14 | Ainda sente o toque dele?

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"Com o gosto dos seus lábios, eu viajo

Você é tóxico, estou derretendo

Com o gosto do seu veneno, estou no paraíso

Estou viciada em você

Você não sabe que é tóxico?"

- Toxic, Britney Spears.

Passei as mãos entre os fios de cabelo e torci por um milagre que fizesse com que eu não fedesse a comida. Bufei, dando de ombros ao perceber ser em vão. Meus cabelos estavam marcados por terem ficado amarrados praticamente o dia todo e, com certeza, fediam a fritura. Nem um milagre resolveria essas questões.

Sai do banheiro e encontrei o loiro debruçado sobre o balcão, me esperando.

- Vamos? - Ele sorriu.

Confirmei com a cabeça e o segui até a saída da lanchonete, acenando com a mão para Hailey em um gesto de despedida. A garota sorriu, analisando o garoto que andava a passos confiantes até a porta. Ela ergueu a mão, fazendo um gesto positivo enquanto balançava a cabeça em concordância. Ri, mostrando a língua para ela.

- Quem mostra a língua pede beijo - ela sibilou, sem emitir som algum.

Dei de ombros, alternando meu olhar entre o garoto e ela.

- Quem sabe - sibilei de volta.

Já escurecia do lado de fora, porém, o tempo ainda se encontrava abafado. Suspirei fundo, me vendo livre do ambiente da lanchonete e aproveitando a brisa de fim de tarde. As estrelas que já despontavam no céu indicavam que o dia seguinte seria igualmente quente e sorri ao constatar isso. O loiro riu da minha expressão contemplativa e me puxou pela mão, fazendo com que eu voltasse a andar, já que eu havia parado assim que pus meus pés para fora da lanchonete.

- Não me culpe! Passar a tarde naquele lugar é um saco.

Ele ergueu as mãos para o alto.

- Mas eu não disse nada - se defendeu.

Apertei os olhos, apontando o dedo em sua direção.

- Seu rosto diz tudo - acusei.

Ele riu, negando com a cabeça e concordando.

Andamos até uma praça perto dali e nos sentamos na grama depois de termos parado em um carrinho de sorvete. Eu segurava minha casquinha de chocomenta enquanto Zach segurava a sua de abacaxi. Soltei um gemido de aprovação ao passar a língua pela substância gelada, fechando os olhos e repetindo o processo.

- Esse, definitivamente, é o melhor sabor de sorvete - conclui, olhando para o loiro sentado ao meu lado.

Ele tinha a cabeça erguida em direção ao céu e analisava as mesmas estrelas que eu momentos atrás.

- Aquela - ele apontou para algo no céu-, É a Ori.

Franzi a testa.

- O quê?

- É uma sigla para a constelação de Órion - ele explicou. - E aquela é a Apus. Ou, popularmente dita, Ave do Paraíso.

Pisquei surpresa. Eu não via nada além de diversos pontinhos brilhantes.

- Uau - elogiei. - Existe mais alguma habilidade sua que eu deva saber?

Ele deixou de olhar para cima e direcionou seus olhos até mim.

- Bom... - suas orbes esverdeadas brilhavam em malícia e divertimento.

Balancei a cabeça, entendendo o que ele queria dizer. Lambi o sorvete outra vez, o sentindo escorrer pelo canto da boca. Pus minha língua para fora, tentando limpar o rastro cremoso. O loiro, que observava tudo, sorriu.

- Eu limpo pra você.

Inclinei minha cabeça em sua direção, esperando que ele erguesse a mão e usasse um de seus dedos para me limpar, no entanto, paralisei quando o garoto umedeceu os lábios e se aproximou. Sua língua deslizou pelo canto dos meus lábios, quente e hábil.

- Você tem razão - ele anunciou ao se distanciar. - Esse sabor de sorvete é delicioso.

[...]

- Sweet est mieux que salé.¹

Repeti o que ele havia me ensinado, rindo de mim mesma ao errar feio na pronúncia.

- Desisto - sacudi as mãos, dispensando a próxima frase em francês que ele tentaria me ensinar.

- Qual é! Você não pode desistir assim - ele reclamou.

Estávamos parados em frente ao meu apartamento e eu me sentia culpada por não o convidar para entrar, contudo, não o fazia por mal. As coisas lá dentro estavam uma bagunça, como o usual.

- Bom, fica pra próxima.

Ele inclinou a cabeça, brincalhão.

- Então vai ter uma próxima?

Dei de ombros.

- Quem sabe - sorri.

O loiro se aproximou outra vez e, ao estender o braço para tocar o meu rosto, notei uma constelação tatuada no seu antebraço. Sorri com esse pequeno detalhe. Seus lábios tocaram os meus calmamente e sua língua contornou meus lábios antes de se por para dentro da minha boca. Me encostei na porta e seu corpo se aproximou mais do meu, seus braços envolta da minha cintura.

Abacaxi.

Sua boca tinha o gosto doce do sorvete que ele recentemente tomara.

Ele se distanciou, um sorriso perspicaz dançando em seus lábios avermelhados e úmidos.

- Até a próxima, então - ele piscou, me dando as costas e sumindo pelo corredor escuro.

Me assustei quando uma porta foi aberta. A luz vinda de dentro do apartamento 503 iluminou uma parte do corredor.

- Caramba, Hunter - pus a mão no coração. - Você quase me matou de susto.

Diferente do que eu esperava, ele não riu ou tirou sarro da situação. Seus passos dados até mim foram largos e decididos e logo me vi posta contra a madeira da porta.

Me prensar nos lugares parecia ser um hobby para ele.

- Se divertiu? - Perguntou.

Cruzei os braços, na defensiva.

- Muito.

Seus olhos se focaram na minha boca, a qual eu imaginava estar inchada pelo beijo recente. Uma de suas mãos apertava a minha cintura, enquanto a outra traçava pequenos círculos em meu braço. Ele se aproximou ainda mais, deslizando sua língua pelo meu pescoço e mordiscando a pele sensível. Sua boca foi até a minha e ele roçou nossos lábios, passando a me beijar sem pressa. Instintivamente circulei seu pescoço com as mãos, o puxando para mim e, assim, juntando ainda mais nossos corpos. Ofeguei e abri os olhos quando ele se afastou, continuando próximo o suficiente para que nossos narizes se roçassem.

- Ainda sente o toque dele?

Pisquei embriagada, negando com a cabeça. Ele pareceu satisfeito quando se distanciou, me lançando um sorriso convencido e, então, se virando e voltando para o seu apartamento.

Me vi olhando para ambos os lados do corredor. Para onde Zach havia ido e para onde Hunter havia ido.

Sorri.

Abacaxi com menta era uma das minhas combinações preferidas.

NOTAS

1. " - Doce é melhor que salgado. "

Vocês já deram um olhadinha em The Musician, minha nova obra aqui na plataforma?
Deem uma espiadinha lá, vocês podem gostar :)

Crossroad (EM REVISÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora