"Com o gosto dos seus lábios, eu viajo
Você é tóxico, estou derretendo
Com o gosto do seu veneno, estou no paraíso
Estou viciada em você
Você não sabe que é tóxico?"
- Toxic, Britney Spears.
✼ ✼ ✼
Passei as mãos entre os fios de cabelo e torci por um milagre que fizesse com que eu não fedesse a comida. Bufei, dando de ombros ao perceber ser em vão. Meus cabelos estavam marcados por terem ficado amarrados praticamente o dia todo e, com certeza, fediam a fritura. Nem um milagre resolveria essas questões.
Sai do banheiro e encontrei o loiro debruçado sobre o balcão, me esperando.
- Vamos? - Ele sorriu.
Confirmei com a cabeça e o segui até a saída da lanchonete, acenando com a mão para Hailey em um gesto de despedida. A garota sorriu, analisando o garoto que andava a passos confiantes até a porta. Ela ergueu a mão, fazendo um gesto positivo enquanto balançava a cabeça em concordância. Ri, mostrando a língua para ela.
- Quem mostra a língua pede beijo - ela sibilou, sem emitir som algum.
Dei de ombros, alternando meu olhar entre o garoto e ela.
- Quem sabe - sibilei de volta.
Já escurecia do lado de fora, porém, o tempo ainda se encontrava abafado. Suspirei fundo, me vendo livre do ambiente da lanchonete e aproveitando a brisa de fim de tarde. As estrelas que já despontavam no céu indicavam que o dia seguinte seria igualmente quente e sorri ao constatar isso. O loiro riu da minha expressão contemplativa e me puxou pela mão, fazendo com que eu voltasse a andar, já que eu havia parado assim que pus meus pés para fora da lanchonete.
- Não me culpe! Passar a tarde naquele lugar é um saco.
Ele ergueu as mãos para o alto.
- Mas eu não disse nada - se defendeu.
Apertei os olhos, apontando o dedo em sua direção.
- Seu rosto diz tudo - acusei.
Ele riu, negando com a cabeça e concordando.
Andamos até uma praça perto dali e nos sentamos na grama depois de termos parado em um carrinho de sorvete. Eu segurava minha casquinha de chocomenta enquanto Zach segurava a sua de abacaxi. Soltei um gemido de aprovação ao passar a língua pela substância gelada, fechando os olhos e repetindo o processo.
- Esse, definitivamente, é o melhor sabor de sorvete - conclui, olhando para o loiro sentado ao meu lado.
Ele tinha a cabeça erguida em direção ao céu e analisava as mesmas estrelas que eu momentos atrás.
- Aquela - ele apontou para algo no céu-, É a Ori.
Franzi a testa.
- O quê?
- É uma sigla para a constelação de Órion - ele explicou. - E aquela é a Apus. Ou, popularmente dita, Ave do Paraíso.
Pisquei surpresa. Eu não via nada além de diversos pontinhos brilhantes.
- Uau - elogiei. - Existe mais alguma habilidade sua que eu deva saber?
Ele deixou de olhar para cima e direcionou seus olhos até mim.
- Bom... - suas orbes esverdeadas brilhavam em malícia e divertimento.
Balancei a cabeça, entendendo o que ele queria dizer. Lambi o sorvete outra vez, o sentindo escorrer pelo canto da boca. Pus minha língua para fora, tentando limpar o rastro cremoso. O loiro, que observava tudo, sorriu.
- Eu limpo pra você.
Inclinei minha cabeça em sua direção, esperando que ele erguesse a mão e usasse um de seus dedos para me limpar, no entanto, paralisei quando o garoto umedeceu os lábios e se aproximou. Sua língua deslizou pelo canto dos meus lábios, quente e hábil.
- Você tem razão - ele anunciou ao se distanciar. - Esse sabor de sorvete é delicioso.
[...]
- Sweet est mieux que salé.¹
Repeti o que ele havia me ensinado, rindo de mim mesma ao errar feio na pronúncia.
- Desisto - sacudi as mãos, dispensando a próxima frase em francês que ele tentaria me ensinar.
- Qual é! Você não pode desistir assim - ele reclamou.
Estávamos parados em frente ao meu apartamento e eu me sentia culpada por não o convidar para entrar, contudo, não o fazia por mal. As coisas lá dentro estavam uma bagunça, como o usual.
- Bom, fica pra próxima.
Ele inclinou a cabeça, brincalhão.
- Então vai ter uma próxima?
Dei de ombros.
- Quem sabe - sorri.
O loiro se aproximou outra vez e, ao estender o braço para tocar o meu rosto, notei uma constelação tatuada no seu antebraço. Sorri com esse pequeno detalhe. Seus lábios tocaram os meus calmamente e sua língua contornou meus lábios antes de se por para dentro da minha boca. Me encostei na porta e seu corpo se aproximou mais do meu, seus braços envolta da minha cintura.
Abacaxi.
Sua boca tinha o gosto doce do sorvete que ele recentemente tomara.
Ele se distanciou, um sorriso perspicaz dançando em seus lábios avermelhados e úmidos.
- Até a próxima, então - ele piscou, me dando as costas e sumindo pelo corredor escuro.
Me assustei quando uma porta foi aberta. A luz vinda de dentro do apartamento 503 iluminou uma parte do corredor.
- Caramba, Hunter - pus a mão no coração. - Você quase me matou de susto.
Diferente do que eu esperava, ele não riu ou tirou sarro da situação. Seus passos dados até mim foram largos e decididos e logo me vi posta contra a madeira da porta.
Me prensar nos lugares parecia ser um hobby para ele.
- Se divertiu? - Perguntou.
Cruzei os braços, na defensiva.
- Muito.
Seus olhos se focaram na minha boca, a qual eu imaginava estar inchada pelo beijo recente. Uma de suas mãos apertava a minha cintura, enquanto a outra traçava pequenos círculos em meu braço. Ele se aproximou ainda mais, deslizando sua língua pelo meu pescoço e mordiscando a pele sensível. Sua boca foi até a minha e ele roçou nossos lábios, passando a me beijar sem pressa. Instintivamente circulei seu pescoço com as mãos, o puxando para mim e, assim, juntando ainda mais nossos corpos. Ofeguei e abri os olhos quando ele se afastou, continuando próximo o suficiente para que nossos narizes se roçassem.
- Ainda sente o toque dele?
Pisquei embriagada, negando com a cabeça. Ele pareceu satisfeito quando se distanciou, me lançando um sorriso convencido e, então, se virando e voltando para o seu apartamento.
Me vi olhando para ambos os lados do corredor. Para onde Zach havia ido e para onde Hunter havia ido.
Sorri.
Abacaxi com menta era uma das minhas combinações preferidas.
NOTAS
1. " - Doce é melhor que salgado. "
Vocês já deram um olhadinha em The Musician, minha nova obra aqui na plataforma?
Deem uma espiadinha lá, vocês podem gostar :)
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Crossroad (EM REVISÃO)
RomantikO que é pior, novas feridas que são horrivelmente dolorosas ou velhas feridas que deveriam ter sarado anos atrás mas nunca o fizeram? Obs.: Pode conter palavras de baixo calão, descrições sexuais e uso explícito de bebidas e outras drogas. → Revisor...