Segredos

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A única vez, até então, que Makoto havia precisado guardar um segredo de Haruka tinha sido quando tentou esconder seus próprios sentimentos durante sua infância e pré-adolescência. Não que fosse de todo segredo, dado o modo como sempre cercava o amigo de cuidados, que era uma pungente demonstração de seu afeto. A extensão dessa afeição era o que ele tentava cobrir com um manto cheio de buracos.

O segundo segredo que ele havia tentado guardar fora sua volta à natação competitiva, não que houvesse necessidade disso, mas Makoto ainda estava muito inseguro sobre seus limites como nadador. Era verdade que havia dito a Haruka que sentia que ele mesmo não havia sido feito para ser um atleta profissional, mas deixar de fato a natação havia sido mais difícil do que imaginou. No final do colegial, enquanto Haruka continuava treinando no clube para manter a forma física, Makoto precisou se concentrar nos estudos para o vestibular. Era triste não poder acompanhar Haruka, apesar de o namorado ter tentado ficar do seu lado e apoiá-lo tanto quanto fosse possível.

Por muito tempo teve medo da água, medo do que se escondia dentro dela, mas havia superado esse temor graças aos seus amigos. Quando criança, Makoto estava tentando se especializar no crawl e no nado de peito quando Rin o chamou para o revezamento. A ideia inicial era que ele ficasse com o nado de peito e que encontrariam outra pessoa para o nado de costas. No entanto, Nagisa estava se saindo muito bem com aquele estilo e Makoto passou o treinar o nado de costas.

Enquanto nadava, Makoto só conseguia ver o fundo da piscina, e logo sua mente começava a lhe pregar peças. Ele via um vulto negro no fundo da água perseguindo-o, então, Makoto nadava unicamente para fugir dessa ameaça submersa. Foi só quando passou mais tempo treinando o nado de costas que percebeu como podia ver o lado de fora mesmo estando dentro da água. Imaginava o céu acima dele, além do teto do ginásio, podia ver um azul infinito com nuvens graciosas flutuando por ele.

Não era de forma alguma que Makoto odiasse a água, seria impossível para ele odiar algo que Haruka amava tanto. Makoto gostava da sensação de estar dentro da água, de deslizar por ela, e durante o revezamento, ficou totalmente cativado por poder sentir Haruka próximo dele. Um sentimento tão íntimo, os dois juntos dentro da água, a presença de Haruka o envolvia. E havia as presenças de Rin e Nagisa, como uma luz a afastar as sombras, quente e protetora. Sentia o carinho dos amigos. Era por isso que havia sido tão especial aquele revezamento, por ter lhe ensinado tanto sobre amizade, companheirismo, natação e sobre si mesmo.

Makoto queria ajudar outras crianças a descobrirem os encantos que a água tinha, mas isso não o impedia de sentir falta da presença desse sentimento em sua vida, de estar na água, nadar com todo o seu poder e não estar sozinho. Quando Kisumi o convidou para entrar para o clube de basquete, ele viu que o tipo de fascínio que Kisumi tinha pelo basquete era o mesmo que Makoto tinha pela natação. Então, timidamente, tentou visitar o clube de natação, e era ainda mais incrível do que o treino que havia visto no Instituto Samezuka.

— Está interessando? — perguntou um homem com uma prancheta na mão e que havia se aproximado sem que Makoto percebesse.

— Ah, sim! Queria ver como era o treino de um clube universitário.

— Você não me é estranho... É calouro? — disse ele, demonstrando um interesse inesperado.

— Sim, senhor.

— Onde estudava?

— No Colégio Iwatobi, em uma cidade pequena no litoral...

— Ah, eu conheço! Havia um nadador que se destacava, era... Nanase-san, não é?

— Sim! Haruka Nanase. — confirmou com um sorriso orgulhoso.

— Você estava no revezamento, não é? No campeonato nacional.

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