O azul dos seus olhos

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Makoto sentia um novo ânimo ao treinar depois da competição que havia participado em Tokyo. O bom resultado que ele havia conquistado aliviou a pressão sobre ele, e permitiu que ganhasse mais confiança em si mesmo, além da confiança de seu treinador.

Porém, havia outra coisa que o deixava feliz nesses dias: o fato de que não precisava mais esconder seus treinos de Haruka, não precisava mais usar de desculpas para se esquivar sempre que o namorado planejava alguma coisa cujo horário conflitasse com a sua rotina de treino.

— Você sorri muito mais agora. — comentou Kisumi, quando se encontraram no campus da universidade.

— Você acha? — Makoto perguntou meio sem jeito, mas ele mesmo percebia como seus sorrisos haviam se tornado mais frequente.

— Uh-hum. — Kisumi assentiu com um resmungo e um movimento de cabeça. — Você está mais leve.

— Sim, talvez eu esteja. — Agora, Makoto percebia como o peso havia saído de suas costas. O peso de não poder se abrir com uma pessoa que ele ama, o peso de manter parte da sua vida em segredo.

A caminho de casa, Makoto voltou seus olhos para o céu azul de verão e se lembrou das vezes em que observara aquele mesmo céu infinito ao lado de Haruka. Entre nuvens, entre árvores, entre flores, à beira da piscina e do mar, em tantas etapas de suas vidas. Queria que aquele azul continuasse enchendo seus olhos junto daquela companhia que enchia seu coração, assim como aquele outro azul enchia sua alma, o azul dos olhos de Haruka. Queria Haruka para sempre, sempre o quis.

Makoto suspirou.

Havia algo que ainda nublava a sua bolha de felicidade. Desde a conversa que tivera com Haruka no dia do torneio, havia certos pensamentos que não deixavam de rondar sua cabeça.

Os pensamentos de Makoto, por vezes, vagavam por meio de dúvidas e questionamentos. Como iriam lidar com as reações de seus pais e quais seriam elas?

— Haru, o que você acha que seus pais vão dizer quando contarmos a eles sobre nós dois? — perguntou naquele fim de semana, quando Haruka foi visitá-lo.

— Eu não sei — Haruka respondeu calmamente, entre um gole de chá —, não pensei muito sobre isso.

— Meus pais ainda têm o Ran e a Ren, acho que seria mais fácil para eles aceitarem.

Haruka olhou interrogativamente para Makoto, então ele continuou.

— Você é filho único Haru. Seus pais devem esperar que um dia você encontre uma moça legal, que se case com ela... Que um dia você tenha um filho. Uma criança tão adorável quanto você... Aposto que teria olhos lindos como os seus. — Makoto falou com o olhar baixo e um sorriso melancólico, imaginando uma criança linda que compartilhasse dos traços de Haruka, mas que nunca viria ao mundo. — O que seus pais vão dizer quando descobrirem que nada disso vai acontecer? Que eu não deixei que isso acontecesse.

— Makoto, não acho que ter netos ou não seja a questão. — disse Haruka, repousando o copo de chá sobre a mesa de centro.

— Você tem razão, é bem mais complicado do que isso. — Makoto falou enquanto também pousava seu copo.

— E que história é essa que você não deixou?

Ambos estavam sentados no sofá, lado a lado até então, mas nesse momento Haruka se virou, para que seus olhos ficassem voltados diretamente para os olhos de Makoto.

— Ah, mas não é verdade? — disse Makoto sem graça. — Se eu não estivesse aqui, como seria a sua vida?

— Acho que já conversamos sobre isso. — respondeu Haruka, se lembrando da conversa que tiveram sob a luz do farol tantos anos antes.

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