Na manhã seguinte, depois de uma noite nas fontes do templo, estava me sentindo muito melhor e minha mente estava de volta no lugar. Só me restava voltar a cidade, por isso, fui até a queda d’água uma última vez e contemplei a cidade logo abaixo.
- Então, você já tomou sua decisão? - Anne aproximou-se de mim.
- Sim. Ainda não sei se está correta, mas acho que eu preciso disso. – Respondi, convicto de minha escolha.
- Ótimo, tenho certeza de que é uma excelente decisão. Caso precisar voltar novamente ou só quiser visitar, eu estarei sempre por aqui. - Ela se aproximou e me deu um agradável abraço.
- Até mais, mestra.
Fiz uma referência formal e pulei do penhasco, deixando meu corpo se desfazer novamente em água, até chegar na cidade, onde minha forma física voltou ao normal.
Retornei para o castelo em passos rápidos, estava com muita vontade de rever Nice e Valerian. Porém, quando entrei no castelo, os guardas me relataram que eles estavam em uma reunião com o conselho da cidade. Minha vontade era apenas invadir a sala e fazer o que eu desejava lá mesmo, mas como ainda me restava um pouco de sanidade, fiquei à espera de ambos.
Eles ficaram somente uma hora na sala, mas a espera parecia interminável. Senti minhas mãos tremendo, uma sensação estranha na barriga. Oficialmente, eu estava ficando nervoso. Porém, esse nervosismo não me era nada ruim, só mostrava que eu havia tomado a decisão correta.
Quando eles finalmente saíram da sala, comecei a segui-los, esperando que eles fossem para um lugar mais afastado, assim não teria risco de fofocas correrem pelo castelo. Principalmente, porque eu não sabia quem poderia estar nos observando.
Depois de alguns poucos minutos de caminhada, eles finalmente entraram em uma parte mais reservado do castelo, estavam tão distraídos com a conversa, que nem notaram quando eu pedi para os guardas se retirarem.Observei Valerian, que aparentava estar bem e, como sempre, muito elegante. Quando me manifestei, Nice foi a primeira a correr até mim e me abraçar de forma carinhosa, me deixando igualmente feliz por vê-la. Mas ela não demorou a se retirar e eu a agradeci mentalmente.
Eu consegui ver a vergonha entrelaçada com os outros sentimentos de Valerian, então resolvi levá-lo a um lugar que ele quisesse conhecer. Um lugar com espadas foi uma surpresa para mim, mas, por sorte, o castelo tinha um lugar reservado e com muitas armas.
Foi muito bom ver sua alegria ao contemplar a sala, mas algo mudou enquanto ele olhava uma das espadas. Uma aura de tristeza e dor se fez presente em volta de Valerian e minha reação imediata foi abraçá-lo, pois algo dentro de mim gritava que o príncipe precisava de tal coisa.
Ele largou a espada e me abraçou, agarrando o tecido do meu uniforme com força. Nos momentos seguintes, falei o que meu coração pedia e fiz o que meus lábios desejavam. Nossas vontades se uniram novamente. Dessa vez não existia medo, dúvida ou erro, era apenas a mais pura e simples expressão de sentimentos, uma coisa que eu nunca havia sentido, mas que aparentava sempre ter feito parte do meu destino. Talvez horas tenham se passado, porém, quando o abraço se desfez, meu corpo reclamou da falta de proximidade.
- Eu não tenho certeza se é certo o que estávamos fazendo, e, sinceramente, eu nem me importo mais. - Falei segurando as mãos de Valerian e olhando nos seus olhos. – Porém, eu desejo saber se você quer tentar viver essa loucura comigo?
Ele sorri, passando a língua nos lábios, uma coisa que eu ainda não tinha notado como era sexy, talvez meu olho estivesse mais atento quanto a ele. - Eu fui o louco que iniciou tudo isso e, ainda não tenho sanidade, para que a minha resposta seja algo diferente de com toda certeza.
Nossos lábios se encontraram novamente, o gosto e as sensações proporcionadas pelos beijos se tornavam cada vez mais intensas e a mordida que ele deixa no meu lábio inferior, pouco antes de nos separarmos, arrancou um suspiro pesado da minha garganta.
- Se eu soubesse que era tão bom assim, não teria demorado tanto. - Quando falei, vi sua pele tornar-se vermelha, parecendo estar em chamas.
- Eu também queria que fosse antes, amanhã já tenho que voltar a meu reino, mas tudo deve acontecer no seu devido tempo. Nós não somos exceção. - As palavras dele me fizeram voltar a realidade.
- Dessa vez, nós vamos com você. Seu pai deseja que o casamento seja no seu reino e eu tenho certeza de que ele está planejando alguma coisa. - Essa era uma certeza que não me abandonava.
O rosto de Valerian voltou a ter uma expressão triste. - Infelizmente, acho que isso é verdade.
- Você não deve mais se preocupar, eu vou cuidar de você e da Nice. Ele não vai mais tocá-lo. - Tentei deixá-lo um pouco mais calmo, odiava ver aquela aura de tristeza em sua volta.
- Eu não tenho medo por mim e, sim, por vocês e meu amigo, Lucas. Depois de tudo que aconteceu e do mal que ele causou, vocês têm motivos mais que suficientes para odiar toda a nossa família, mas felicidade é o sentimento que todos aqui me passam. Meus ferimentos eu posso suportar, porém, ver um de vocês sofrer por minha causa, isso eu não posso aceitar.
- Então, assim como eu protegerei você, você deve me proteger e a eles também. Eu tenho certeza de que sua força é grande o suficiente para isso. - Dei um beijo em sua testa e continuei. - Depois de te conhecer, eu sei que não devemos temer aqueles que não conhecem o amor, pois eles não têm uma fração do poder que agora reside em nossos corações.
Consegui arrancar um sorriso dos seus lábios e ganhei um abraço forte, pouco antes de sermos interrompidos por uma voz familiar.
- Hmm... Vocês são mais fofos que filhotes de gatinhos! - Nice fez Valerian se afastar de mim, muito envergonhado, enquanto ela sorria.
- Sabe, geralmente as pessoas batem nas portas antes de entrar. – Falei, olhando feio para ela, mas estava rindo por dentro também.
- Eu sou a rainha, tá? Não preciso bater em porta nenhuma para ver momentos fofos. - Ela sorria de felicidade olhando para nós. - Eu só estou aqui, porque a guarda do Valerian está procurando-o para começar os preparativos da viagem e você também, guarda real ladrão de noivos, precisa trabalhar, porque eu não estou me sentindo segura.
- Está bem, vamos logo. Não ligue para ela, Valerian. A rainha não tem muita noção mesmo. - Ele sorriu e começamos a andar.
- Claro que tenho, se eu não tivesse, vocês não estariam juntos. - Talvez ali ela tenha ganhando a discussão
Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.
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Engrenagens do Destino
Romance(Romance Gay) Paz é uma somente uma palavra para dois reinos que sempre estavam em guerra, até que finalmente a rainha propõe um acordo para tornar aquela palavra em realidade. Tal acordo, clássico, incluía um casamento entre o príncipe Valerian...