6 - A Intervenção

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 " Meus pensamentos são as armas que mais atacam contra mim"

Assim que cheguei em casa tive um choque de realidade, minha mente entrou em uma forte tempestade que me mareava numa confusão de ideias.

— Estou alucinando? Estou alucinando?

Fiquei me perguntando deitada em minha cama, só de ter esses pensamentos sentia que eu não era normal e um pavor percorria meu corpo, como se eu pudesse surtar a qualquer momento.

Conversando com pessoas "normais", parecia que eu era de um planeta muito distante, mas antes tudo parecia tão real!

— Não pode ser real, aquele Xamã me falando coisas, a pantera, o que vi no trigal, é muita loucura!

Tudo fez tanto sentido naquele momento... tanto sentido...

— Ísis, vem almoçar!

— Não vou, tô ocupada! — Minha irmã me chamou mas nem insistiu, sabia que eu era assim mesmo.

Eu sempre esperava todos saírem para eu entrar na casa, sempre que eu podia ficava somente enclausurada no meu quarto. E, sim, eu estava ocupada, minhas torturas estavam me ocupando bastante, ainda mais quando ouvi um rosnado.

— Una? — Vai embora, não quero te ver! Não aparece mais! Me deixa em paz!

Una se deitou próxima à porta mas não se foi, às vezes olhava fixo num ponto e rugia alto querendo atacar o ar.

— Vai embora! Vai embora!

Ela não obedecia, começou a ficar claro para mim também, que ela não estava atacando o ar, havia um vulto me rondando desde que voltei para a casa.

— Chega! Não quero ver vultos, nem pantera, nem Xamã, nem lembranças de um passado que nem sei se existiu! Me deixem em paz! Me deixem em paz!

— Ísis? — Tá tudo bem aí? — Minha irmã perguntou por ter me ouvido gritando sozinha.

— Me deixa em paz você também! Finge que eu não existo! — Falei num tom de grosseria que não consegui conter.

— Tá louca é? Devia ir pro hospício! — Ela retrucou.

Fiquei quieta, pensando se eu devia mesmo. Nossa, como eu queria poder fingir que eu não existo!

O vulto na parede foi se densificando até possuir uma forma, fiquei paralisada ao ver aqueles três rostos demoníacos no meu quarto, sim, eram exatamente os mesmos que eu havia visto na infância.

Comecei a gritar muito, joguei coisas neles, mas aqueles três rostos só riam de mim, eram risadas apavorantes. Minha irmã começou a se preocupar de verdade e apesar de toda a minha grosseria com ela, ofereceu sua ajuda. Não aceitei e ainda disse que ela devia tomar conta da sua própria vida.

Ao mesmo tempo em que falava com ela, pela primeira vez, vi os três rostos se transformarem em um único ser. Sua cor continuava vermelha, mas seu aspecto era como o de um réptil.

Ele falava algo numa voz cavernosa, entendi apenas "você e aquele outro me pertencem", quase não dava para entender seu dialeto, nem sei a quem ele se referia além de mim.

Una o ameaçava e ele afastava um pouco, mas quando suas mãos conseguiram me tocar, num impulso, saí do quarto correndo, batendo a porta.

Meus familiares tentaram falar comigo, mas passei reto e fui para a rua sem responder, eu estava completamente eufórica, não dava para dissimular uma desculpa.

Eu estava numa batalha pela minha sobrevivência... pela minha sanidade... não dava para me preocupar com nada além de mim, nem dava para pensar em formalidades, educação, gentilezas...

O Livro de ÍsisOnde histórias criam vida. Descubra agora