Encosto-me a porta da sala, fecho o livro em minha mão e observo o nascer do sol de Malibu... Certamente é um dos mais bonitos que eu já vi, mas também um dos mais quentes, pois são apenas nove horas da manhã e a sensação térmica é quase insuportável. Dormir durante a viagem me fez perder o sono... Acabei ficando acordada durante todo o resto da madrugada, mas confesso que me prendi tanto a leitura que não vi o tempo passar. Estou lendo "A vida de John Lennon" de Philip Norman, já perdi as contas de quantas vezes já li esse livro; foi um presente do meu pai e talvez seja por isso que eu me sinto tão bem quando leio, é um pedaço de casa que eu sempre dou um jeito de levar comigo para onde vou.
Caminho descalça sobre a grama verde do jardim e observo as diversas espécies de flores e arvores: dálias, lírios, lavandas e margaridas que colorem toda a paisagem. Sento-me sobre a cadeira reclinável na beira da piscina, abro o livro novamente e um trecho grifado no meio da página me chama atenção:
"Esta era a pergunta que a mídia lhes fazia com mais frequência, depois de perguntar sobre o nome e os cabelos: quanto tempo poderia tudo isso durar? A resposta de John era sempre direta e autocrítica: "Você pode ser convencido e dizer 'Claro, vamos durar dez anos', mas, na verdade, assim que termina de dizer isso você pensa... Teremos muita sorte se durarmos três meses."
Muitas vezes eu também me faço a mesma pergunta: até quando? Costumo ter esse tipo de pensamento não só sobre a minha carreira, mas sobre tudo: arte, amigos, família, amor. É interessante pensar nessas coisas, mesmo que o fim de tudo seja a única certeza que temos nunca estamos preparados para as reviravoltas que o mundo dá.
Levanto-me, aproximo-me da piscina e me abaixo deslizando meus dedos sobre a água gelada. Lembro-me de Isabella... Quando estamos em turnê costumamos conversar sobre os shows na banheira do hotel, ficamos ali por horas relembrando de cada detalhe, Isa tem mania de perfeição e isso geralmente é bom. Ainda não liguei para ela depois que sai de Nova York, tudo aconteceu tão rápido que não tive tempo, ontem à noite até pensei em ligar, mas acabei esquecendo meu celular no quarto e Gaga estava tão cansada que preferi não entrar lá novamente já que corria o risco de acorda-la.
Os problemas que ela tem para dormir são parecidos com os meus e isso acabou nos aproximando ainda mais, tentei ajuda-la com música e ela dormiu encostada em meu ombro antes mesmo da canção acabar. Confesso que estou gostando da companhia dela, nunca conheci alguém assim, tão decidida e segura do que faz, ela é capaz de convencer qualquer um a fazer qualquer coisa durante apenas cinco minutos de conversa, mas apesar de ser tão decidida ela é extremamente imprevisível, tanto que às vezes me assusta, mas não há como não gostar.
Caminho até a sala, arrasto minhas malas para próximo do sofá, pego uma roupa qualquer e me troco ali mesmo. Aproximo-me do piano ao lado da estante e passo meus dedos sobre as teclas enquanto observo as partituras rasuradas na parte de cima do instrumento. Do outro lado do cômodo, Gaga me encara; e vestindo apenas uma camiseta xadrez na altura de suas coxas ela se aproxima de mim:
− Além de cantar você também toca? – ela pergunta.
− Ah não... – afasto-me do piano− Desculpa, eu te acordei?
− Na verdade o seu celular não parava de tocar no chão do meu quarto – Gaga solta uma gargalhada − Acho que alguém precisa muito falar com você – ela me entrega o aparelho.
− É o Felix – sussurro.
− Quem?
− Deixa pra lá.
Sento-me no sofá e Gaga se senta ao meu lado, Felix me liga novamente, olho para o visor e depois para ela que me observa com um sorriso malicioso nos lábios:
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Just Another Way
FanficO que acontece quando dois talentos musicais se unem? Uma ligação inesperada é um indicio de que durante um processo criativo tudo pode acontecer.