Eu gosto de refletir sobre tudo, menos sobre mim mesma e por isso eu leio bastante. A leitura é a única coisa capaz de me distrair por completo, depois do álcool, óbvio, mas há uma diferença entre os dois: o livro me permite adentrar em uma realidade paralela conscientemente, o álcool não. Tenho um gosto peculiar sobre ambos: champagnes baratos e livros de ficção. Sempre carrego um livro na bolsa, exceto quando estou compondo, porque isso tende a interferir nas coisas que penso, como se a história tomasse tanto espaço em minha mente que qualquer tipo de pensamento meu acaba atrapalhando o que eu pretendo escrever. Eu me envolvo demais em qualquer narrativa, é que parece mais fácil lidar com algo que não existe, a realidade me assusta, tanto que às vezes eu quero fugir de mim mesma, e é aí que eu recorro ao álcool. Beber demais pode ate ser um vício, mas eu não faço isso sempre, pelo menos não mais. Eu precisei parar, antes que tudo ficasse fora de controle.
Estou sentada em uma das salas do hotel, um cômodo predominantemente branco, de poucas mesas e música clássica ambiente, há um bar em um dos cantos da parede e sobre o balcão debruçam alguns rostos conhecidos que eu não me lembro o nome. Chateau Marmont é conhecido por hospedar gente famosa e talvez por isso seja um lugar tão solitário. Há meia hora pedi uma taça de Dirty Martini, mas ainda não tomei... Toda vez que venho para Los Angeles peço o mesmo drink. Lembro-me que no início da minha primeira turnê por aqui eu costumava beber constantemente antes, durante e até depois dos shows.
Certa vez em uma dessas festas no quarto de hotel, eu adormeci no chão com um copo em uma das mãos. Tomei cerca de 17 Martinis, rasguei meu vestido, perdi meu celular e quando acordei de madrugada só enxergava a fumaça que tomava o cômodo inteiro, acabei deixando uma vela de canela acessa em cima da mesa, o que derreteu um livro antigo que eu lia na noite anterior. O quarto estava destruído, havia roupas e garrafas por toda parte e um borrão preto de fumaça desenhava a parede. Na cama, Isabella dormia tão profundamente que nem se quer percebeu o que ocorrera. No dia seguinte a conta do hotel estava altíssima, não por conta dos estragos com o fogo, mas sim pela quantidade de bebida que pedimos, foi realmente assustador e ao mesmo tempo engraçado, naquele dia eu percebi que precisava controlar isso antes que fosse tarde demais...
Já é quase uma hora dá tarde, estou sem fome, ando sem apetite ultimamente e sei o motivo, mas estou evitando pensar, como se isso fosse me ajudar a resolver alguma coisa ou me levar para algum lugar... Odeio quando perco o controle da bagunça que são os meus sentimentos e passo a pensar involuntariamente no que eu não deveria. Tiro um livro da bolsa: "Só garotos" de Patti Smith e volto meus olhos para o mesmo:
"Eu estava entre o caos e a frustração, cercada de canções inacabadas e poemas abandonados. Ia o máximo que podia até bater no muro, minhas próprias limitações imaginarias, até que conheci um sujeito que me contou seu segredo e era bem simples. Se você bater no muro, não pare."
O parágrafo me chama atenção, porque cada frase fala sobre mim e ao mesmo tempo me lembra dela. Gaga é exatamente assim, não se limita, não desiste, é o tipo de pessoa que quando alcança um objeto não para, corre em busca de outro, e sinceramente essa é uma das qualidades que eu detesto, porque geralmente sou o oposto de tudo isso, sou cheia de coisas não acabadas e por fazer. Às vezes parece covardia essa minha forma de encarar os problemas: ignorar e fingir que nada aconteceu até que tudo se acabe. Acontece que nem tudo se pode ignorar, e pensar na Gaga é quase inevitável. O jantar na última sexta-feira foi um desastre, definitivamente eu nem deveria ter ido... Odeio a forma como Gaga sempre tenta sair por cima de qualquer situação e naquela noite não foi diferente, ela conseguiu me intimidar apenas com olhar, sem falar nas vezes que me cercou e me constrangeu na frente dos outros. No final, se ela queria respostas eu lhe dei, mas não deveria... O silêncio é sempre a melhor resposta para qualquer tipo de pergunta, o problema é que nem sempre eu faço o que acho melhor, há momentos em que o erro torna-se necessário
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Just Another Way
Fiksi PenggemarO que acontece quando dois talentos musicais se unem? Uma ligação inesperada é um indicio de que durante um processo criativo tudo pode acontecer.