Dezessete outra vez

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− Só temos três meses para finalizar tudo, Bobby?

− Praticamente... Mas já esta estamos com quase tudo pronto, não estamos? − Bobby me questiona.

− Não sei... Você sabe que detesto ser pressionada − suspiro.

− Vai dar tudo certo! − ele se aproxima, sentando-se no sofá.

Bobby parece confiante, mas está nitidamente preocupado, eu realmente não funciono sob pressão e ele sabe disso melhor do que ninguém. Toda arte requer certo tempo, mas quando se trata de algo tão pessoal quanto esse álbum cada minuto é precioso, e por isso eu penso nele a todo momento.

Acabei perdendo o sono essa noite, estou sentada sobre o piano ajustando algumas composições e melodias desde as cinco horas da manhã. Meu celular toca sob as folhas espalhadas na parte de cima do instrumento, olho para o visor, uma mensagem de Mark: "Stef Surgiu um problema aqui no estúdio, vou demorar um pouco".

− Mark vai se atrasar! − me levanto olhando para Bobby.

− Ótimo! - ele diz em tom de ironia − E que horas você marcou com a Florence?

− Não marquei horário nenhum com ela, só combinamos que seria pela manhã− me sento ao lado dele.

− Como você não marcou um horário? Gaga você sabe que temos um prazo com a gravadora... − Bobby parece sério.

- Eu sei... Mas não posso apressa-la, você entende?

- Não, eu não entendo, mas você sabe o que faz − ele se levanta irritado em direção a porta.

Bobby não é muito compreensivo. As coisas com a gravadora não vão muito bem devido alguns problemas com o meu último álbum e toda essa situação o deixa irritado e impaciente. Eu entendo o lado dele, mas às vezes sinto que ele não faz o mínimo de esforços para me entender... Como eu poderia pressionar a Florence? Eu quero conhecê-la, saber de seus gostos, medos, amores... Quero que ela faça parte da música tanto quanto eu. Sei que conhecer alguém assim requer certo tempo, tempo que eu não tenho, mas esse é um risco que quero correr.

Caminho até o quarto e encosto-me à janela. Acendo um cigarro enquanto observo o jardim. Taylor e Eu costumávamos caminhar por ali todas as manhãs em que passávamos juntos, falávamos sobre os nossos trabalhos, fazíamos planos futuros... Faz alguns meses que não nos falamos e talvez seja melhor assim, mas ainda sinto falta dele. É engraçado como cada relacionamento é capaz de criar raízes que não morrem com o tempo...

Ligo a TV, abaixo o volume e sento-me na cama esticando os braços, minhas costas doem. Apoio meu corpo sobre o travesseiro e pego o violão ao lado da cama, deslizo meus dedos sobre as cordas e arrisco alguns acordes, cantando baixinho "Time" de Pink Floyd:

"Cansado de ficar deitado com o sol lá fora
E ficar em casa vendo a chuva
Você é jovem, e a vida é longa
E hoje é dia pra matar o tempo
E então um dia, você descobre
que dez anos ficaram para trás
Ninguém te disse quando correr
Você perdeu o tiro de partida"

Ouço a campainha tocar na sala e diminuo o ritmo da música até parar completamente. Encosto o violão sobre a cama e me levanto. Ashley bate na porta:

− Stef, sua convidada chegou − ela diz rindo.

− Florence?

− E você espera por mais alguém?

− Não... O que você acha dessa roupa? − questiono-a

− Sei lá... Por quê? Vocês vão para algum lugar? − Ashley me indaga, curiosa.

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