Vivendo com propósito

27

Quando todos pensaram que ele havia partido com ela para Roma, ele estava indo para a Espanha, a intenção do mesmo era que chegando lá pudessem casar-se às pressas para não dar tempo da notícia do sequestro não se espalhar. O que ele não contava era com a interferência do Rei dos Reis.

Já faziam quase trinta dias que estavam no mar. Júlia não saia da cabine para nada, ela temia ver David e ele a machucar, pois na verdade ela estava com medo dele lhe fazer algum mal. A única pessoa que ela via era Alaíde a camareira que lhe foi designada.

- Bom dia alteza, a senhora quer comer algo? - pergunta a mulher.

- Não Alaíde, não tenho fome. Sabe dizer se estamos perto de chegar? Sinto que vou enlouquecer se ficar aqui mais um tempo. - Diz Júlia olhando pela pequena janela que tinha em seu quarto.

- Não sei dizer, na verdade ouvi comentários que talvez vamos enfrentar outra tempestade.

- Oh meu Deus. A última quase não escapamos, tivemos ainda a perda de um dos marujos.

- Tome alteza, eu encontrei na cabine do capitão. Sei que gostaria de ler algo. - ela fala entregando um livro amassado e sujo nas suas mãos.

- Que coisa bonita da sua parte Alaíde, obrigada mesmo. - disse Júlia recebendo o livro das mãos da mulher.

Sentou na poltrona que havia perto da cama e foi folhear o livro. Ele na verdade era um diário de uma jovem que tinha saído de uma pequena região não relatada por ela no diário e partido em busca de um Deus que ela não conhecia. Júlia começou devorar aquele diário se encantando com as palavras que haviam ali. Ela ficou tão presa na leitura que não sentiu o tempo passar nem se deu conta que a tempestade havia começado, só percebeu quando a luz apagou e gritos ecoavam da parte de fora. Júlia se agarrou ao diário na dúvida se saía para ver o que havia ou se ficava aguardando Alaíde voltar.

Após um longo tempo sozinha no silêncio e no escuro encolhida na cama sem saber o que fazer ela começou a recitar o salmo 46, não sabia porque ela sentia que talvez essa tempestade viesse a seu socorro e orava agradecendo a Deus. Foi quando ela sentiu uma forte pancada como se o navio tivesse batido em algo muito grande. Riu lembrando de Jonas no ventre da baleia e decidiu levantar e sair do quarto.

Começou andar nos corredores do navio que aparentemente não havia ninguém ali.

- Moça. - disse uma voz suave atrás de si.

Júlia virou olhando a pequena pessoa que se encontrava ali na sua frente e que mais parecia um anjo de tão lindo.

- Oi, sou Júlia e você?

- Sou Ric, meu pai é o capitão desse navio, eu vim escondido nessa viagem.

- Sabe o que ta acontecendo Ric?

- A tempestade mudou nosso rumo e batemos em algum tipo de rocha grande. Todos desceram para ver o que há e Alaíde disse que eu podia ir também.

- Não é perigoso?

- Não estamos em terra firme, mas não sabemos ainda onde.

- Vamos eu vou com você.

Quando Júlia desceu do navio estavam todos numa praia e David ao lhe ver se aproxima.

- Pensei que havia morrido. - diz ele lhe segurando para ela descer.

- Não se preocupe, vou deixar para fazer isso na hora do sim.

- Venha para a sombra, vamos descobrir como voltar para o mar, ou pelo menos onde a tempestade nos deixou.

Ela o obedece seguindo Ric para debaixo de uma árvore. Sentir os raios do sol e a areia em suas mãos era maravilhoso. Se sentiu tão feliz que começou entoar um hino de gratidão a Deus.

Como a tempestade os levou para um lugar diferente da rota, o navio com a correspondência para o imperador e o pai de Júlia chegou primeiro e o imperador mandou decretar que ele fosse preso imediatamente, fez um documento liberando Júlia de se casar com o mesmo.

Em todos os portos haviam soldados esperando para prender toda a tropa e libertar Júlia, Gabriel que não pode ficar em Roma esperando voltou para a Itália pois sua tia havia piorado e Liliane havia ganhado bebê. Mas aguardavam que em algum momento ele fosse pego e ela fosse libertada.

Para Júlia na praia tudo melhorou ela tinha a companhia de Ric e passeava com ele, descobriu que o diário era de sua bisavó e que todos haviam se convertido na família por causa do diário. Júlia também descobriu que o capitão do navio estava sendo ameaçado para fazer aquela viagem.

Após uns quinze dias na praia um navio que ia passando por perto e que foi visto por eles, recebeu um aviso de fumaça e veio lhes ajudar. Levou as mulheres e as crianças, bem como o ilustre príncipe e deixou comida para os outros prometendo mandar um que lhes buscassem.

Quando desembarcaram no porto de Roma, pois o navio estava indo para lá, David ameaçava Júlia dizendo lhe matar e matar Ric se a mesma fizesse algo para se livrar dele. Mas ele esqueceu de que criança é esperta e Ric tendo ouvido todas as conversas e sabendo que ela estava contra a vontade assim que desceu do navio se escondeu entre uns barris e se aproximou de um soldado que revistava o navio, mas tinha deixado passar eles pois o navio não era de guerra e esperavam um navio de guerra. O menino disse tudo ao soldado e ele lembrando que estavam procurando uma jovem que havia sido raptada, mandou um aceno para dois amigos e interceptaram David.

- Eu estou dizendo a vocês que é o casal errado, ela é minha esposa e não se chama Júlia não é amor?

- Sim. - ela falou com medo sem olhar para ele mas procurando ver se os soldados liam seus olhos.

- Mesmo assim vamos até a delegacia, pois nossas ordens são severas e temos que investigar.

Foram conduzidos para a delegacia e como Deus trabalha de maneira maravilhosa, foram ouvidos separadamente, e Júlia pode contar tudo que lhe aconteceu de verdade, inclusive sobre as ameaças a sua família e amigos.

O Príncipe David foi preso e destituído do cargo dele, Júlia e o menino Ric foram enviados para a Itália acompanhados de Alaíde e uma pequena esquadra que os guardavam.

Quando chegaram na fazenda, encontraram Emily com Magno, bem como alguns dos amigos. Souberam que o navio de guerra que a levou foi descoberto a localização e Gabriel havia partido para lá a sua procura.