Capítulo XV · Arrepio

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    Quanto mais nós subíamos, mais a ansiedade se ia acumulando, todos nós estávamos apavorados sobre o que o que iria acontecer ao chegar ao piso doze, podíamos muito bem morrer. Mas escolhemos acreditar que não.

    A tensão entre  o grupo era também imensa. De facto, nenhum de nós sabia o que se tinha passado entre Maggie e Spencer, e isso era assustador. Quais seriam as razões da morte, e o que queria ela ganhar com isso? Não conseguia responder, o que me fez pensar também na possibilidade de ela não o ter morto de propósito.

    A loura já estava mais calma, felizmente, o choro já tinha passado, mas nunca em momento algum proferiu palavra. Contrastando com Abigail, que surpreendentemente tentava ao máximo acalmar a situação entre Sandra e Maggie.

    – Alguém tem algum plano formado para quando entrarmos lá dentro?

    – Por enquanto não. – Respondi eu. – Acho que só quando chegarmos lá é que improvisamos.

    – Isso não me parece certo, improviso é o plano de reserva, não o principal. – Observou a mais velha, um pouco desiludida com a resposta.

    – Mas um plano concreto vale o que vale não é, querida? Tantos planos formados, tanta confiança posta neles e de repente tudo se vai por causa de um pormenor inesperado. – Sandra estava a falar com a outra rapariga, mas à medida que ia justificando o seu ponto de vista, ia-me também lançando olhares desesperados.

    No entanto não consegui ver aquilo como um ato de má vontade. O melhor amigo dela acabou de morrer, era normal Sandra reagir desta forma comigo.

    – Peço desculpa. – Começou Maggie, espantando todos. – Eu não quis matá-lo Sandra, não o fiz de propósito, mas aconteceu, e o tempo não volta atrás. Vamos ter de trabalhar juntas, quer queiras ou não, por isso este ambiente não nos ajuda em nada.

    Com um olhar revoltado mas decidido, a loira decidiu voltar a encolher-se, com medo da resposta feroz que pudesse ser dada pela ruiva. Esta ajeitou uma mecha do seu cabelo ruivo meio encaracolado atrás da orelha e disse:

    – Tens razão, loirinha. O tempo não volta atrás, mas não te vou dar o benefício da dúvida. Desde que entraste para o nosso grupo sempre fiquei de pé atrás contigo. – Fez uma breve pausa e continuou. – Para mim não passas de uma grande atriz. – E começou a bater palmas.

    – Vão trabalhar juntas porque realmente tem de ser, depois disto não interessa se se põem a vista em cima. Acabem com isto. – Avisou Abigail.

    – Ela matou o meu melhor amigo, estás à espera que a abrace e finja que nada aconteceu?

    Maggie não respondeu. No tom em que Sandra deixou a conversa era difícil alguém arranjar uma resposta.

    Ela, Mike e Abigail formaram então um pequeno grupo, a falar das suas próprias coisas, provavelmente os outros tentavam acalmar a ruiva. Eu e a de Gémeos ficámos para trás. A mão dela que estava agarrada à minha era fria e trémula, e pedia ajuda gritando em silêncio. Arrepiei-me, até que ela sussurrou para mim.

    – Achas que ela me vai perdoar?

    – Não agora. Aquilo que tu viste é a sua maneira natural de lidar com a dor. Mas sim, com o tempo é capaz de te aceitar de volta. – Respondi.

    – Eu... Eu não o matei literalmente Phael. Eu não o matei, eu não puxei de um gatilho. A minha cabeça é que o fez. Eu matei-o com as minhas escolhas.

    – Falamos deste assunto quando sairmos deste inferno, pode ser? Agora não é o momento certo.

    Ela assentiu, talvez um pouco mais confortável. Finalmente chegámos ao piso doze. Toda a estética deste piso era completamente diferente do resto da Central. As paredes deixaram de ser cremes e passaram a ser pretas com rodapé vermelho, as portas adotaram a mesma cor e as luzes brancas fluorescentes pareciam mais amareladas ali. Tudo composto para dar um cenário sinistro.

    O corredor não tinha portas à exceção de uma. Era uma portada preta adornada com anjos dourados e pequenos diabos vermelhos no fundo. Era tão chamativo mas tão mórbido ao mesmo tempo, que me voltou a arrepiar.

    Após um pequeno teatro gestual entre todo o grupo acabámos por decidir que eu seria o primeiro a entrar e a completar o serviço. Mike quis fazê-lo, mas eu consegui desencorajá-lo. Queria ser eu o pioneiro, queria ser eu a por um ponto final a esta história. Tudo em honra de Wyatt, meu pai de coração.

    Antes de ir Maggie chamou-me. Riu-se pela primeira vez quando olhou para mim, e estendeu logo a mão ao bolso. Arrancou de lá o meu colar, aquele que lhe ofereci à pouco.

    – Fica com ele, precisas mais da força dele do que eu.

    Agradeci, voltei a colocar o colar de Wyatt ao pescoço e continuei. Passo após passo, devagar para não atrair atenção para mim ou para o meu grupo.

A Guerra do ZodíacoOnde histórias criam vida. Descubra agora