1 - Sensações

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Aquelas cordas estavam tão fortemente amarradas em meus braços e pernas que não haveria chance alguma de escapar, e mesmo que eu conseguisse não havia saída, estávamos cercados pelos militares. Não tenho certeza também se eu conseguiria ficar em pé para tentar fugir, pois os soldados já haviam me esticado tanto naquele equipamento de tortura que acho que meu corpo estava todo quebrado.

As torturas eram suas diversões, mas eles não podiam nos matar, queriam que eu e meus companheiros ficássemos vivos para contar os planos de ataque do nosso batalhão, porém, não tínhamos as respostas que eles queriam e mesmo que tivéssemos não iríamos contar.

Devido ao meu grau hierárquico, me tornei o maior troféu daqueles malditos soldados, eles se divertiam. Quanta diversão! Nem consigo traduzir em palavras a dor que eles me causavam quando rompiam cada ligamento do meu corpo, mas eu evitava reagir, pois não queria dar esse prazer a eles, me esforçava para não gritar como os outros estavam fazendo, mas os gemidos saiam mesmo contra a minha vontade.

Os interrogatórios eram sem fim e a cada pergunta que eu não tinha resposta, mais e mais me esticavam, açoitavam e mutilavam. -E a fome? -A sede? Nada era saciado, nenhuma necessidade era satisfeita, nem as fisiológicas. Era apenas dor e tortura, intercalada com raiva, ódio e desespero.

Se tudo isso já não bastasse, ainda tínhamos de enfrentar a tristeza em ver nossos companheiros gemendo, gritando, chorando e alucinando. A morte era o nosso maior desejo e a nossa maior benção naquele local.

Ah! E a saudade de casa... aquela vontade de abrir os olhos e perceber que tudo foi só um sonho ruim, mas isso nunca acontecia! Então implorávamos pela morte, até porque não haveria como ter uma vida normal depois de presenciar essa desumanidade toda.

Eu cheguei a odiar meu criador, afinal, por que me criar e me deixar passar por tudo isso?

Os meus pensamentos eram as únicas coisas boas que eu tinha, pois neles eu podia me vingar daqueles abomináveis sádicos, eu voltava para a casa, dormia na minha cama, saciava a minha fome...

Não sei quanto tempo se passou assim, pois não víamos a claridade do dia, apenas víamos aquele quarto sem janelas, com corpos em decomposição e sangue por todos os lados. Então, após um tempo que pareceu infinito, meu corpo não aguentou mais e me deu a gloriosa morte.

***

- Mas por que esta memória não me deixa em paz? - eu dizia para mim mesma ofegante, com o pouco de ar que eu absorvia em curtas respirações.

- Foi apenas um abraço que Luan me deu, ninguém me prendeu, ninguém me sufocou, foi um abraço amigável.

- O que passou já passou! O que passou já passou! Eu sou a Ísis, não sou mais um soldado!

Eu fazia um monólogo infindável e tentava me convencer que não havia motivos para tudo aquilo, mas até um abraço me conectava à este tipo de memória, causando sensações tão claustrofóbicas que poderiam me fazer jogar uma pessoa para longe, pelo simples fato dela me abraçar.

Era constrangedor olhar para Luan que estava sem reação, sem entender a minha atitude agressiva, mas eu não tinha o que dizer, ainda estava prosseguindo em meu monólogo inaudível, num esforço de voltar a sanidade.

Quando recobrei minha consciência "normal", busquei por palavras para me desculpar e me explicar, porém as únicas palavras que saíram foram:

- Me arruma um remédio, por favor?! - supliquei como uma criança indefesa.

- Remédio? - respondeu Luan achando tudo muito confuso.

- Sim, quero dormir, não aguento mais ficar dentro dos meus pensamentos. - eu tentava falar sem parecer muito alterada, controlando o vulcão de dentro de mim.

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