Capítulo XIX · Meia-lua

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    – Maxwell acabou por escolher o rapaz. Seja por sexismo, seja pela sua competência escolheu-o. De tão louco que estava pelo poder, o seu filho acabou por tomar a maioria das decisões certas, felizmente.

    Olhei para o espólio outra vez, e de facto abaixo de Maxwell estavam dois outros retratos, mas o do rapaz não tinha legenda, mas era-me estranhamente familiar, onde é que eu podia ter visto este homem? Seria ele da região de Touro? Mas sendo filho de um ditador não iria viver na Facção conosco. Qualquer das formas, Jaden continuou a falar.

    – A irmã. – E apontou para ela. – Percorreu o caminho oposto no que toca a decisões. Com os seus sonhos e desejos destruídos acabou por formar uma rebelião, e o final deles é estranhamente semelhante ao vosso. Demorou ainda alguns meses até o irmão não ter outra alternativa senão eliminar Kimberly, a irmã, e o seu grupo. Aquela pequena sala, escondida debaixo da estação de transporte, tu sabes do que é que eu estou a falar, já foi uma sala de chacina.

    – Como é que sabe dessa sala? – Perguntei, confuso.

    – Eu sei de tudo Phaelix, tudo, mas... – Parou.

    Voltou-se para os quadros e estendeu a mão para o quadro da rapariga, Kimberly era o nome dela. Era uma rapariga bonita. Morena, com olhos castanhos. Era parecidíssima  com o irmão. Continuou a conversa anterior, mesmo eu não percebendo o contexto disto tudo. Os meus amigos estavam presos, quem sabe se já não estariam mortos, e o Grande Ditador estava a contar-me uma história. Ridículo.

    – Prepara-te, agora vem a parte interessante desta história. Kimberly estava grávida, mas só depois de ser morta é que o seu irmão pôde ver o volume irregular da sua barriga, mas melhor tarde que nunca. – Vendo a minha cara de preocupação com o que é que ele iria dizer a seguir, prosseguiu com cuidado, para não me chocar. – O irmão dela era infértil, portanto aquele feto foi quase como um milagre, possibilitando o seguimento da melhor família que a ditadura alguma vez teve, sem falar da herança cultural que deixaria para as gerações futuras. Não pensando nos meios, Phaelix, o irmão atingiu os fins, ordenando a um dos seus soldados que retirasse o feto do corpo da mãe, antes que esse morresse com ela.

    – Eu entendo o porquê, mas como é que ele foi capaz de fazer uma coisa dessas com um cadáver? O cadáver da sua própria irmã?

    – Tal como eu te disse, ele seria o herdeiro do trono. O bebé prodígio. Um milagre. – E dei conta de se entusiasmar quando pronunciava aquelas palavras. – O irmão fez questão de lhe passar os conhecimentos do pai, contados exatamente da mesma forma, preparando a nova criança, o seu sobrinho, para governar, um dia, a ditadura. Mas as coisas acabaram por não resultar tão bem quanto esperado. – E apontou para o espaço em que era suposto estar o retrato dessa criança.

    Onde estaria ele agora? Era essa a minha maior pergunta. Seria ele o ditador e Jaden não passava de uma peça no tabuleiro? Era por isso que a família Graves continuava no governo? O homem que estava a minha frente acabou por me esclarecer as dúvidas.

    – Condicionava mais o meu trabalho do que ajudava, e em vez de pensar no futuro a longo prazo, acabei por agir impulsivamente, pensando só em mim mesmo. Foi um dos meus maiores arrependimentos. – E começou a falar na primeira pessoa, deixando-me perdido. – Entreguei o bebé a um Taurino demasiado desesperado com o que lhe aconteceu para a negar uma segunda oportunidade. Depois tive de mudar drasticamente a minha vida.

    – Porque é que está a falar na primeira pessoa? Como é que se enquadra nesta história?

    Ele não me respondeu, pelo menos não com palavras. Aproximou-se de mim, lentamente, e tirou do bolso do seu blazer um cordão com uma meia-lua. Era exatamente igual ao meu, aliás, o cordão completava o meu.

A Guerra do ZodíacoOnde histórias criam vida. Descubra agora