03 | Fingimentos & egos inflados

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"Veja o que você fez

Estou ficando dormente

Eu estou ficando entorpecida, querido"

Numb To The Feeling, Chase Atlantic.

Foram três longas aulas preenchidas por comentários de prestígio sobre a faculdade e seus alunos exemplares. Lembrei-me da noite de sábado, quando o garoto moreno prensou o outro rapaz na parede.

Alunos exemplares. Quis rir.

Cora me cutucou, chamando minha atenção.

— Ele fazia um oral de matar — ela comentou, se referindo ao garoto ruivo da boate.

Revirei os olhos. Ela estava claramente entediada e resolveu preencher os últimos minutos restantes de palestra com comentários sexuais.

— Não estou vendo nenhum velório —debochei, séria.

— Você é amargurada assim porque nunca chegou lá — ela me alfinetou.

— Não é verdade.

Eu já havia chego lá. Sozinha.

— Não é a mesma coisa — Cora cochichava. — O imprestável do Nick não serviu nem pra isso.

A menção do meu ex namorado fez meu corpo tremer. Apertei os olhos, afastando as lembranças ruins.

— Ele tentava — tentei evitar, mas acabei rindo.

— Você tinha que fingir e inflar o ego daquele imbecil! — Ela exclamou.

A censurei com os olhos e ambas caímos na gargalhada, como se o peso das lembranças que o meu antigo relacionamento carregava fossem engraçadas.

Elas eram tudo, menos engraçadas.

— O oral daquele ruivo poderia mesmo ter te matado.

Cora levou a mão ao peito com um ressentimento falso estampado no rosto.

— Você não viveria sem mim.

O sinal soou, interrompendo o homem grisalho e fadigado que falava sem parar. Todos levantaram simultaneamente e se dirigiram à saída da sala.

Cora andava mais à frente e eu, por conta do aglomerado de pessoas, acabei ficando para trás. Logo a silhueta da minha amiga e seus cabelos azuis desapareceram do meu campo de visão.

Tirei o celular do bolso.

Alyssa Hawley:
Cora, onde você está?

Apertei em enviar e continuei andando, os olhos presos à tela enquanto eu esperava por uma resposta de Cora. Esbarrei em alguém no caminho, no entanto. Meu celular, com o impacto, fora parar no chão.

Inferno! — Praguejei, me abaixando para juntar o aparelho do chão. — Você é cego ou...

Parei de falar assim que levantei a cabeça e o vi.

Seus glóbulos azuis estavam atentos, porém, sem nenhum vestígio de interesse.

— Quem estava andando por aí mexendo no celular era você — ele deu de ombros. — Ou você vai fingir que eu estou errado? Ouvi dizer que você é boa em fingir.

— O quê? — perguntei.

Que cara mais sem noção.

Fingir? Do que ele está falando?

— Ah, entendi. Você vai se fingir de desentendida — ele falou, abrindo um sorriso de lado.

Uma pequena argola pendia no seu lábio inferior. Ele umedeceu a boca avermelhada com a língua, convencido por ter toda a minha atenção direcionada àquele lugar em específico.

— Vá se ferrar — soltei, logo após recobrar a sanidade.

O fuzilei com o olhar, esbarrando em seu ombro propositalmente quando continuei andando.

— Não finja que você não gostou de mim, Docinho — ele falou mais alto enquanto eu me afastava.

Ergui o dedo do meio para ele e o ouvi gargalhar.

E rindo daquele jeito você parecia inofensivo, Hunter. A presa ao invés do predador.

Mas eu estava equivocada em relação à isso. Em relação a você.

Quem seria caçada e destroçada seria eu.

Você era um predador nato, e eu, a sua próxima vítima.

Crossroad (EM REVISÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora