Uma hora e meia, era o tempo que eu estava na porta do quarto de Nice, esperando ela terminar de se vestir para o noivado, sabia que ela costumava demorar, entretanto já estava exagerando bastante e ainda estava tendo ajuda da dama de companhia.
- Vamos lá, Nice! A festa é hoje, não semana que vem! - exclamou, batendo na porta pela terceira vez; admito que já estava irritado.
- Como esses homem são chatos, não sabem esperar uma dama. Já pode entrar! - ela fala do outro lado, para minha alegria.
- Se comporte como uma dama, então. - entrei no quarto e realmente ela estava muito bela. - Você fez um lindo trabalho, Amália.
Os cabelos bem arrumados, as bochechas acentuadas, as pálpebras e arredores dos olhos levemente pintados de dourado e os lábios vermelhos: com certeza não era trabalho da rainha, já que ela odiava se arrumar daquela maneira. Segundo ela, a beleza natural não podia ser substituída por uma máscara colorida.
- Muito obrigada, foi bem complicado fazer com ela reclamado o tempo todo. - a dama de companhia sorriu; uma mulher muito agradável de cinquenta e cinco anos, que também estava muito bela, com um vestido amarelo e com os fios brancos bem arrumados.
- Eu sei bem como é essa peça. - não pude evitar o sorriso.
- Vamos parar, pois a rainha está presente e pode mandar executar todos vocês. - Nice fingiu uma cara zangada, mas logo deixou um sorriso escapar - Vamos logo, antes que eu desista desse casamento.
Nos dirigimos para o portão fronteiro do castelo, onde uma carruagem dourada e totalmente enfeitada com ramos de flores, feitas de prata e puxada por dois lobos gigantes, estavam aguardando-nos, junto de cavaleiros com armaduras vermelhas, prontos para fazer a guarda da rainha.
- Será que ele é bonito? - Nice questiona, após entrarmos na carruagem.
- Ele tem vinte e seis anos, eu nunca o vi, mas deve ser bonito. - tentei deixar ela um pouco mais calma, mesmo não querendo o casamento por completo, ainda era um acontecimento importante na vida de uma mulher.- Obrigado por estar comigo hoje, acho que finalmente vamos ter o que nossos pais desejavam. Uma pena eles não estarem aqui para ver o fim dessa maldita guerra. - ela falou com firmeza, porém também era possível perceber a tristeza.
Tanto meus pais quanto os de Nice, haviam morrido em batalhas ou em decorrência delas. A paz depois de tanto tempo era uma coisa tão boa que ela não pensou duas vezes em fazer a proposta sugerida pelo conselho da cidade, mesmo que isso significasse casar com alguém que ela nunca viu.
- Eu sempre vou estar aqui com você, não chore ou vai borrar a maquiagem e a Amália vai fazer seu futuro marido ficar viúvo. - segurei as mãos dela e sorri, vendo ela concordar balançando a cabeça de forma lenta e positivamente.
Chegamos ao local da festa e os guardas do imperador já se encontravam lá, então deduzi que a linhagem real de Iron City já havia chegado.
- Está pronta? - falei com a mão na porta da carruagem, pronto para abrir.
- Sim, vamos à este casamento. - após falar, ela coloca um sorriso no rosto para os convidados.
Entramos no salão e nossa chegada foi anunciada, as pessoas abriram caminho até os tronos, onde estava o imperador e o príncipe, que como eu esperava era deveras bonito. Os olhos dourados não perdiam a beleza, mesmo estando fundos, o rosto era bem marcado, os cabelos negros se estendiam até os ombros, a roupa marcava bem o corpo definido.
Segui com Nice até o príncipe e fiquei ao lado dela, até a mesma ir para o meio do salão iniciando assim a primeira dança dos noivos.
Após a dança, eles ficaram duas horas respondendo perguntas e mais perguntas; pessoas ricas são muito chatas e irritantes.
- Eu preciso de um tempo longe dessa gente rica. - sussurrei no ouvido de Nice, que concordou; ela sabia que eu não gostava de festas lotadas de gente gananciosa, mesmo do nosso próprio reino. - Olhos atentos na rainha.
Passei as ordens para os guardas e finalmente consegui um tempo. Como não era famoso, ninguém tentou me parar com conversa fiada.
Saí do salão por trás. Graças aos deuses, a parte de trás estava vazia e assim consegui respirar o ar puro das flores que ali estavam. Comecei a desabotoar o casaco, contemplando o céu repleto de estrelas.
- Não acredito que nunca estive em um lugar como esse. - falou o noivo, parado à dois metros distância, olhando para as flores.
- Príncipe Valerian. - fiz uma pequena reverência, mas ele sorriu fazendo um sinal com a mão, para que eu parasse.
- Não precisa de formalidades, me chame só de Valerian... - consegui notar uma tristeza na voz e na face dele, era uma tristeza mais forte que a de Nice.
- É um prazer lhe conhecer oficialmente, sou o guarda real e me chamo Herácles. - deixei um pequeno sorriso escapar por entre meus lábios, antes de continuar. - Como você conseguiu fugir daquela multidão?
- Por sorte. Eles não querem falar comigo, o interesse deles e falar sobre aumento de lucro. E você? Não deveria estar com sua rainha? - ele retirou a cartola e passou as mãos nos cabelos, bagunçando levemente os fios.
- Também precisei respirar um pouco, odeio lugares cheios. - respirei fundo mais uma vez, sentindo a brisa agradável. - E existem outros bons guardas, protegendo a rainha...
- Você é um cara legal. Mas, então, depois do casamento você vai ser meu guarda real também? - os olhos dourados se voltaram para mim e não pude evitar de olhar para ele também.
- Creio que sim, já que o planejado é você se mudar para o nosso reino.
Ele diminui a distância entre nós com alguns passos, parando à quarenta centímetros de mim, olhando-me de forma estranha.
- Se eu fizer uma coisa agora, só para aproveitar meus últimos momentos, você promete não matar seu futuro rei? - ele falou olhando para o chão, consegui ver o peito dele se mover, como se estivesse respirando profundamente para tomar coragem.
- Sim, eu acho, se você não tentar me matar. - tentei sorrir, fingindo que não estava estranhando o pedido.
Os próximos segundos foram inexplicáveis, senti os lábios macios e quentes pressionando os meus, as mãos puxando meu casaco e a distância que nos separava não mais existia. O beijo foi casto e não durou mais de três segundos. Quando ele se afastou, eu não sabia o que falar, realmente fui surpreendido pelo rapaz.
- Obrigado... - foi o que ele falou olhando o chão, antes de me deixar ali no meio da noite, ainda mudo.
Creio que quase sempre é preciso um golpe de loucura para se construir um destino.
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Engrenagens do Destino
Romance(Romance Gay) Paz é uma somente uma palavra para dois reinos que sempre estavam em guerra, até que finalmente a rainha propõe um acordo para tornar aquela palavra em realidade. Tal acordo, clássico, incluía um casamento entre o príncipe Valerian...