29 | Homens são horríveis às vezes

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"Eu sempre soube que você seria aquele que iria me derrubar

Não, não é divertido

Ser a garota que você acertou e correu

Queria que você se sentisse culpado pelas coisas que fez"

- Find What You're Looking For, Olivia O'brien.

Me assusto quando a porta do apartamento é escancarada e dou mais um pulo quando Cora bate a porta com força após passar pela mesma.

- Deixei um bilhete para você antes de sair - indico o papel em cima da mesa. - Mas, no fim, voltei antes de você.

Ela força um sorriso, encolhendo os ombros.

- Desculpe por isso.

Dou de ombros.

- Espero que tenha mesmo transado por nós duas - brinco, estranhamente não sendo acompanhada por ela. - O que foi?

Ela anda até mim, sentando ao meu lado no sofá e me encarando com seriedade.

- Homens são horríveis às vezes.

Enrugo a testa, confusa.

- Brigou com o Peter?- Indago.

- Não. Quer dizer, sim - ela chacoalha as mãos. - Só... Homens são horríveis.

- Tá legal...? - Minha afirmação soa mais como uma pergunta.

- Certo. Vou dormir.

Ela se levanta, inquieta e, antes de me dar às costas, me oferece um sorriso nervoso.

[...]

Anoto e sirvo as mesas com precisão. Hailey faltou hoje pois estava gripada, de acordo com Sid, o cozinheiro. Sendo assim, faço todo o trabalho em dobro.

- Eu vou querer um suco de melancia - uma senhora olha atentamente os vários sabores de suco no cardápio.

- Um suco de melancia - repito. - É pra já.

- Não, não - ela me impede de lhe dar às costas. - Acho que vou querer um de laranja - ela pausa novamente, sem tirar os olhos do cardápio. - Ou um de morango seria melhor?

Qualquer um, velha, penso.

- Um suco de uva - ela conclui, enfim me encarando.

As rugas ao redor dos seus olhos se acentuam quando ela me lança um sorriso gentil, e quase me arrependo de ter tido vontade de esfregar seu rosto contra o cardápio minutos atrás. Quase. Sorrio de volta, lhe dando às costas e me dirigindo ao balcão antes que ela tenha a oportunidade de mudar de ideia sobre a droga do suco.

- Um suco de uva - berro, sem me dar ao trabalho de entregar o papel com o pedido escrito para Sid.

Apoio o cotovelo no balcão e me preparo para mais um cliente indeciso quando a porta se abre e o sininho toca. Sei que carrego uma expressão nada amigável e não estou sendo nada receptiva com os clientes, mas quem pode me culpar? Faço o máximo para, pelo menos, não ser mal educada.

Antes de me virar em direção a porta, tento por um sorriso no rosto, no entanto, o sorriso forçado provavelmente me deixa ainda mais assustadora. Como um animal exibindo seu dentes afiados.

É melhor Hailey melhorar até amanhã.

Me viro, esperando encontrar mais um senhora fofinha que vá me tirar do sério, porém, tudo que encontro é um Hunter acuado se aproximando. Ele ergue os olhos até mim e, quando volta a fitar o chão, fica ainda mais acuado, curvando os ombros e enfiando as mãos nos bolsos do jeans rasgado.

Uau, devo estar mesmo assustadora.

Volto a me apoiar no balcão quando vejo que ele não procura uma mesa para se acomodar, e, sim, começa a andar até mim. Ele não se aproxima o suficiente para que eu consiga tocá-lo, tampouco sentir seu cheiro.

- Hunter - chamo. - Está tudo bem?

Quando tais palavras saem da minha boca, ele ergue a cabeça depressa. Sua íris azuis límpidas tremeluzem em confusão. Alívio. Seus lábios se repuxam em um sorriso minúsculo, nervoso.

-Você está bem? - Indaga.

Franzo as sobrancelhas, o achando um tanto estranho, contudo, me limito a dar de ombros.

- Hailey faltou hoje, então estou trabalhando em dobro. Mas, sim - balanço os ombros novamente, - estou bem.

O moreno recua mais dois passos, como se alguém tivesse o empurrado.

- Hailey?

- A garçonete que trabalha comigo.

Ele fica estático por um instante, seus olhos nublados. Um caos.

- Ei - me afasto do balcão e me aproximo dele. - Está tudo bem?

Ele não recua quando toco seu ombro, mas seu corpo inteiro retesa. Ele apenas concorda com a cabeça e, quando volta a me encarar, relaxa um pouco. O sininho toca novamente, indicando um novo cliente.

- Hawley, pare de paquerar e vá trabalhar - Sid fala da cozinha, alto o suficiente para que algumas pessoas dentro do estabelecimento olhem ao redor à procura do dono da voz.

Reviro os olhos, soltando um "já vai, porra" baixinho.

- Eu tenho que ir - indico a lanchonete com as mãos. - O dever me chama.

Sorrio para o moreno, que solta um riso nasalado e concorda com a cabeça em resposta. Ele se vira e, antes de sair do lugar, me olha por cima do ombro e sorri mais uma vez.

- Hawley! - Sid berra.

Reviro os olhos.

É melhor Hailey melhorar até amanhã.

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