25 - Mar Negro

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— Parabéns Flor!

— Parabéns Anjinha!

— Nossa que melação! — Reclamou Elohim irritado, como ele andava mal humorado mesmo, nem ligamos.

— Dá para acreditar que dois anos se passaram? — comentei.

— Nem dá! Desejei tanto estar com você! ...só não esperava ter um filho rebelde e mais velho do que eu! — falou Jasmim em tom de brincadeira olhando para Elohim que fingiu que não tinha nada à ver com a história e se fechou emburrado.

Nós duas estávamos com apenas vinte e um, mas nos sentíamos muito responsáveis por Elohim, como se algo muito forte nos unisse.

Eu estava tentando me concentrar no nosso aniversário de namoro, mas algo estava me incomodando, como se uma sombra rondasse nossa casa, mas isso podia ser apenas influência do estresse de Elohim. Nós já estávamos muito acostumadas com seu comportamento borderline, cheio de instabilidade e impulsividade, mas nestes dia nem o víamos instável, só o víamos no lado negativo, não dava nem para conversar.

Me senti sem saída, por vezes pensamos em interná-lo novamente, ou entregá-lo para a família, mas não tivemos coragem. Eu já havia pedido ajuda à Samuel, porém não fui atendida, "temos que dar conta dos processos que surgem em nossa vida e encontrar as saídas com nosso próprio discernimento", foi o que ele me respondeu.

— Ísis, onde estão meus livros? — questionou Elohim agitado.

— Não os vi! — menti.

— Como não? Deixei aqui! — falou agressivo.

— Elohim, não os vi!

— Será que estou num hospital psiquiátrico? Agora vocês tiram até meus pertences? Acho melhor vocês irem embora da minha casa! Me deixem em paz!

Seria fácil para nós duas mudar da casa, mas nunca o fizemos, apenas pensando que se saíssemos dali, logo a família de Elohim viria buscá-lo. Elohim não compreendia que sua família havia nos oferecido para morar em uma de suas casas, apenas porque estávamos cuidando dele e que nunca o deixariam sozinho lá.

— Elohim, desculpa por eu ter guardado seus livros, mas eles realmente não estavam te fazendo bem!

— Eles me fazem muito bem, vocês é que estão querendo me afastar do meu caminho, mas não vou permitir! — falou de forma assustadora!

— Me explique então, qual é o seu caminho, quem sabe eu vou te entender melhor?

— Meu caminho é o da lucidez, do conhecimento do que é oculto, sem essas crenças infantis da fé cega que essas pessoas iludidas necessitam para usar de muleta!

— Elohim, já vimos juntos tantas coisas boas que são de lucidez e clareza, lembra? Nossa viagem com o Xamã... a Una...

— Tudo infantilidade! Acho que eu estava alucinando! — me interrompeu Elohim.

Ficamos num tenebroso e infindável diálogo, ele não desistia de pedir seus livros das artes das sombras, eu estava decidida a não entregar. Eu já havia visto as altas alucinações que esse tipo de informação lhe causava, tantas vezes tivemos que defendê-lo de si próprio quando o livro lhe ditava missões insanas.

— Não posso ficar vendo você se mutilar, se bater e achar que causar sofrimento a si próprio vai te salvar! — falei querendo mostrar seus comportamentos.

— Eu só estou buscando a transcendência de todas as minhas fraquezas, mas você não entende. Eu achava que podia te mostrar quem sou, mas vou ter que disfarçar da mesma forma como faço com Davi quando tenho minhas visões.

O Livro de ÍsisOnde histórias criam vida. Descubra agora