04 | Primeiro erro

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"Você tem o diabo em seus olhos

Sim, você tem o diabo em seus olhos"

Devil Eyes, Hippie Sabotage.

Eu havia passado o resto do dia entregando currículos em todas as lojas de conveniência, cafeterias, bibliotecas, lojas de CD's e em qualquer estabelecimento que contivesse a placa: "precisamos de funcionários".

Atravessei a entrada do prédio exausta por ter andando, praticamente, pela cidade inteira. Um homem falava com a recepcionista enquanto gesticulava com as mãos calmamente.

— Você sabe como os vizinhos exageram — ele se justificava por algo.

— Senhor — ela limpou a garganta, envergonhada com o que estava prestes a falar —, suas convidadas costumam ser bem escandalosas.

Então era disso que se tratava?

Diminui os passos no intuito de prolongar minha caminhada até o elevador e conseguir ver no que aquela conversa ia dar.

Eu sei, isso não era uma coisa legal de se fazer mas, convenhamos, a saia justa em que o garoto se encontrava era um tanto engraçada.

— Mas... — ele tentou se defender. A recepcionista levantou a mão, sinalizando para que ele parasse de falar.

— Os vizinhos já deram queixas sobre o barulho — ela ficou vermelha repentinamente —, e eu mesma já ouvi, senhor.

O homem inclinou a cabeça para o lado e levou uma das mãos até o braço da garota, acariciando o mesmo.

— Então é disso que se trata? — Ele usava uma entonação de voz diferente agora. — Você ouviu e está curiosa para saber o que fez as minhas convidadas gritarem daquele jeito?

Estava claro o que aquele garoto estava tentando fazer; ele estava seduzindo a recepcionista para se livrar de uma multa por poluição sonora.

E bota poluição nisso.

Fiz uma careta só de imaginar a cena.

A questão é: a recepcionista ia cair na lábia daquele cara?

Mas então, os seus olhos se desviaram do garoto parado à sua frente e se focaram em mim. À essa altura, eu já estava parada escutando a conversa dos dois descaradamente. Seus olhos se arregalaram tanto que eu fiquei com medo de que eles fossem saltar para fora. Dei às costas para os dois e apressei os passos para chegar até o elevador, constrangida por ter sido pega no flagra.

A curiosidade matou o gato, querida Alyssa.

O garoto que estava na recepção há pouco entrou no elevador também. Olhei para baixo, focando toda minha atenção no chão metálico do elevador.

— Olha só — o tal garoto se pronunciou —, veja se não é minha atriz preferida.

Não podia ser...

Franzi as sobrancelhas e olhei para ele.

— Você está me perseguindo? — Perguntei. Ele riu.

— Eu moro aqui — ele deu de ombros. — E você deveria parar de bisbilhotar a conversa dos outros.

Cruzei os braços.

— É meio difícil passar pela recepção sem notar um babaca seduzindo uma garota para se safar — argumentei.

— Bárbara — ele disse simplesmente.

— O quê? — Perguntei, sem entender.

— O nome dela é Bárbara — ele sorriu de lado, o piercing labial reluzindo.

— Inacreditável — bufei, batendo o pé impacientemente no chão.

Meu apartamento tinha que ficar no penúltimo andar?

Olhei para o lado discretamente, me deparando com um par de olhos me estudando.

— Vem cá... — limpei a garganta, nervosa em ter as orbes azuis do garoto focadas somente em mim. — Qual o seu nome?

Ele arqueou uma sobrancelha e seus lábios se estenderam em um sorriso convencido, uma covinha solitária surgindo em sua bochecha.

— Por que você quer saber? — Ele era muito irritante. — Ficou curiosa também?

Revirei os olhos, ignorando sua provocação.

— Hunter Evans — ele soltou, ficando em silêncio enquanto me encarava sugestivamente.

— Alyssa Hawley — falei, incerta.

O garoto moreno me estendeu a mão, sorrindo de forma maliciosa quando eu aceitei seu toque.

— É um prazer te conhecer, Alyssa.

E dessa forma eu havia, mesmo que inconscientemente, acabado de me apresentar ao próprio diabo. Deixando que ele soubesse meu nome e o escrevesse em sua lista particular de pecadores.

E esse talvez tenha sido o primeiro dos meus muitos erros.

Porque, Hunter, você me levaria ao inferno com toda sua profanação.

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