Assim que terminamos nossa atividade no pátio, chamei Jasmim para conversar, eu não aguentava ficar com aquela notícia só para mim. Sentamos na escada da varanda aproveitando para observar os primeiros instantes da noite.
— Jasmim, vou ter que ir embora!
— Não, não vai! — falou Jasmim já começando a chorar.
— Me disseram que meus pais não estão pagando minha internação e só vão me manter aqui até o final de semana se eles não pagarem.
— Vou pedir para meu pai pagar para você! — ela disse meio desesperada.
— Não é certo! Eu venho te visitar Jasmim, também vou sentir sua falta!
Jasmim me abraçou forte enquanto chorava sem parar, e eu disse:
— Logo você vai ter outra colega de quarto e nem vai se lembrar de mim.
— Impossível! — Jasmim respondeu tentando se recompor.
— Quem sabe quando você sair daqui também poderemos nos ver de novo?
— Se você sair acho que vou entrar em depressão, não vou nunca me recuperar! Não quero perder você também, você tem sido minha família! — Eu achava Jasmim bem dramática, mas ela falava tão dolorosamente que me comovia. Como ela havia se apegado tanto comigo em apenas dois meses?
— Jasmim você vai se cuidar melhor ainda para poder sair logo e daí nos encontramos! Certo? Promete?
— Não posso! Você disse que não queria voltar para sua casa, vamos fugir!
Fiquei ali tentando ser racional e convencer Jasmim do que era "certo", apesar de estar pensando em fugir para a casa de Miguel e Bia. Já havia passado quase uma hora que estávamos ali, o céu estava bem escuro e fazia frio, então falei segurando as mãos dela:
— Vamos esperar para ver se meus pais pagam até o final de semana, quem sabe eles só tiveram algum imprevisto.
— Ísis, estou apaixonada por você! Você não percebe? — Jasmim confessou e prosseguiu — Comecei até a ter vontade de viver, de melhorar, de me recuperar!
Dei um sorriso de lado, achando meio engraçado, pois ela havia dado vários sinais mas eu sempre ficava confusa sobre o que significavam.
Eu não conseguia ser sentimental, a fobia social sempre me fez ver as pessoas como algo que eu deveria ficar longe, e os sofrimentos que vivi me deixaram muito fria. Mas confesso que senti uma "ligação" com Jasmim, essa era a palavra mais romântica que eu poderia dizer.
Fomos jantar como se nada houvesse acontecido, mas durante a noite fui acordada quando Jasmim se deitou na minha cama. Ela me abraçou por trás, colocando suas pernas entre as minhas, pôs uma mão na minha barriga por debaixo da blusa e o rosto em meu pescoço. E eu? Não fiz nada.
No dia seguinte agimos naturalmente, descemos mais tarde para o café da manhã e ficamos conversando de boa, já que não esperávamos visitas, nem o pai dela iria neste dia devido a confusão do encontro anterior.
— Ísis, tem visita para você! Vai no pátio! — gritou a coordenadora.
— Será que seus pais vieram te buscar? — falou Jasmim chateada.
— Pode ser! Vou ter que ver! — respondi enquanto Jasmim me segurava para me impedir de ir.
— Vamos juntas ver quem é?! — falei.
Cheguemos no pátio mas não tinha ninguém me esperando, então disse para a coordenadora que ela havia se enganado.
— Está ali, olha! — respondeu apontando um rapaz que eu nunca havia visto.
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O Livro de Ísis
DiversosÍsis vive uma intensa luta pela sanidade, sua mente tão cheia de conflitos, traumas e lembranças de outras vidas a deixa sem saber qual é o limite entre a extrema clareza e a loucura. Suas experiências seriam vindas de um mundo transcendente ou ser...