pensamentos – Do Phael?

    – Não, eu não tenho ciúmes do Phael, Sandra.

    – Manos, eles estão a voltar.

    E estavam mesmo, passado quase meia hora de conversa fiada entre o grupo, Maggie e Mike reuniram-se connosco na sala de espera. Não passou muito tempo até que alguém falasse.

    – Acho que não me cheguei a apresentar corretamente. O meu nome é Mike, sou o antigo capitão de segurança do Regime, agora como vêem fico feliz por quem o quer destruir.

    – O Mike é tio do meu irmão, foi ele que lhe deu trabalho e também foi ele que o viu morrer. Conhece-nos desde pequenos. – Explicou Maggie.

    – Prazer, sou Sandra. – A Virgem apressou-se a estender a mão ao homem, que a beijou, agachando-se.

    O momento tornou-se estranho e ficaria assim se de Gémeos não interrompesse.

    – Já temos os cartões pessoal, todos os seis. – E entregou-nos os tais cartões.

    – Tu vens connosco? – Perguntou Brad, confuso.

    – Vou sim, afinal agora pertenço ao vosso grupo certo? – Todos assentimos, no entanto alguns de nós hesitaram.

    Despedimo-nos de Mike, agradecendo pela ajuda. Íamos sair pela porta da frente, mas o homem aconselhou-nos a não o fazer, como medida de segurança. Saímos então discretamente pelas traseiras, um por um, escondendo-nos nas ruas apertadas da Facção. Para nosso azar fomos interpelados por dois Gemenianos á saída, estavam ambos a fumar, encostados a um caixote de lixo. Não tardaram em se meter conosco:

    – Então, a pedir favores ao Mercado Negro? - Perguntou um deles com um ar ligeiramente arrogante.

    – Têm noção que estão a cometer vários crimes, certo? – Perguntou o outro, no mesmo tom.

    – Metam-se na vossa vida. – Avisou Amelia, com um tom ligeiramente agressivo. – Não têm nada a ver com o assunto.

    – Certo, temos aqui uma chica esperta. – Afirmou o mais alto, a rir.

    – Precisamos de lhes ensinar as maneiras do lado mau de Gémeos, companheiro.

    Ambos vinham na nossa direção, preparados para bater em Amelia e talvez a nós também. Tudo o que eu fiz foi agarrar-me ao colar de meia-lua de Wyatt e pedir por proteção. Pelos vistos ele ouviu.

    Quase aleatoriamente, antes que pudessem fazer alguma coisa, um dos homens recebeu uma chamada. Atendeu.

    – Sim... Sim, claro... Certo, é pena, mas respeito... Até mais. – Dei conta de fazer sinal ao outro com o olhar.

    – Infelizmente senhores, teremos que tratar de vocês depois. – E foram-se embora.

    – Eram polícias, tenho a certeza. – Disse Spencer.

    – Se eram ou não agora não interessa, vamos sair daqui o quanto antes. – Incutiu Maggie.

    Voltámos então para casa dela. Já se fazia noite em Gémeos, pelo que tivémos de dormir lá. Arranjamo-nos o melhor que pudemos e acabámos todos por adormecer.

A Guerra do ZodíacoOnde histórias criam vida. Descubra agora