Depois da visita de Héracles e a conversa que me deixou muito envergonhado, estava me sentindo bem melhor e, não só, fisicamente. Mesmo nunca estando no reino de Eudara antes, o lugar me passava uma paz e uma segurança, que senti poucas vezes estando na minha cidade de origem. Certamente, isso vinha muito dos moradores da cidade.
Após o jantar, que uma simpática moça trouxe ao meu quarto, consegui dormir muito bem e acordar bem disposto no dia seguinte, quando teria um encontro com minha noiva. Resolvi me vestir da forma mais elegante possível para demostrar minha estima.Entretanto, fui totalmente contrariado. A rainha Nice chegou ao meu quarto e não estava vestida formalmente, apesar de continuar muito bela, me pedindo para retirar o terno. Tinha que admitir que não estava muito confortável, mas como ela era a rainha, eu apenas obedeci. Deixei o terno em cima da cama e segui com ela pelos corredores.
Era intrigante a forma que ela falava comigo, mencionando Herácles algumas vezes. Aparentemente, ela sabia de alguma coisa, porém, de forma alguma demostrava estar irritada, tornando o caminho até a mesa do café da manhã muito agradável.
Fiquei impressionado com a incrível visão da cidade e das inúmeras cachoeiras, que davam origem a diversos arco-íris, graças a ação do sol, que brilhava intensamente naquela manhã. Pensar que alguém podia ver aquilo todos os dias ao acordar era realmente invejável.
Não sendo bastante o grande banquete, tendo a bela visão como cenário, Nice resolveu demonstrar também uma magia. Algo que eu achava impressionante, saber que alguém conseguia executar tarefas sem a presença de máquinas, apenas usando palavras. Não que a tecnologia de Iron City e as coisas que Lucas criava, fossem menos impressionantes. Porém, a magia era diferente, desconhecida e bela.
- Então, o que você fez exatamente? - Consegui arrancar uma risada dela, mas eu realmente não sabia o que ela havia feito para estarmos seguros.
- Esse amuleto é uma relíquia da minha família, ninguém consegue escutar o que falamos agora - Nice sorri mais travessa. - Agora me conte, o que você sente pelo Herácles?
Quando escutei a pergunta, quase me engasguei com o líquido doce e desconhecido que havia acabado de levar a boca.
- Desculpe... - Fiquei sem saber o que falar, não estava esperando uma pergunta tão direita. Sabia que ela já tinha algum conhecimento, mas não esperava que fosse tanto.
- Não se preocupe. Herácles me contou tudo, mas não estou com raiva de você e isso não é um problema para mim. - Ela fala com uma naturalidade impressionante, que me fez pensar como dois governantes podiam ser tão diferentes.
- Eu não sei bem, acho que somos como amigos... - Tentei controlar a vermelhidão do meu rosto, tinha que disfarçar melhor certas emoções. - Ele se afastou por minha causa?
Liguei uma coisa à outra e cheguei à conclusão de que talvez ele não estivesse gostando de toda aquela situação. Herácles parecia ser muito correto e isso estava totalmente errado, a forma como aconteceu. Com esse pensamento, acabei me sentindo mal, já que tudo era culpa minha.
- Não fique triste, ele não se afastou por sua causa. - Achei estranho que, tanto Herácles quanto Nice, pareciam saber exatamente o que eu estava sentindo. Resolvi deixar isso para perguntar outra hora. – Infelizmente, ele carrega uma culpa que pertence à minha linhagem e por mais que ele seja a pessoa mais calma que conheço, às vezes, ele fica vulnerável também...
Dessa vez, consigo notar seus sentimentos. Nice carregava culpa e tristeza em sua voz. Certamente, a rainha não era a culpada, mas parecia sentir que era.
- E que maldição seria essa? - Por mais que encerrar o assunto fosse o melhor a se fazer, não consigo segurar minha curiosidade atrás dos meus lábios.
- Bem, os membros da linhagem real têm a habilidade de influenciar pessoas mais fracas. Podemos dar ordens que, quase sempre, são obedecidas. Mas, quando ainda éramos um reino pequeno, costumávamos sofrer diversos ataques e o rei Aqueronte, teve a "brilhante" ideia de ampliar esse poder, usando magias proibidas. - Ela aparentava estar com vergonha da história, o mesmo sentimento que eu tinha com meu pai. - Ele falou com o povo e eles também concordaram, fizeram um ritual e por um tempo realmente funcionou. Porém, o ritual também deu origem a um mal tão grandioso quando o poder que eles criaram. Demos o nome de “olho de Aqueronte”, a maldição aparece no olho da vítima e tem o poder de destruir toda uma cidade...
- Mas Herácles não é da linhagem real e já faz um certo tempo, não? - Era uma história assustadora, não pude evitar de me sentir mal por Herácles.
- Não, mas a maldição passa entre o nosso povo, todos que concordaram com a criação dela. Não importa qual a linhagem, assim que o portador morre, o olho aparece em outra pessoa.
- E como o Herácles a mantém assim? Ele nunca saiu do controle? - Até era de certa forma compreensível, já que ele parecia ser muito calmo.
- Só aconteceu uma vez. Noite passada, graças ao seu pai. - Quando ela menciona o nome de meu pai, fico confuso. Estávamos bem distantes dele.
- E o que ele fez? – Ousei perguntar, com medo da resposta e raiva do meu pai.
- Herácles usa aquela venda no olho esquerdo porque ela é um selo, que impede a maldição de se ativar. Entretanto, ontem assassinos mandados por seu pai tentaram matá-lo, e como o Herácles já estava com raiva do que ele havia feito com você, uma raiva se misturou com a outra e, por um instante, a maldição se ativou.
Fiquei boquiaberto, em um misto de raiva e vergonha, principalmente porque a culpa parecia ser minha. Tudo estava voltando de certa forma para mim. Não consegui prever que meu pai teria tamanha maldade, porém outro pensamento invadiu de imediato minha mente, será que Herácles estava bem?
- Como Herácles está? Eu peço desculpas, é tudo culpa minha... - Nice coloca sua mão sobre a boca.
- Não deve pedir desculpas, nem tomar para si a maldade dos outros, mesmo que seu sangue seja o mesmo. Foi o que Herácles me falou e agora eu falo para você, ele sabe se cuidar muito bem e seu pai não tem a mínima chance. - Ela sorri para mim, e eu não tinha mais o direito de reclamar, depois de tais palavras.
O desejo da glória literária é de todas as ambições a mais inocente, sem ser todavia a menos laboriosa..
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Engrenagens do Destino
Romansa(Romance Gay) Paz é uma somente uma palavra para dois reinos que sempre estavam em guerra, até que finalmente a rainha propõe um acordo para tornar aquela palavra em realidade. Tal acordo, clássico, incluía um casamento entre o príncipe Valerian...