Depois de trinta anos de confrontos, com guerras que sempre resultavam em muitas mortes, meu pai aceitou um acordo de paz proposto pela rainha de Eudara, infelizmente esse acordo incluía eu e um casamento com essa rainha. Claro que isso não me agradava nem um pouco, mas quem sou eu para questionar o imperador da cidade do ferro e vapor?
Não queria o casamento, entretanto como ainda tenho as cicatrizes das vezes que questionei as decisões do imperador e sabendo que a paz seria bem vinda, resolvi concordar com tudo que ele planejava para mim, pelo menos as coisas que ele me falava.
"- Hora de fingir alegria e concordância."
O servo arrumou novamente o terno preto com uma gola levantada, detalhada por desenhos lembrando folhas na cor dourada, não tão chamativo. Nos ombros detalhes semelhantes contrastando com a dobra de cada lado erguida com uma ponta alta. Não esquecendo o colete interno com botões dourados da cor dos detalhes do terno.
A blusa branca ganhando destaque na gravata preta com relevo, moldando com a calça social preta. Um cinto diferente encaixado, bem sofisticado, e uma corrente pendurada onde há o feixe esticando até a parte de trás com um caimento; roupas bem bonitas e que eu gostaria de usar em outra ocasião.
Ele arruma meu cabelo, deixando bem penteado e coloca a última peça: uma cartola feita sob medida. E assim saí do quarto antes que meu pai aparecesse reclamando da minha demorada, mas infelizmente ele sempre achava um motivo para reclamar.
- Parece que você vai ser a mulher desse casamento. Que demora! - o imperador falou, com uma expressão brava no rosto.
Respirei fundo, tentando relevar ao máximo as palavras, na maioria das vezes eu conseguia me controlar bem, porém era difícil não pular na garganta dele e o matar ali mesmo, assim fugindo desse casamento medíocre.
Entrei no carro vermelho, um modelo novo e conversível, gostava muito de dar uma volta nele, aparentemente tudo à minha volta era bonito e agradável, um grande circo que sempre aumentava minha tristeza, lembrando que a única coisa boa de me casar, era de sair do império e talvez ter um pouco mais de liberdade.
A viagem seguiu normalmente, com a escolta de carros pretos atrás e à frente, nos acompanhando. Mantive o olhar nos prédios que passavam rapidamente, enquanto meu pai olhava vez ou outra para mim. Ele possuía olhos verdes, malditos olhos verdes, que graças à Deus eu não possuía, basicamente eu não me parecia em nada com ele, que tinha olhos fundos e marcados, rosto quadrado e fios brancos, por já ter cinquenta anos de idade.
Chegamos ao grande salão, construído na divisa entre os dois reinos especialmente para o acordo de paz, a entrada era um grande portal de pedra branca, com quatro pilastras indicando. Por dentro também era branco e estava tudo iluminado na cor amarela, com flores decorando esculturas de metal e mesas de comidas variadas, pessoas dos dois reinos se encontravam ali, porém, claro que separados ainda pela realidade.
Nossa chegada foi anunciada e todos pararam para olhar, deixando o caminho livre até os tronos já preparados. Avancei ao lado de meu pai até o local e nos sentamos, ao meu lado estava o assento da rainha - que ainda não chegara -, coloquei meu melhor sorriso falso e fiquei à espera.
- Cadê aquela vadia? Será que desistiu? - o imperador sussurrou para Airon, que estava em pé ao lado dele.
Airon era o comandante dos exércitos, além de ser um cão fiel ao meu pai, um homem bem desagradável de quarenta e nove anos, com olhos negros, cabelos cortados no estilo militar e uma cicatriz enorme do lado direito da boca, o que tornava ele ainda mais medonho.
- Ela não teria essa coragem... - antes que ele pudesse continuar a falar, a chegada da rainha foi anunciada.
Novamente todos abriram caminho para a linda mulher de pele negra, olhos cor de mel, rosto fino e bem desenhado, que vestia um vestido em forma de sino e brilhava em um dourado encantador. A partir do torso, o vestido estava incrementado com flores alaranjadas, bem como nas mangas longas que se estendiam até à altura dos ombros. O recorte nas costas tinha o formato da letra "V", deixando à mostra uma parte da pele. Na cabeça estava a coroa dourada, com enfeites de pedras preciosas. Era uma mulher muito bonita e até me senti mal por não querer casar com ela.
Entretanto outra pessoa que acompanhava ela também chamou minha atenção, o homem que parecia ser o guarda-costas dela, ele possuía a pele clara, cabelos loiros e um bonito olho azul. Sim, apenas um olho, o esquerdo estava coberto por uma faixa de pano vermelha, porém isso não tirava a beleza do rosto, que era complementado por uma barba bem feita, os lábios avermelhados e o cabelo em corte social; possuía trinta e cinco anos no máximo. Ele também usava uma camisa preta, por baixo de um casaco vermelho com duas fileiras de botões prateados, uma calça também vermelha e botas pretas, as três peças possuíam desenho de ramos de flores prateados, tudo bem justo ao corpo definido, que estava me fazendo prestar mais atenção que o recomendado.
Volto a olhar para a rainha, me lembrando de manter a compostura. Ela chega à nossa frente, segura o vestido e faz uma pequena reverência, meu pai coloca um sorriso falso no rosto e beija a mão da mulher, era quase engraçado ele tentando ser gentil.
- Príncipe Valerian, é um prazer lhe conhecer. - ela se apresenta com um belo sorriso, enquanto beijo sua mão também.
- É um prazer para mim também, rainha Nice. - sorrio de forma leve, enquanto ela senta ao meu lado.
Meu pai pôs-se de pé, limpando a garganta e erguendo os braços em pedido de silêncio.
- Estamos aqui hoje para festejar o noivado do meu filho, príncipe Valerian, com a rainha Nice. Após tantos anos de guerra, que o casamento desses dois possa ser um bom início da paz entre nossos reinos.
Ele volta a se sentar e faz um sinal com a mão, fiquei de pé com Nice ao meu lado, ela colocou a mão sobre a minha e antes de irmos para o meio do salão, não pude deixar de olhar para o guarda ao lado da rainha, olhando para nós dois também.
No meio do salão ela colocou a mão direita em meu ombro e eu coloquei a esquerda na cintura dela, juntamos as mãos que estavam livres, a música começou a tocar suavemente, enquanto nós começamos a dançar a valsa suavemente. Girei ela pelo salão e enquanto nos aproximávamos mais, sou surpreendido com sussurros em meu ouvido.
- Eu também não desejo estar aqui. - ela sorriu para mim, concordei com a cabeça e a música acabou.
"O animal selvagem e cruel não é aquele que está atrás das grades. É o que está na frente delas.."
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Engrenagens do Destino
Romance(Romance Gay) Paz é uma somente uma palavra para dois reinos que sempre estavam em guerra, até que finalmente a rainha propõe um acordo para tornar aquela palavra em realidade. Tal acordo, clássico, incluía um casamento entre o príncipe Valerian...