Os dias estranhos nos encontraram

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Acordo assustada com o telefone que toca desesperadamente na sala. São nove horas da manhã e eu não me lembro de absolutamente nada da noite passada, e isso me deixa preocupada. Na cama, ao meu lado, Isabella dorme profundamente, isso costuma ser um sinal de que tudo acabara bem.

Sento-me na cama, com a certeza de que bebi demais, me sinto enjoada. Percebo que estou sem blusa e penso: "O que será que eu fiz essa noite?".  Procuro meu celular... O quarto está uma bagunça: roupas espalhadas, lençóis, garrafas, copos; é impossível achar qualquer coisa nesse lugar.

O telefone toca novamente, Isabella acorda questionando-me:

− Por que você não atende esse telefone?

− Isa o que aconteceu por aqui ontem?

− O mesmo de sempre, você bebeu demais, depois apagou, e aí sobrou para mim − ela diz rindo.

Isabella é minha melhor amiga, na verdade, ela é muito mais que isso, eu adoro a companhia dela, o sexo é maravilhoso e temos uma cumplicidade inegável na música e na vida, mas tudo entre a gente é intenso e complicado. O melhor talvez, seja o fato de que eu não precise falar para que ela entenda, basta um olhar, um gesto. Ela sempre sabe o que eu quero e me conforta saber que ela estava comigo quando eu simplesmente não me lembro

− Isa aonde você enfiou meu celular? Pergunto.

− Não faço a mínima ideia − ela diz em tom de deboche.

− Isabella eu estou falando sério.

Aproximo-me da cama puxando o lençol que cobria seu corpo nu.

− Isso é golpe baixo, Florence – ela joga o aparelho em minha direção.

Olho para o visor, sete chamadas perdidas, todas do Felix. Preciso retornar. Saio do quarto sem dizer nada, com as mãos em meus seios ainda despidos. No corredor, olho novamente para o celular e reflito: "Eu realmente deveria retornar para ele?"

Felix e eu estamos juntos há algum tempo, mas também é complicado. Todas as minhas relações são complicadas. Eu o amo, mas ele não entende as minhas necessidades e nem os meus medos. Estamos juntos há tanto tempo e por diversas vezes parecemos dois desconhecidos dividindo a mesma cama. Ele não me conta quase nada, e também não me deixa falar, mas costuma sempre querer algo de mim que eu não posso dar.

O telefone toca novamente.

− FLORENCE, ATENDE ESSE TELEFONE! − Isabella grita.

Deve ser o Félix, é melhor não atender. Volto para o quarto.

− Por que você não atende isso? − Isa levanta.

− Eu e o Félix brigamos ontem à noite? Indago.

− Você não contou pra ele da festa – Isa responde enquanto se veste – Vocês discutiram, ele se irritou e foi embora.

− Afinal que festa foi essa?

− Aniversário do Rob, você não se lembra de nada?

Encosto-me à parede, tentando me lembrar do que ocorrera.

− Nossa, eu acho que nunca bebi tanto − coloco as mãos sobre a cabeça.

− Eu vou fazer um café! - ela se levanta.

Olho para a estante, próximo a janela, onde eu guardo uma coleção de discos, revistas e vinis. Geralmente estão organizados, o que é muito diferente dos meus sentimentos. Um disco do The Doors me chama atenção e desperta parte da minha vaga memória, talvez porque tocava Strange Days quando Félix chegou em casa.

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