Abri meus olhos lenta e forçosamente, estava dopada de sono, queria só voltar a dormir, mas Samuel me chamava baixinho. Olhei para ele como um bebê que vê a mãe pela primeira vez, sua imagem estava muito nítida, diferente das outras vezes e seu toque era quente.
Quando consegui me sentar na cama reparei que eu estava num hospital, era um lugar bem conhecido para mim, não era qualquer hospital, era um que tratava almas.
Só então me lembrei do que havia acontecido no mar, isso não foi nenhum choque para mim, já estava acostumada a viver aqui e lá! Era apenas como se mudar de cidade, mas dessa vez algo me incomodava. — Como estaria Elohim? — Como estaria Jasmim?
Comecei a questionar Samuel, e vendo que eu fiquei muito agitada, ele me injetou algo que acabou me fazendo dormir de novo. Só acordei no dia seguinte, e para dizer a verdade, achei desnecessária essa atitude, eu só queria informações.
Ao despertar pela segunda vez, eu estava sozinha, pensei em chamar alguém, mas olhei para aquele imenso quarto tão branquinho e me senti muito calma, quase que extasiada.
A leveza do meu corpo e a clareza dos meus pensamentos me faziam querer viver assim para sempre, eu nunca sonhei com um paraíso mitológico, mas sempre sonhei com essa quietude em meus pensamentos, o estar presente, o não desejar nada, apenas estar bem ali do jeito que estava.
Caminhei pelo quarto para sentir meu corpo, me estiquei, respirei lentamente, deu até vontade de sorrir, por sentir aquele bem estar que nunca consegui sentir na terra. Mesmo quando eu estava bem, as sensações das dores causadas pelas memórias antigas nunca me deixavam causando tensões que tive de aprender a conviver sem reclamar.
Fui até a janela, puxei aquela cortina de tecido tão suave que acariciava minhas mão só de puxá-la. Olhei para fora, eu estava no segundo andar, o sol brando iluminou o quarto e uma brisa suave acalentou mais ainda minha alma. Algumas pessoas estavam no gramado lá embaixo, nem todas pareciam estar tão bem quanto eu, algumas estavam inconformadas e dando trabalho aos enfermeiros.
Acenei para Samuel que estava acalmando uma menina bem novinha, que não parava de chamar pela mãe, mesmo assim ao me ver, ele fez um gesto para que eu descesse ao jardim. Quando cheguei perto deles a menininha pareceu se simpatizar comigo e logo foi com as outras crianças que estavam brincando com umas coisas coloridas que flutuavam.
— Samuel, quer dizer que assim que acabou minha vida?
— Não estou vendo ninguém sem vida aqui! — respondeu bem humorado.
— Sei... mas minha vida na terra, minha vida de Ísis, foi interrompida tão cedo, eu só tinha vinte e um e... agora que tudo estava se ajeitando! Não queria morrer assim, neste momento!
— Você ainda acredita na morte?... Bom, preciso te contar que você ainda está ligada ao seu corpo, os equipamentos estão mantendo seu corpo vivo!
— Então posso voltar? — Perguntei, mas Samuel desconversou.
— Você não quer saber sobre Elohim?
— Ele está aqui? Ele está vivo?
— Infelizmente não está aqui, e temos um grande trabalho a fazer por ele! Ísis, ele veio para cá como um suicida, essa é uma das piores formas de chegar aqui, pois seres ignorantes se utilizam destes para sua diversão, mesmo enquanto os suicidas por si próprio já estão se torturando e revivendo por inúmeros anos o momento da morte.
— Mas ele estava perturbado, não teve culpa do que fez!
— Não é bem assim que as coisas funcionam por aqui, ainda mais que foi o próprio Elohim quem causou suas confusões mentais, devido às más decisões por centenas de anos. E também provocou o ódio naquele que foi seu filho, que até hoje tenta o prejudicar.
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O Livro de Ísis
RandomÍsis vive uma intensa luta pela sanidade, sua mente tão cheia de conflitos, traumas e lembranças de outras vidas a deixa sem saber qual é o limite entre a extrema clareza e a loucura. Suas experiências seriam vindas de um mundo transcendente ou ser...