Canção de ninar

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Da janela é possível ver o avião pousar no aeroporto de Los Angeles. Sinto-me cansada, passei às quatro horas da viagem tentando sem sucesso terminar uma composição... Bloqueio criativo é péssimo quando se está sob pressão, é quase que uma espécie de paralisia, como se por alguns minutos, horas ou até mesmo dias você fosse incapaz de fazer aquilo que sempre fez: criar. Durante o voo tentei por diversas vezes me concentrar, mas quanto mais eu pensava mais as palavras sumiam da minha mente numa fração de segundos fazendo-me desistir.

Ao meu lado Florence dorme num sono tão profundo que não percebe que chegamos, encosto-me devagar em seu ombro a fim de acorda-la, mas ela resiste soltando apenas um demorado suspiro. Levanto-me, deslizo minhas mãos apertando levemente seus braços e chamo pelo seu nome:

– Florence? Florence?

– Sim? – ela diz sonolenta, ainda de olhos fechados.

– Já chegamos – acaricio seus cabelos colocando-os para trás de sua orelha.

– Já? Nossa... – ela esfrega os olhos levantando-se – Foi tão rápido!

– Rápido? Você dormiu o tempo todo – solto uma gargalhada.

– Que horas são?

– Duas e vinte da manhã... Não te disse que chegaríamos antes do amanhecer?

– Você sempre tem razão, não é? – ela sorri enquanto descemos rapidamente do avião.

Florence caminha distraída em minha frente, parece observar admirada cada canto do aeroporto. Seguro um de seus braços guiando-a pelo saguão até chegarmos à locadora de veículos. Apoio minhas mãos sobre o balcão a espera de um atendente.

– Por que paramos aqui? – Florence me questiona, parece impaciente.

– Precisamos de um carro – respondo.

– Caramba! Você gosta mesmo de dirigir – ela ri.

– Estamos em Los Angeles, Florence – solto uma gargalhada – Precisamos de um carro para ir para Malibu, não acha?

– E não podemos pegar um táxi? – ela me encara apoiando-se ao meu lado.

– E qual é o problema de alugar um carro?

– Problema nenhum, Stefani! Eu até gosto de ser sua passageira – ela encosta uma de suas mãos sobre a minha e em seguida se afasta.

Florence caminha até a livraria ao lado, apoia as mãos na vitrine e observa atentamente livro por livro. Um senhor de meia idade aproxima-se dela puxando conversa, ela sorri para ele parece interessada no assunto. Ele faz o estilo executivo: cabelos grisalhos, terno, gravata e sapato social, um perfeito estereótipo de "homem de negócios". Olho para a cena intrigada observando cada troca de olhares entre os dois, tento decifrar o que dizem seus lábios, mas o atendente finalmente aparece interrompendo-me:

– Me desculpe a demora... Mas seu carro já está pronto, pode me acompanhar?

Volto meus olhos para Florence, ela parece empolgada na conversa, penso em chama-la, mas por fim decido não atrapalhar e acompanhar o atendente sozinha até o estacionamento. Observo admirada as dezenas de veículos... Confesso que ultimamente estou meio obcecada por carros esportivos, já comprei alguns em Nova York, outros em Malibu, mas nunca parece o bastante.

– Aqui está! – o atendente aponta para o carro – Um Audi R8, modelo 2014 e motor 5.2.

– Nossa... Acho que eu nunca dirigi um desse antes – falo em tom eufórico.

Just Another WayOnde histórias criam vida. Descubra agora