Prólogo

52.1K 2.6K 1.6K
                                    

"Não é justo
Você realmente sabe como me fazer chorar
[...]
Eu estou assustada
Eu nunca caí de tão alto
Caindo em seus olhos de oceano"
— Ocean Eyes, Billie Eilish.

Desde o momento em que ele entrou na minha vida, com suas investidas impróprias e seus comentários maliciosos, eu deveria ter desconfiado.

Se eu ao menos soubesse que ele ferraria ainda mais a minha mente e atormentaria todos os meus pensamentos, eu não teria cedido. Não teria me deixado levar pelas suas íris azuis oceano penetrantes, pelo seu sorriso malicioso e sua postura prepotente.

Adentrei o lugar com o sangue fervendo, a adrenalina correndo livremente em minhas veias. As luzes oscilavam e a música alta fazia um zunido desagradável ecoar pelos meus ouvidos.

O lugar estava lotado, as pessoas suadas dançavam aglomeradas. Passei pela pista de dança abrindo caminho com os braços, empurrando quem quer que estivesse na minha frente.

Só havia um sentimento que falava mais alto que a raiva no momento:

A negação.

Não podia ser verdade.

Mais ao fundo da boate, alguns sofás eram dispostos para as pessoas se sentarem.

Passei os olhos pelo lugar, desesperada.

As cabeças do casal que se beijava mexiam de um lado para o outro sem cessar.

Forcei os olhos para conseguir enxergar melhor naquele lugar mal iluminado.

Era verdade.

Me aproximei do casal que estava no canto mais reservado. A garota estava sentada no colo dele, enquanto enfiava a língua na boca dele.

E ele correspondia a cada toque e carícia.

A imagem fez meu estômago revirar. Eu queria vomitar.

E então, ele abriu os olhos no meio do beijo.

Suas orbes azuis brilhavam em uma mistura de sentimentos mas, estranhamente, a surpresa não era um deles. Era como se ele já esperasse que eu estivesse bem ali, vendo tudo.

Decepção. Esse era o sentimento que se sobressaía agora.

Eu estava muito decepcionada.

Frustada.

Como ele teve coragem?

Ele prometeu não ser mais uma decepção que se acumularia em minha vida.

Ele se afastou da garota, tomando impulso e ameaçando se levantar.

Sentindo que as lágrimas dolorosamente acumuladas queriam sair, virei as costas e corri em direção à saída, empurrando as pessoas outra vez durante o percurso.

Inalei o ar puro com força assim que saí daquele lugar claustrofóbico, não sentindo, porém, o pulmões preenchidos e satisfeitos com tal ato.

A brisa gélida da madrugada chocava-se contra o meu rosto conforme comecei a correr para o mais longe possível daquele lugar.

Para o mais longe possível dele.

As lágrimas desciam sem restrição agora.

— Alyssa — ele berrava, ofegante por correr atrás mim. — Espere.

Esperar? Eu estava cansada de me acomodar e esperar pacientemente por alguém que não valia metade do meu árduo esforço.

Eu só queria me ver longe do seu toque ardente e de suas meias verdades incrivelmente convincentes.

Contudo, não consegui correr por muito tempo. O esgotamento físico e mental fizeram minhas pernas fraquejarem.

Caí com tudo no chão, ralando o meu joelho desnudo.

Ele me alcançou alguns minutos depois. Ele sempre teve um físico melhor que o meu.

— Docinho — ele lamentou.

— Não me chame assim — gritei.

Ele se agachou ao meu lado, estendendo a mão em uma oferta silenciosa para me ajudar a levantar e, consequentemente, roçando a ponta dos seus dedos em meu braço.

— Não encosta em mim, caralho!

Me levantei, negando sua ajuda. Enxuguei as lágrimas recentemente derramadas com o dorso da mão e assumi uma postura indiferente.

Meu rosto era frio e inexpressivo, entretanto, o sangue que corria em minhas veias parecia prestes a entrar em combustão.

Ardia.

Era horrivelmente doloroso.

Minhas orbes castanhas analisaram o garoto que havia me despedaçado uma última vez antes que eu continuasse:

— Nunca mais encoste em mim, Hunter.

Crossroad (EM REVISÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora