Capitulo 21

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Eu adormeço nos braços de Johanna e sequer percebo quando as horas avançam. Desde que estivemos na sala por umas duas horas em silencio, nada mais parecia ser tão urgente quanto o seu conforto. E, depois daquilo, a mimei como se fosse uma princesa; preparei o seu banho, vestia-a para dormir, massageei os seus pés e a acomodei em sua cama.

Ela tem um braço envolvido ao meu arredor, estamos uma de frente para a outra, cabeça a cabeça, braços sobre a lombar.

— Não quero dormir — ela diz baixinho.

— Por quê?

— Porque não quero estar longe de você nem mesmo em sonhos.

— Você é tão intensa — acaricio os fios perdidos de seu cabelo e toco sua testa com um dedo. — Precisa descansar mais, meu amor. Você passou por muito estresse e já está a mais de um dia sem dormir como deveria.

— Não me importo, sweetheart. Sem contar que... — ela se move para recolher seu celular, a luz ilumina seu rosto angelical e os olhos de cristal parecem brilhar mil vezes mais, um brilho da cor do céu no começo do anoitecer. — Tenho que me levantar.

— Vai pegar mais um daqueles plantões intermináveis?

— Salvar pessoas não tem hora.

Trago a memória os dias em que ela simplesmente precisava acordar e sair correndo para atender uma emergência no Eleutério. A vida de uma médica jamais parava, mas ela precisava fugir de nossa cama logo quando estava ficando bom? Nós dormimos por boas horas aninhadas uma a outra, mas aquilo sequer chegava perto do ideal.

— Você ainda não aprendeu a separar trabalho de vida pessoal? — pergunto suavemente, mas parece que o meu tom é um tanto mais pesado do que espero e Johanna reage torcendo o lábio.

— Antes de você chegar... meus turnos geralmente passavam de 13 horas. Nada disso mudou, Cecilia.

— Eu entendo, mas... você passou por tudo isso não tem nem três dias. Não se sente sobrecarregada? Não tem vontade de parar um para pelo menos, sei lá, chorar?

Sei que as horas anteriores deveriam se resumir apenas a superação, mas quem em sã consciência não pararia momento algum para chorar ou refletir o que aconteceu? Naquele momento eu mesma tinha vontade de esbravejar de alguma forma sobre o que vi; sobre o que houve; sobre o que vivi no meio desse ex casal cheio de turbulências.

— Não sou manteiga derretida, preciso ser forte — Johanna se espreguiça na cama e desliza como uma cobra até ficar ajoelhada. No escuro, suas curvas se tornam uma bela silhueta curvilínea. — Meu ex marido está morto e a única coisa que preciso pensar, é que não vamos mais ter problemas com ele.

— Se precisar chorar...

— Não preciso! — Johanna remexe em seus cabelos e depois pressiona o meio do nariz ao se exaltar, me dá um olhar inexpressivo. — Quero que você volte a dormir, querida.

— Ah, vou tentar.

— Aproposito. Você se lembra do dia de riqueza que me prometeu?

— Sim — sorrio de maneira boba, tentando mostrar com um sorriso que aquele clima rígido dela poderia ser dissipado, quero dizer, pelo menos eu tentaria ameniza-lo o máximo possível.

— A celebração do prédio será pela noite e eu quero você diva... mais bonita até do que eu.

— Isso é impossível.

— Tem razão, é impossível — ela sorri como se fosse uma princesa, o mais debochado sorriso que já vi desde que começamos a namorar, ela se deita próximo a mim com as mãos apoiando a bochecha e os olhos penetrando os meus. — Vai cumprir sua parte do acordo?

Meu Indomável Prazer (Livro 2) - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora