Criaturas marinhas

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Haruka havia acordado cedo naquele sábado. Agora, saía da banheira depois de um banho rápido, não estava usando seu traje de banho com costumava fazer. Não havia mais a antiga frustração quando precisava suprir sua necessidade de contato com a água, ficando horas de molho na banheira, tão pequena e apertada se comparada com as dimensões de uma piscina de verdade. Houve um tempo em que se contentava com a água estagnada e sem vida da banheira, mas aquela água não tinha presa, mesmo que reconhecesse sua existência, ela apenas envolvia seu corpo sem emoção alguma. Era verdade que tentou afogar seus problemas nela inúmeras vezes, mas ela nunca seria capaz de libertá-lo. Agora, seu traje de banho era usado nos treinos, e em dias como aquele, quando participava de competições.

Haruka saiu da banheira, a água escorria por seu corpo que continuava magro e compacto, mas agora, definido pelos treinos. Enxugou-se e vestiu-se, depois foi para a cozinha preparar um café da manhã leve, algo que pudesse comer acompanhado de cavalinha.

Antes de sair, verificou o celular e viu que a mensagem que esperava havia chegado, abriu-a, mas ela não trazia a resposta que ele queria:

"Gomen, Haru. Terei atividades da universidade hoje. Nos falamos depois."

Outra competição que Makoto não assistiria. Haruka tentou não se importar, mas era difícil. Seria a primeira competição daquele porte que estaria participando, haveria universitários do país inteiro, e até alguns estrangeiros. Ficou um pouco aborrecido consigo mesmo por ter esperado que Makoto viesse.

Quando pequeno, Haruka nunca havia esperado que seus pais fossem assistir suas competições, que sem avisar, pudesse vê-los na arquibancada. Não teria esse tipo esperança vã. O desejo que mantinha em um canto da mente era mais simples e básico. Queria apenas que tivesse alguém em casa para dizer "okaeri" e perguntar como havia sido seu dia. Mas nunca se permitiria dizer algo assim, pessoas fortes não teriam esse tipo de carência, e Haruka odiava ser fraco. Haruka detestava ficar sozinho, mas abominava ainda mais pedir para não ser deixado. Então não fazia diferença se ele estava em Iwatobi ou em Tokyo, isso não mudava o fato que continuava sozinho.

Haruka apanhou sua bolsa e olhou novamente para o celular, pensando se o levava consigo. Seus olhos foram atraídos para o pequeno pingente em forma de golfinho que pendia dele. Haruka acabou, por fim, colocando o celular no bolso da jaqueta. O pequeno pingente ainda serviu de lembrete para que pegasse a chave da porta, que estava presa ao seu antigo chaveiro de metal, que também tinha a forma de um golfinho, e trancasse a porta antes de sair.

* * *

Observando toda a logística que envolvia o clube de natação da universidade era difícil imaginar que Haruka se envolveria em um meio assim, quando havia passado anos sem competir. Participaria dos eventos de 100 e 200 metros de nado livre, portanto, logo deveria se preparar para a primeira prova. Haruka havia chegado ao ginásio de esportes aquáticos com toda a delegação do clube, não tendo tempo nem oportunidade para encontrar algum de seus amigos que eventualmente pudessem ter vindo torcer por ele. Talvez por ser a primeira competição de grande porte que estaria participando, Rei e Nagisa disseram que viriam juntos, e Kisumi não parava de enviar e-mails e mensagens, quase fazendo Haruka se arrepender de ter levado o celular consigo. Ele devia estar procurando por Haruka no meio da multidão, pois não parava de perguntar onde ele estava e o que estava fazendo.

Haruka desceu daquele mar de pessoas que estavam na arquibancada depois de trocar algumas palavras com seu treinador e se dirigiu para o vestiário para se preparar para sua primeira prova.

O lugar estava surpreendentemente quieto, considerando a quantidade de pessoas que entravam e saíam dali, era possível ouvir algumas conversas baixas, mas todos pareciam muito concentrados. Era evidente de que ninguém estava ali para brincadeira.

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